CARLOS REIS – RAPSÓDIA EM BLUE, de GEORGE GERSHWIN – PROSA MUSICAL – ORQUESTRA SINFÓNICA DA COLUMBIA, dirigida por LEONARD BERNSTEIN

(1898 – 1937)

Desceu graciosamente do magnífico Daimler, aceitando a porta aberta e a expectativa respeitosa do motorista fardado. Já na rua, encaminhou-se pela mão do pai para a escadaria imensa que dava acesso ao palácio. Jovem debutante sem qualquer experiência,  musical ou outra, ali seria finalmente apresentada àquela sociedade da qual desejava ficar a fazer parte, uma parte importante, segundo todos esperavam, particularmente o seu pai.

Um grupo de jovens saxofones aproximou-se, com o intuito secreto de lhe serem apresentados e com a intenção mais secreta ainda, de dela se aperceberam melhor, de sentirem a sua feminilidade, o perfil suave das suas linhas melódicas, o charme que todos sabiam possuir. Sorriu delicadamente para todos, cumprimentou um velho fagote, amigo do tio que entretanto se aproximara e fazia as apresentações e sentiu-se mais à vontade, menos inibida, encetando até uma conversa amena com um trompete bem vestido, de uma elegância instrumental muito própria, que ia bem com os igualmente elegantes pistons que ostentava com naturalidade e sem qualquer pretensiosismo.

Cedo se daria conta, no entanto, da presença de um clarinete sóbrio, cavalheiro por natureza, com quem iria mais tarde fomentar e manter uma amizade sólida  –  um gentleman de ar grave e varonil, se assim se pode classificar a natureza deste importante protagonista e frequentador de todo aquele evento.

Já no final, todo o acontecimento musical ultrapassaria e em muito (dada a estética, a verve e a qualidade musicais inenarráveis) os aplausos  marcantes, sólidos, merecidos. Da história da música, ela ficaria a fazer parte, uma parte importante do panorama musical dos nossos dias. O seu nome estaria para sempre ligado ao de seu pai, natural artífice deste début.

Não poderemos nunca, por nunca, esquecer (apesar da sua aparente sobriedade) a presença importante, não ostensiva mas sempre latente, daquele que viria a revelar-se o companheiro da sua vida, a relação eterna, a felicidade sem definição.

É que, tal como nos contos de fadas, viveram de facto felizes para sempre  – a bela Rapsódia em Blue e o querido Swing – sob a égide, a bonomia e o sorriso rasgado do pai, George Gershwin, a quem dedico este despretensioso e desamplificado texto.

Carlos

Junho de 2005

Obrigado a Gilda Tabarez e ao youtube

Leia sobre esta obra e o seu autor clicando em:

George Gershwin – Wikipedia

George Gershwin | Biography, Songs, & Facts | Britannica

Rhapsody in Blue – Wikipedia

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