O PRAGMATISMO DE MEC E OS MORALISTAS, por CARLOS MATOS GOMES

 

O texto de Miguel Esteves Cardoso no Público de 05/08/23 é puro senso. Sendo simples e puro senso é uma pérola, um objeto extravagante. Uma análise da situação atual do mundo e da sua história revela como o senso continua a ser uma qualidade rara e a insensatez — tantas vezes associada ao moralismo — a ser apresentada como virtude que incorpora desde o patriotismo ao martírio.

Escreveu MEC: “O disparate de hoje (de sempre) tenta combater uma das desigualdades mais terríveis: a desigualdade da força física. (…) os animais mais fracos não atacam os mais fortes — têm medo (…) Dizemos que os fortes são mais cobardes do que os fracos porque batem sem medo de levar, mas é mentira. É também mentira que os fracos são menos violentos do que os fortes…”

Miguel Esteves Cardoso é um pragmático — a natureza tem as suas leis e as leis da natureza não são morais. O leão não ataca a gazela por ser mau e corajoso e a gazela não foge por ser boa e cobarde. O idealismo não altera a natureza. Lembro-me de que se comemora por estes dias a campanha que conduziu à batalha de Alcácer Quibir, uma típica ação idealista, a prova de que a fé não altera a realidade da correlação de forças: uma tropa mal preparada, mal comandada, desadequadamente equipada para o combate, num ambiente desfavorável, o deserto no Verão, foi vencida por outra conhecedora e adaptada ao meio.

Julgo ser brasileiro o ditado: «Não se deve cutucar onça com vara curta.» Isto é, não se deve provocar um ser mais forte sem meios para o fazer em segurança. Este é o pragmatismo que o texto de Miguel Esteves Cardoso expressa e que pode ser utilizada para apreciar a condução da guerra na Ucrânia: os Estados Unidos utilizaram a Ucrânia para provocar a Rússia e separar esta da Europa Ocidental, que consideram sua coutada. A Ucrânia e a Europa, Zelenski e Van den Leyein foram (estão a ser, prestaram-se a ser) a vara curta utilizada para espicaçar a onça, ou o urso. Assunto arrumado.

Resta o que podia ser a segunda parte do artigo de Miguel Esteves Cardoso sobre a desigualdade de força física, que também deu origem a um ditado resultante do senso: os cães grandes não se matam (nem os touros, nem os elefantes). Lutam por território e fêmeas e estabelecem acordos que lhes permitem sobreviver. Tal como os humanos, os mais fortes dos animais regem as suas relações baseadas na análise que fazem das suas forças e das dos seus adversários. Os dirigentes das grandes potências realizam as suas avaliações de oportunidades de luta baseados nos mesmos princípios, o resto é “arenga de feiticeiro”.


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O pragmatismo de MEC e os moralistas | by Carlos Matos Gomes | Aug, 2023 | Medium

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