ADÃO CRUZ – REFLEXÃO SOBRE ÉTICA E EDUCAÇÃO SOCIAL

Todo o processo de aprendizagem vai interagir com a sociedade logo a partir do começo, pelo que a sociedade e a vida constituem, a par da escola e depois da escola, uma grande etapa. O ensino e a aprendizagem não se dão, e muito menos hoje, só nos âmbitos académicos. Aprende-se e ensina-se dentro e fora destes, mas sobretudo dentro da própria vida nos cenários do quotidiano.

Hoje, mais do que nunca, a ética encontra-se ligada a um apelo político e social perante clamorosas situações de crueldade, barbárie, injustiça, desigualdade e impunidade, adquirindo uma relevância social sem precedentes, como base de uma redefinição dos modelos das relações humanas. A postura ética da escola da vida obriga a incorporar todos os anseios sociais e políticos, a meditar sobre as suas causas e consequências, com vista a uma redobrada atenção à realidade no sentido de a humanizar, sem o que, toda a prática educativa da cidadania se torna estéril. A postura ética universal obriga a condenar a exploração do ser humano seja em que circunstâncias for, a falsificação e a mentira, o obscurantismo, a anulação da identidade, o espezinhamento dos fracos e indefesos, a discriminação por sexos, etnias, religiões, culturas e classes, a falsa moral, a corrupção a qualquer nível, o fatalismo ideológico e, acima de tudo, a degolação da paz e a barbaridade das guerras.

Não nos podemos assumir como sujeitos de educação, de procura, de decisão, de transformação, de roturas e de opções, se não nos assumirmos como sujeitos ético-sociais.

A cidadania, consciência de direitos, deveres e exercício da democracia deve tornar-se o eixo de toda a educação, nomeadamente da educação escolar, de modo a que o potencial de conhecimentos, práticas e valores que a envolvem integrem o homem adulto numa plena e saudável participação comunitária. A ética e a educação trabalham a par no processo de autorealização e autodeterminação do ser humano e na construção de uma sociedade saudável, mais dinâmica, mais verdadeira e eficaz, mais exigente nas suas nobres expressões, configuradas na verdade, na justiça, na paz e na beleza. Se o Homem não tem consciência de quem é, se não respeita a sua mais valiosa insígnia, o carácter, se não reconhece a sua estatura e o seu lugar na vida globalizante e por vezes atemorizante dos dias de hoje, dificilmente poderá criar dentro de si o sentido da identidade, da autonomia, da justiça e da liberdade, como requisito essencial nesta tão incerta e conflituosa contemporaneidade.

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