Os filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer, forçados a fugir da Alemanha nazi em 1933, garantiram na sua obra maior, ‘Dialéctica do Esclarecimento’, abordando o tema sempre candente da cultura e do entretimento, tiveram o cuidado de salientar, ‘a fusão entre os doisnão se realiza apenas como depravação da cultura, mas igualmente como espiritualização forçada da diversão’, transformando os mass media, fundamentalmente o ecrã, no poder onde se alicerça a ideologia de mercado.
Ali está a anulação da ‘vontade e da escolha’ de cada um, com as receitas homogeneizadoras que procuram o conformismo e a instauração de rotinas ideológicas, onde o consumismo tem sempre o papel central; a afirmação, feita já nos anos cinquenta, foi reforçada pelo filósofo grego Castoriadis ‘O seu actual triunfo reside no facto de vivermos numa época de conformismo generalizado, não só no que diz respeito ao consumo, mas também à política, às ideias, à cultura, etc.’, na obra ‘A ascenção da insignificância’.
Não parece a melhor forma de começar a falar de pensões, de reformas, de tudo o que ainda permite a alguns, nas bordas dos limites do ‘prazo de validade’, conseguirem olhar os dias com a confiança num ‘contrato’ assinado com o Estado, para o qual se prepararam durante anos. Sabem bem que o poder de compra dos portugueses já desceu mais de 3% este ano, a maior descida desde a ‘austeridade’ dos tempos da ‘troika’, e uma das maiores da OCDE, de acordo com as notícias já de Junho passado.
Mas sei também, de acordo com um relatório da Oxfam Intermón, uma confederação de vinte instituições de caridade independentes de todo o mundo, que em 33 horas há um novo milhão de pobres e em 30 horas aparece um novo milionário. Dados tomados desde o início da pandemia e não parecem ter mudado muito desde que Adão e Eva saíram do Paraíso e ele se assumiu como o dono da economia do casal.
Parece, portanto, que os pobres estão a mais e nem no céu deverão ter lugar; um ministro do Interior de um governo africano, atreveu-se a dizer em voz alta, que os pobres não têm lugar no céu, por insultarem o Senhor com a sua preguiça e as suas queixas de todos os dias, aliás o que muitos também pensam, mas não dizem, tanto em África como noutro continente qualquer deste mundo, sujeitado ao ‘cilindro’ esmagador das finanças e da economia.
De qualquer maneira está aberta a discussão entre os que defendem que vai haver corte nas pensões, os que dizem o contrário e os que afirmam que tudo depende do cálculo das pensões para o futuro; futuro que me parece bem definido por um bloguista do ‘Entre as brumas da memória’, no dia 7 do corrente, ‘Os principais beneficiados com a antecipação da meia pensão para Outubro são os pensionistas que vão morrer em Novembro ou em Dezembro deste ano. Esses já não receberiam nenhuma pensão de 2023 e, desta forma, ainda recebem em Outubro meia pensão de 2023’.
E termino como comecei, com a dupla de filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer, ‘A cultura é uma mercadoria paradoxal, está tão completamente submetida à lei da troca e se confunde tão cegamente o seu uso, que ela se funde com a publicidade’.
E ao olhar em volta, devemos perguntar-nos muitas vezes se não estamos já a viver uma nova transformação, a do homo videns em homo ecranis!
António M. Oliveira
Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor