Era uma vez uma Cidade Estado, situada num dos cantos do planeta, a que chamavam Corja dos Pulhas. Perguntado, ninguém admitia saber como surgira tão peculiar nome. Nela viviam cerca de novecentas mil pessoas, governadas por uma elite política que se autodividia em partidos, partidinhos, grupos e grupelhos, que raramente se entendiam, e que viviam dos dinheiros públicos. Conta a História que nos últimos duzentos anos, em ciclos de aproximadamente cinquenta, uns ciclos melhores que outros, outros consideravelmente piores, muitas foram as bancarrotas que levaram a Cidade a ter de pedir esmolas a terceiros. Os habitantes habituaram-se a esse modo de vida e aos subterfúgios dos mais espertos para, contornando as leis que sempre existiram, viverem melhor. A dada altura, as diferenças entre os que mais tinham e os que menos possuíam chegou a ser astronómicamente obscena.
As gentes deste lugar, submissas, dóceis e humildes, maioritariamente amedrontadas, na esperança de, como retribuição da sua complacência, acabarem por vir a ter um lugarzito na administração partidária, ou outro qualquer benefício, nem que fosse um aumento nas remunerações no valor de um quarto da inflação registada no ano anterior, ou até mesmo e só, de umas palavrinhas de esperança no dia de amanhã, ditas pelo companheiro mor, tudo aceitam de punho fechado e erguido.
Outras gentes, menos numerosas que as primeiras, sonham com o dia que nunca virá, já que aquando da dança das cadeiras os que para lá forem não serão melhores que os anteriores, e continuam a colocar as respectivas cruzes nos sítios costumeiros, esperando obter, com as mesmas atitudes e as mesmas acções, resultados diferentes.
E outras gentes ainda, diferentes das duas primeiras e em muito menor número que qualquer uma delas, gentes com Carácter e Sentido de Estado, lutam lutas pequeninas, falam e escrevem para alguns poucos desiludidos e sem força, sem nada conseguirem porque são sempre afastados dos lugares de decisão pelos que, amedrontados com as suas ideias, tudo fazem para os impedir de as explanar e concretizar, uma vez que poderiam, um dia, vir a conseguir pôr as gentes todas a ver e a compreender o que se passa à volta delas.
Até que, uma vez mais algo começou a mudar, e as gentes começaram a olhar com outros olhos para os mandantes da sua Cidade. A elite política começou a ser escrutinada sem que se olhasse para o emblema que traziam na lapela. A Polícia e os Tribunais ganharam cada vez mais independência e tudo passou a ser mais claro para aquelas pessoas. Todos os dias surgiam novos casos que até então se escondiam de toda a gente.
No fundo, um Pulha, é um Pulha, um Canalha desprezível e de mau carácter. Um conjunto de Pulhas, é um Bando, uma Corja, uma Súcia, uma Caterva. O que se vai passando, é um Nojo, faz Asco. A Ralé que nesta terra, anda a mandar sem saber, não passará de Escória, Vil Gentalha que por certo terá subido na horizontal ou em sacrificado percurso de joelhos, sem conhecimentos de agricultura, uma vez que nem os tomatitos cherry conseguem fazer medrar nos seus pensamentos mirrados ou nas suas carcomidas atitudes, magras e improductivas.
Chegados a este ponto, pouco resta à população desta terra imaginária, mas semelhante a tantas outras por esse mundo fora.