Marriner Eccles, os New Dealers e a criação das Instituições de Bretton Woods — Parte III- Keynes versus Harry White — Texto 2. Bretton Woods – Declaração de John Maynard Keynes sobre o proposto Banco para a Reconstrução e Desenvolvimento

Nota de editor:

A parte III , Keynes versus Harry White, é constituída pelos seguintes textos:

Texto 1 – Porque é que foi White e não Keynes a inventar o sistema monetário internacional do pós-guerra, por James M. Boughton

Texto 2 – Bretton Woods – Declaração de John Maynard Keynes sobre o proposto Banco para a Reconstrução e Desenvolvimento

Texto 3 – Discurso de Henry Morgenthau, Jr., na Sessão Plenária Inaugural (1 de Julho de 1944) em Bretton Woods

Texto 4 – Discurso de Henry Morgenthau, Jr., na Sessão Plenária de Encerramento da Conferência de Bretton Woods (22 de Julho de 1944)

Texto 5 – Cooperação Financeira Global como um Legado de Bretton Woods, por Randal K. Quarles

 Texto 6 – A Batalha de Bretton Woods, Introdução, por Benn Steil

 Texto 7 – A história está feita, por Benn Steil

 Texto 8 – Os fundamentos esquecidos de Bretton Woods, por Eric Helleiner


Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

2 min de leitura

Parte III – Texto 2. Bretton Woods – Declaração de John Maynard Keynes sobre o proposto Banco para a Reconstrução e Desenvolvimento

Por John Maynard Keynes

Publicado por  Centre Virtuel de la Connaissance sur l’Europe, em 05/11/2012 (ver aqui)

 

Em 1944, no encerramento da conferência monetária de Bretton Woods (New Hampshire), John Maynard Keynes, célebre economista internacional e consultor financeiro do Tesouro Britânico, faz um discurso no qual salienta a necessidade urgente de criar um Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).

 

“Não direi que a criação do Banco para a Reconstrução e Desenvolvimento é mais importante do que a do Fundo Monetário, mas talvez seja mais urgente. O U.N.R.R.A. (Administração de Socorro e Reabilitação das Nações Unidas) para fornecerá os fundos necessários para a assistência e reabilitação nos dias imediatamente a seguir à libertação, mas não fornecerá financiamento para uma reconstrução mais permanente e para a restauração da indústria e da agricultura. Preencher esta lacuna é um dos principais objetivos do Banco em que temos vindo a trabalhar em Bretton Woods. O seu outro objetivo principal é o desenvolvimento das áreas menos desenvolvidas do mundo no interesse geral do nível de vida, das condições de trabalho, e da expansão do comércio internacional em todo mundo.

O capital que visamos e que esperamos vir a atingir é de £2.500 milhões. Posso dizer com confiança que o capital inicial do Banco não ficará aquém dos dois mil milhões de libras esterlinas. Este é um montante vasto em termos de empréstimos internacionais e deverá ser adequado a todos os requisitos adequados durante algum tempo. O Banco terá alguns princípios inovadores. Nos primeiros dias após a guerra, apenas alguns países e principalmente os Estados Unidos terão os recursos excedentários necessários disponíveis para investir no estrangeiro. Como poderemos nós então ajudar e como poderá o Banco tornar-se uma Instituição genuinamente internacional, enquanto apenas os países mais afortunadamente colocados podem encontrar grandes somas para investimento durante esses primeiros dias?

A proposta é que cabe a todos nós apoiar o crédito dos países devastados e subdesenvolvidos e assumir – cada um de nós – a nossa quota-parte para garantir os credores contra qualquer perda final. Existem muitas provisões cuidadosas para proteger os avalistas de perdas excessivas, mas o mundo inteiro juntar-se-á no que eu descreveria como um seguro de crédito mútuo, para assumir riscos que os investidores privados poderão não estar dispostos a correr com perspetivas de futuro tão incertas e precárias. Em regra, os empréstimos do Banco não tomarão a forma de dinheiro gratuito nas mãos do mutuário, que ele poderia usar e esbanjar como uma adição gratuita aos seus rendimentos, como tantas vezes aconteceu no passado.

Estarão vinculados a despesas no estrangeiro – em projetos específicos, que foram cuidadosamente examinados e aprovados. O termo projeto específico será amplamente interpretado e qualquer esquema adequado para a reconstrução da indústria na Europa libertada ou para um novo desenvolvimento será elegível. O local de despesa dos empréstimos assim garantidos não estará vinculado ao país em que os empréstimos são obtidos, mas estará disponível para compras em qualquer parte do mundo junto dos fabricantes mais capazes de satisfazer a procura. Mal posso exagerar os vastos benefícios que podem advir para o mundo deste grande projeto. Estarão disponíveis recursos para reconstruir as áreas libertadas. O poder de compra estará disponível para a produção dos fabricantes em todos os países fisicamente capazes de satisfazer a procura.

Será proporcionado um meio poderoso para ajudar a manter o equilíbrio na balança de pagamentos entre os países devedores e credores. Nunca houve uma proposta de tão grande alcance numa escala tão grande para proporcionar emprego no presente e aumentar a produtividade no futuro. Temos estado a trabalhar tranquilamente aqui, nos bosques e montanhas frescas de New Hampshire, e duvido que o mundo possa compreender a magnitude e a importância do que estamos a fazer nascer”.

 

 

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