CARTA DE BRAGA – “de algoritmos e poemas” por António Oliveira

Parece já não haver dúvidas de que estamos a viver a quarta revolução industrial. 

Revolução marcada também por quatro alterações de características universais, a dar origem a outras quatro transformações sociológicas, todas dependentes das novas formas de energia, as renováveis, a informação, a automatização e a individuação aquele estar só, que elas permitem e a que obrigam-, já estão a impor-se em tudo o que é comunidade neste mundo mais actualizado, pois aquele outro ‘dos ninguém’, como o definia Eduardo Galeano, continua a não interessar aos senhores disto tudo. 

, no ‘dos ninguém’, não há nem sabem o que são plataformas digitais, não sabem o que é ser autónomo, empresário ou trabalhador por conta própria, nem sabem das aplicações nos telemóveis a indicar ‘trabalho a pedido’ e a qualquer hora, nem ter meio de transporte próprio para poder entregar pizzas ao domicílio, quando este nem sequer há, também não se sabe o que é um algoritmo e o que ele pode comandar;  ainda nem chegou a primeira revolução, pois ainda há muitos lugares onde se andam horas para se conseguir um balde de água. 

 foi bem caracterizado por Galeano no ‘Livro dos abraços’, porque 

Os funcionários não funcionam. Os políticos falam, mas não dizem. Os votantes votam, mas não escolhem. Os meios de informação desinformam.

Os centros de ensino ensinam a ignorar. Os juízes condenam as vítimas.

Os militares estão em guerra contra seus compatriotas. Os policiais não combatem os crimes, porque estão ocupados cometendo-os.

As bancarrotas são socializadas, os lucros são privatizados.

O dinheiro é mais livre que as pessoas. As pessoas estão a serviço das coisas”.

Mas esta Carta começa, de algum modo, a falar na importância do número quatro, apresentado por quem gosta de numerologia, de simbolismos e até de magias, como um número sólido e estável; um número que pertence também ao universo das mitologias, por lhe ter vinculado as quatro estações, os quatro elementos, os quatro evangelistas, os quatro cavaleiros da Apocalipse a propagar a morte pelos quatro pontos cardeais, mas que um tal Pitágoras esse o do teorema!filósofo e matemático, considerava o número perfeito, e até o usava para referir o nome de Deus. 

Num mundo marcado pelo negacionismo, por despenteados e descabelados mentais, e ainda por outros patuscos mais ou menos folclóricos, a querer aproveitar esta época de crises perigosas e variadas, são bem necessárias boas notícias que também as há, mas nunca nas primeiras páginas porque também eu, seguindo o que escreveu um dia Voltaire, ‘Resolvi ser feliz porque é melhor para a saúde’.

A reafirmar também este aforismo, o poeta e escritor Luís Castro Mendes, escreveu numa crónica no DN, ‘O nosso optimismo hoje, contrariamente ao do passado, põe as suas esperanças na imprevisibilidade dos acontecimentos e não num futuro determinado cientificamente, a levar-nos ao paraíso. Procuramos novos laços entre nós e a terra, como um lavrador que arasse minuciosamente o seu campo, na expetativa de uma semente desconhecida. E é por isso que falamos de poesia’. 

E um outro poeta e escritor, Antoni Puigverd, ajuntou num escrito noutro diário, ‘Nem Mozart superou a música das vozes e risos das crianças’.

Mas será que um algoritmo e quem os comanda, ‘entenderão a emoção de um poema?’, pergunta que se pode fazer numa altura que eles algoritmos e mandadores se cercam de barreiras onde morrem milhares todos os anos (e as crianças, Senhor?), daqueles que querem fugir de , onde não há nada, e até parece que não querem saber, nem entender, nem ver os dramas e as tragédias que tais barreiras não são capazes de negar. 

O que vale e para que serve um poema?

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

 

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