O BOMBARDEAMENTO ORDENADO POR BIDEN DÁ AS BOAS-VINDAS AO PAPA NO IRAQUE, de ALBERTO NEGRI e TOMMASO DI FRANCESCO

 

Obrigado à wikipedia

 

 

Biden bombardante dà il benvenuto al papa in Iraq, por Alberto Negri e Tommaso de Francesco

Il Manifesto, 27 de Fevereiro de 2021

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

 

Biden dá as boas vindas ao Papa no Iraque com bombas

A América está de volta. E não há como esconder que Biden é o emblema de alguns dos grandes fracassos internacionais dos Democratas durante os anos Obama, Hillary Clinton e Kerry (“o Sr. Clima”), anos em que ele foi um vice-presidente mais conhecido pelas suas gafes

Joe Biden © Lapresse

 

É claro que o mundo é estranho. A “esperança democrática”, o católico Joe Biden, exatamente como Donald Trump, põe a mão na arma e bombardeia a Síria, precisamente nas vésperas da visita do Papa ao Iraque a 5 de Março. Uma viagem durante a qual também se espera que o Papa Francisco se encontre com a mais alta autoridade religiosa iraquiana, o Grande Ayatollah Ali Sistani, que em 2014 tinha dado a sua bênção às milícias xiitas para liderar a luta contra os degoladores do ISIS  e que foram essenciais na libertação de Mossul, uma cidade muçulmana e mártir cristã que o Papa deverá visitar dentro de poucos dias na sua missão  de visita ao Iraque.

Agora as rusgas americanas arriscam-se a “aconselhar”, senão mesmo a admoestar fortemente, que o clima não deve ser exatamente um clima de paz. O mundo é realmente estranho: a agenda não deveria ser a guerra, mas a emergência sanitária no Covid 19. E então Biden ainda não se deu bem conta do desastre da democracia americana assaltada por “terroristas domésticos ” – como ele lhes  chamou – que fizeram estragos ao Congresso, mas já  começou  a descarregar a crise interna, “exportando” a democracia com armas.

Desta vez Biden está a atacar um pouco ao acaso, apesar de ter morto mais de vinte pessoas entre as milícias pró-chiitas, aqueles que apoiaram Assad e o governo iraquiano na derrota do Califado, que ainda está perigosamente em ação nas fronteiras entre a Síria e o Iraque. No ano passado foi Trump quem atacou no Médio Oriente ao matar o General iraniano Qassem Soleimani em Bagdade, agora é Biden: mas já podíamos esperar isso de um presidente que em 2003 votou a favor do ataque de Bush filho  ao Iraque.

Biden  é um tipo contraditório. Por um lado, ele gostaria de retomar as negociações com Teerão sobre o acordo nuclear de 2015 pretendido por Obama e cancelado por Trump em 2018, mas ao mesmo tempo bombardeia os aliados do Irão culpados, segundo os americanos, de terem atingido a base dos EUA no Iraque e o aeroporto de Erbil e do Curdistão iraquiano. É claro que tudo acontece sem uma réstia de prova. Mas isto também faz parte do “padrão duplo” do Médio Oriente: americanos e israelitas não têm de provar nada, o que fazem é sempre correto.

É bom que Biden se tenha apresentado aos europeus como o campeão do multilateralismo e dos direitos humanos, atacando a Rússia e a China: com estas premissas, no mínimo, devia matar com um drone  até o príncipe saudita Mohammed bin Salman uma vez que, segundo a CIA, está por detrás do assassinato do jornalista Khashoggi. E enquanto esperamos – mas será que vai mesmo chegar? – o relatório da CIA que o prova, há notícias de uma chamada telefónica “suavizante” de Biden para o rei Salman sobre os crimes do seu filho herdeiro.

De facto, pesando sobre as boas e vacilantes intenções tremidas de Biden está o Pacto Abraâmico entre Israel e as monarquias do Golfo, sobre o qual até o novo presidente, tal como Trump,  tanto se preocupa. E não se esconde o facto de Biden ser o emblema de alguns dos fracassos internacionais dos Democratas durante os anos Obama, Hillary Clinton e Kerry (“o senhor  Clima”), quando era vice-presidente conhecido sobretudo pelas suas  gafes.

A prova viva destes fracassos é o seu próprio homem forte, o General Lloyd J. Austin, o atual chefe do Pentágono que ontem disse estar confiante “que fizemos a coisa certa ao atacar as milícias xiitas” que negam qualquer envolvimento nos ataques no Iraque. Em frente ao Senado em 2015, o General Austin, então comandante do Centcom, o comando militar do Médio Oriente, admitiu ter gasto 500 milhões de dólares para treinar e armar apenas algumas dezenas de milicianos sírios dos 15.000 planeados para combater o Isis –  que se apropriaram de todo aquele precioso armamento americano.

Austin também testemunhou que o plano de Timber Sycamore  dotado de um orçamento de mil milhões de dólares da CIA para expulsar Assad do poder tinha sido iniciado na Jordânia, depois dizimado pelos bombardeamentos russos e cancelado em meados de 2017.

O General Austin provocou a irritação e a hilaridade dos americanos ao descobrir uma série de fracassos terríveis dignos de uma república das bananas. Mas há pouco para rir quando se pensa em todas as catástrofes que os EUA têm feito na região. Por exemplo, a decisão de retirar o contingente americano do Iraque: depois de destruir um país com bombardeamentos e a invasão de 2003 para derrubar Saddam Hussein – levando milhões de seres humanos a fugir do país – com base nas mentiras sobre as armas de destruição  em massa  do Iraque, abandonou-o à sua sorte, sabendo muito bem que não tinha os meios para se manter de pé. Austin concordou com as políticas de Obama e Clinton.

Em 2014, o Iraque foi esmagado pela ascensão do Califado, que depois de ocupar Mossul, a segunda cidade do país, estava também prestes a tomar Bagdade: o exército iraquiano estava em desordem e foi o general iraniano Qassem Soleimani, com milícias xiitas, que salvou a capital. E Soleimani foi morto por um drone  americano em Bagdad. Pior ainda foi o que aconteceu na Síria após a revolta de 2011 contra Assad. A guerra civil transformou-se rapidamente numa guerra por procuração e os Estados Unidos, liderados por Hillary Clinton, deram luz verde a Erdogan e às monarquias do Golfo, incluindo o Qatar, para apoiar os rebeldes e os jihadistas que supostamente iriam derrubar o regime.

Como se revelou é bem conhecido: os jihadistas invadiram a Síria e depois inspiraram ataques por toda a Europa enquanto Assad ainda está em vigor com o apoio do Irão e especialmente da Rússia de Putin que entrou na guerra a 30 de Setembro de 2015, bombardeando as regiões de Homs e Hama. Algumas horas antes, Obama tinha-se aberto ao papel de Putin na Síria, encontrando-se com ele à margem da Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque.

Nesta história fracassada, Biden desempenhou um papel mesmo que não um papel de liderança: e hoje, na Síria, está a fazer o papel de pistoleiro ao acolher o papa com um barulhento “bem-vindo ao Médio Oriente”.

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Para ler este texto no original clique em:

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