CARLOS MATOS GOMES – ELES NÃO TÊM PERDÃO!

 

O eles são os israelitas. Como já foram os nazis. Os israelitas, os seus chefes, tropas e indivíduos não têm perdão pelo genocídio que estão a cometer. Não é uma questão de julgamento moral, é uma conclusão racional. E não é minha, é de uma filósofa judia: Hanna Arendt.

Em «A condição humana» Arendt tece várias considerações na caraterização do perdão. Ela sustenta que o perdão, assim como a promessa, só possui realidade num contexto de pluralidade, uma vez que se baseiam em experiências que ninguém pode ter consigo mesmo e necessitam de outros. Ninguém se pode perdoar a si mesmo. Para Arendt, a descoberta do papel do perdão tal como o entendemos nas sociedades ocidentais deve-se a Jesus de Nazaré, e ela atribui mais importância ao facto dessa descoberta ter sido feita no âmbito da vida em comum das comunidades do que ao contexto religioso. A relevância atribuída por Jesus Cristo radicaria, segundo Arendt, na experiência política da vida comunitária e resultaria da necessidade e não da moral. Perdoar está associado ao facto de que na vida em comum a ofensa, ao contrário do crime e do mal voluntário, é uma ocorrência quotidiana, e para a vida social ser possível, para que a vida possa continuar e para se restabelecer a teia de relações, é necessário o perdão, desobrigando os homens daquilo que fizeram, desde que com a disposição para mudar de comportamento e recomeçar com uma nova atitude.

Assim, o perdão está em ligado à recomposição dos vínculos entre as pessoas quebrados por uma ofensa, mas também com a liberdade humana que se realiza na ação de perdoar. O perdão está no centro de toda a vida política, e Arendt entende o perdão como o exato oposto da vingança, uma vez que esta “enreda o agente indefinidamente num processo de ação e reação que o prende tanto a ele quanto à vítima”, ao passo que o perdão liberta das consequências da ofensa “tanto o que perdoa quanto o que é perdoado”.

Em «As origens do totalitarismo» Arendt conclui que o totalitarismo permitiu que descobríssemos que “existem crimes que os homens não podem punir nem perdoar”, na medida em que os que cometeram esses crimes se situam “além dos limites da própria solidariedade do pecado humano”. Esta conexão entre o imperdoável e o impunível reaparece em «A condição humana» nos seguintes termos: “ é um elemento estrutural no domínio dos assuntos humanos, que os homens não sejam capazes de perdoar aquilo que não podem punir, nem de punir o que se revelou imperdoável”.

Não há, como é visível, ninguém que possa ou queira punir Israel e os homens, não podem perdoar o que não podem punir. Israel não tem perdão!

Texto de apoio de Adriano Correia, Universidade Federal de Góias. A TRAJETÓRIA DO PERDÃO NA OBRA DE HANNAH ARENDT -2020

SciELO – Brasil – A TRAJETÓRIA DO PERDÃO NA OBRA DE HANNAH ARENDT A TRAJETÓRIA DO PERDÃO NA OBRA DE HANNAH ARENDT

 

 


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Eles não têm perdão!. O eles são os israelitas. Como já foram… | by Carlos Matos Gomes | Nov, 2023 | Medium

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