NA VÉSPERA DE AGOSTO ATIRA-SE MILHO AOS PARDAIS — OU PÃO SECO ANTES DO CIRCO ESTIVAL – por CARLOS MATOS GOMES

 

Agosto é entre muitas outras coisas o mês do esquecimento: os problemas ficam esquecidos, assim como as más notícias. O final de Julho é a época de colocar as “vergonhas” que não convém serem muito badaladas fora de portas. Até a Justiça realiza as suas últimas tropelias e se veraneia. Os bancos não escapam à regra de camuflar as garras. Logo os bancos! Este ano aproveitaram a última semana de Julho para anunciaram os seus feitos, os pornográficos lucros obtidos à custa de um sistema financeiro imposto pelos banqueiros aos povos e aos Estados.

O que deveria ser um crime de esbulho, de imposição de regras leoninas, de abuso de poder, é apresentado como sucesso em todo o mundo. Aqui em Portugal também. Antes de fazerem a mala para o Agosto na terra de origem, à beira mar, num parque de campismo, num quarto alugado, num hotel, os portugueses de todos os níveis rendimentos e classes receberam, as seguintes notícias bancárias, sem alarido, ou com o menos alarido possível:

“Maiores bancos com lucros acima de 950 milhões de euros”sapo.pt

“Banca. Lucros do primeiro semestre rondam os dois mil …”RTP

“O “super ano” dos bancos: mais de 2.000 milhões de lucros …” -CNN (delegação portuguesa na TVI)

“Aumento das taxas de juro leva lucros da banca para mil milhões”Abril, Abril

“Lucro do BCP dispara mais de 500% para 423 milhões … “ –sapo.pt (07/07/2023)

“Lucro do Novo Banco sobe 39,9% no primeiro semestreO Novo Banco apresenta um resultado líquido de 373,2 milhões de euros (1.º trimestre: 148,4 milhões de euros; 2.º trimestre: 224,8 milhões de euros), demonstrativo da evolução sustentada do negócio e da capacidade de geração de receita e de capital”, refere a entidade em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). No período em análise, primeiro semestre, a margem financeira ascendeu a 524 milhões de euros, mais 95,5% em termos homólogos.”SIC Notícias 28/07/2023

“Lucro do BPI aumenta 26% para 256 milhões de euros até junho “- Banca & Finanças

“Lucros da CGD sobem 25% no semestre para 608 milhões”Jornal de Negócios

“Lucros do Montepio mais que triplicam, para 35,3 milhões, com subida da Euribor. Margem financeira cresceu 70,4%, beneficiando do aumento das taxas de juro, mas depósitos e créditos diminuíram”.Público

Em 2008 a situação em que os bancos, o sistema financeiro e bancário colocaram os cidadãos, foi de crise e empobrecimento. A chamada crise do subprime obrigou os Estados, os contribuintes e cidadãos em geral a pagar as más práticas (os crimes) dos bancos.

Um exemplo da internet, do Público, com uma notícia da Lusa de 23 de Dezembro de 2008: “O ano da crise que obrigou estados a voltar a intervir na economia. 2008: O ano da crise que obrigou estados a voltar a intervir na economia.

As consequências imediatas deste colapso (o colapso do sistema de aliciação dos bancos para a contração de empréstimos sem garantias, uma burla gigantesca) ficariam restritas ao sector bancário norte-americano, porém, se o risco não se encontrasse disperso por todo o sistema financeiro internacional (a dolarização imposta pelos EUA). O risco do ‘subprime’ passou a ser partilhado não só pelos bancos norte-americanos que concederam os empréstimos, como também pelos seus congéneres europeus e asiáticos que compraram estes activos ‘tóxicos’, bem como por todo o tipo de investidores institucionais (seguradoras, fundos de investimento, etc).”

Os cidadãos de todo o mundo foram obrigados a pagar a criminosa burla do subprime, o BCE colaborou com ela impondo regras draconianas aos bancos nacionais e aos Estados (a troika em Portugal e na Grécia, p.ex). Em Portugal o maior estoiro foi o do BES, mas há também o Banco Privado e os casos de aproveitamento do tipo gangster do BPN e do BANIF.

Agora, após a lição do subprime, o sistema bancário com sede nos EUA (a Reserva Federal (FED)) precaveu-se e antecipou o combate à inflação que a guerra na Ucrânia e o surgimento da moeda dos Brics irá provocar no “Ocidente Alargado”, na verdade o “Ocidente Dolarizado” decretando aumentos brutais de taxas de juro, que permitem aos bancos privados acumular reservas, de jogar com as taxas de juro, tudo à custa dos cidadãos.

Para já, a ligeira descida de inflação provocada nos bens de consumo pelo aumento das taxas de juro, as pessoas gastam menos, tem um efeito devastador no mercado da habitação, como se está a ver, que será pago por proprietários, arrendatários, por hipotecários e até por sem abrigo (contando nestes os jovens e menos jovens que necessitam de casa para uma vida autónoma). Mas a médio prazo o aumento das taxas de juro provocará uma deflação, isto é uma diminuição na atividade económica ainda por quantificar. Vender-se-á e comprar-se-á muito menos, as falências aumentarão e com elas os desempregados.

Era a boa altura, se os banqueiros tivessem princípios e não mãos de rapinar e instinto de predadores que se atiram a tudo o que brilha, sem cuidar das consequências futuras, colaborarem com a atenuação das consequências das suas políticas. Era também altura de os políticos eleitos se atravessarem impondo a vontade e as necessidades dos eleitores. Era altura de pensar numa ordem mundial plural e não hegemónica. Mas isso ia contra a manutenção do poder da banca e das indústrias de guerra e de manipulação civilizacional — a imposição de um pensamento e de um modelo de comportamento únicos.

Era…

Entretanto, antes destas férias, aqui em Portugal, os banqueiros e o “sistema” entretêm-nos através dos seus meios de manipulação com a sala de partos dos vários hospitais, com as greves dos seus sindicatos (há os que o são deliberadamente, outros por serem idiotas úteis), com o futebol e respetivos negócios, com os colóides fecais nas praias e com as alforrecas, com os incêndios, embora o tempo não tenha ajudado, com as peregrinações e a eterna questão dos professores, e jamais com a dos alunos e com a educação, com as diatribes do juiz Alexandre, a pensão do Pinho, com o helicóptero do Pereira da Altice e com os namoros dos famosos.

Em vez de um roubo de proporções catastróficas e globais, os bancos impingem-nos fait-divers. Pão seco e circo.

 

 


Pode ler este artigo de Carlos Matos Gomes em Medium clicando em:

Na véspera de Agosto atira-se milho aos pardais — ou pão seco antes do circo estival | by Carlos Matos Gomes | Jul, 2023 | Medium

Leave a Reply