CANTO DA CELA 10, de CARLOS LOURES

 

Carlos Loures

Em Janeiro de 1965, envolvido na grande vaga de prisões que afectou estudantes e intelectuais das duas organizações clandestinas existentes – o Partido Comunista e a Frente de Acção Popular – fui preso e, antes de ir para a sede da polícia política onde, durante muitos dias, fui interrogado da forma que se sabe ou imagina, estive uns dias encarcerado na cela nº 10 do Aljube, num daqueles desumanos cárceres a que se chamava os «curros», celas estreitas e insalubres onde a luz filtrada através das grades e atravessando o corredor, era a única coisa agradável que acontecia. Quando, três meses depois, fui libertado, a recordação daqueles dias num «curro» do Aljube (que nem foram os piores…), ditou-me este texto que depois publiquei em A Voz e o Sangue. De notar, e não me canso de insistir neste tópico, que a Liberdade que invoco não é esta que vivemos – muito feita de «liberdades» – mas sim aquela que, há mais de 40 anos, eu e muitos sonhávamos alcançar.

 

Obrigado ao Cid Simões e ao Voar Fora De Asa

 

1 Comment

  1. E em Caxias nos encontrámos. Depois, a vida separou-nos até este episódio de evocação. Que se repita para além de morte.

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