Ana Luísa Amaral, a poetisa para quem
– a poesia não se compadece com velocidade e a arte não se compadece com velocidade (1)
– a poesia pode fazer as pessoas melhores, porque nos move e nos comove.
– é absolutamente fundamental escrever, tal como precisa de beber água ou como precisa de ler.
– gostaria de ver escrito no seu epitáfio “Deixa uma filha maravilhosa, amigos e poemas. Leva saudades.” (2)
Ana Luísa Amaral, a poetisa que
– achava que as palavras que sua filha indicaria como as que melhor a definiam seriam “indignação e inquietação”.
– tinha dificuldade em falar de beijos e de cebolas
– detestava que mandassem nela. (3)
– ficou estupefata com a atribuição do Prémio Rainha Sofia de Literatura Ibero-Americana.
– não acreditava numa visão radical, para a qual só as mulheres podem ser feministas e só os negros podem escrever sobre o racismo. (4)
Licenciada em Germânicas e doutorada em Literatura Norte-Americana pela FLUP, Ana Luísa Amaral era investigadora nos campos da Literatura e Cultura Inglesa e Americana. Foi estudiosa apaixonada da obra de Emily Dickinson e distinguiu-se como referência internacional nos Estudos Feministas.
A sua obra poética foi este ano reunida no extenso volume O Olhar Diagonal das Coisas. Revelada nos anos 90 com Minha Senhora de Quê, seguiram-se Coisas de Partir (1993); Epopeias (1994); E Muitos os Caminhos (1995); Às Vezes o Paraíso (1998); Imagens (2000); Imagias (2002); A Arte de Ser Tigre (2003); Poesia Reunida – 1990-2005 (2005); A génese do amor (2005); Entre dois rios e outras noites (2008); Se fosse um intervalo (2009); Inversos; Poesia 1990-2010, ( 2010); Vozes ( 2011); Próspero Morreu (poema em acto) ( 2011); Ara (2013); Escuro (2014); E Todavia (2015); What’s in a name (2017); Arder a Palavra e outros incêndios ( 018); Ágora (2019); Mundo ( 2021).
De referir ainda a sua literatura para a infância e as suas traduções. Destacam-se os livros na sua área de especialidade como Dicionário de Crítica Feminista, em coautoria com Ana Gabriela Macedo, e a edição anotada de Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. Foi pioneira dos Estudos Femininos no nosso país. Os seus livros estão traduzidos nas mais diversas línguas.
Foi distinguida com vários Prémios (Prémio Literário Casino da Póvoa/Correntes D’Escritas (2007); Prémio de Poesia Giuseppe Acerbi (2007) Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (2008), Prémio Francisco Sá de Miranda)
ABANDONOS
Deixei um livro
num banco de jardim:
um despropósito
Mas não foi por acaso
que lá deixei o livro, embora o sol estivesse quase
a pôr-se, e o mar que não se via do jardim
brilhasse mais
Porque a terra, de facto, era terra interior,
e não havia mar, mas só planície,
e à minha frente: um tempo de sorriso
a desenhar-se em lume,
e o mar que não se via (como dizia atrás)
era um caso tão sério, e ao mesmo tempo
de uma tal leveza, que o livro:
só ideia
Essa sim, por acaso, surgida num comboio
e nem sequer foi minha, mas de alguém
que muito gentilmente ma cedeu,
e criticando os tempos, mais tornados
que ventos, pouco livres
E ela surgiu, gratuita,
pura ideia,
dizendo que estes tempos exigiam assim:
um livro abandonado
num banco de jardim
E assim se fez,
entre o comboio cruzando este papel
impróprio para livro,
e o tempo do sorriso
(que aqui, nem de propósito,
existe mesmo, juro, e o lume de que falo mais acima,
o mar que não se vê, nem com mais nada rima,
e o banco de jardim,
onde desejo ter deixado o livro,
mas só se avista no poema, e livre,
horizontal
daqui)
WHAT’S IN. A NAME , Assírio e Alvim
Não abandonemos a sua obra!
Veja esta interessante entrevista:
http://https://www.rtp.pt/play/p9766/e634310/grande-entrevista