“TRIBUTO AOS DOENTES COM VIH/SIDA DO HOSPITAL DE CURRY CABRAL” LIVRO DE JOÃO MACHADO por Clara Castilho

O livro “Tributo aos Doentes com VIH/SIDA do Hospital Curry Cabral” foi apresentado no passado dia 24 de novembro, em Lisboa, pela Doutora Graça Freitas, Diretora-Geral da Saúde. É-nos trazido pela Edições Colibri.

Explica o autor, o médico João Machado:

“No 40.º aniversário da epidemia por VIH/ /SIDA e com a pandemia por COVID-19 com atividade mais reduzida, mas ainda incerta, também posso dizer, como Donald Kotler, gastroenterologista de Nova Iorque: “talvez, apenas tive o azar de ter que encarar os portões do inferno duas vezes na carreira”.

Não hão-de deixar de se acumular análises e testemunhos sobre a atual pandemia por COVID-19, a qual, infelizmente, polarizada pela rivalidade geopolítica, desencadeou um impacto brutal na economia e uma disrupção sem paralelo nas estruturas de saúde.

A epidemia por VIH/SIDA, da qual fomos testemunhas, ocorreu igualmente à escala planetária, atingiu 60 milhões de indivíduos, desde o seu início, e, até ao final de 2019, já tirou a vida a mais de 32 milhões de pessoas, em todo o mundo – mas teve características muito diferentes.

[…] Éramos apenas médicos em graus diferentes da carreira. (…) Diariamente, havia muita urticária para com os comportamentos de risco! Mas havia também perseverança e humanismo.”

Enquadrado o tema, mergulho na sua leitura. Os termos técnicos da doença passo-os em frente, não os entendo, mas percebo o seu interesse para um público que com eles possa aprender. Fico-me pela relação humana que subjaz aos casos apresentados. Fico-me pela reflexão que vou fazendo a partir das memórias dos momentos sociais que vai atravessando. Fico-me pela pessoa que João Machado se vai revelando:

“Hoje, quando revejo erros, êxitos, constrangimentos, consigo reconhecer a importância da capacidade mágica do diagnóstico, da disponibilidade, das palavras certeiras, da empatia e da compreensão de cada instante. Mas, muitas vezes, ficamos pelo que é possível e somos incapazes de fazer o que é necessário. Com o R.F. comecei a compreender o papel de provedor do doente…”

Sei o que é não esquecer os doentes ao fim do horário de trabalho, sei o que é ficarem a fazer parte da nossa vida, das nossas memórias. Pela angústia que sentimos por não conseguir fazer mais; pela cumplicidade gerada; pela alegria dos êxitos, por vezes (poucas, é certo…) pelas gargalhadas que ainda conseguimos trocar. Tudo isto consigo imaginar no correr dos casos que são relatados.

E sofremos com os que se envergonhavam da sua doença e não conseguiam contar o momento do contágio. E sofremos com a aversão da família e da sociedade para com os portadores de VIH/SIDA. E sofremos não tanto pela falta de resposta médica, que essa foi-se descobrindo, mas pela falta de resposta a nível social, pelo isolamento e falta de apoio de alguns dos doentes.

Ao correr do livro vamo-nos alegrando com as descobertas científicas, entre elas o sucesso da interrupção da transmissão mãe-filho, vamos percebendo a complexidade da doença.

É prestada uma homenagem ao Dr. Rui Proença, sem esquecer diversas enfermeiras que foram sólidos suportes de muitos dos doentes internados.

Fico a pensar que, se um dia tiver um grave problema de saúde, gostaria de encontrar no atendimento alguém com o perfil do Dr. João Machado…

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