UMA CARTA DO PORTO – Por José Fernando Magalhães (551)

 

 

OBSCENIDADES

 

Vivemos num mundo onde as palavras e as acções obscenas parecem ter perdido o seu verdadeiro significado. Têm muito pouco de obsceno. O verdadeiro obsceno não está nas palavras ou gestos, mas sim na realidade que muitos são forçadas a enfrentar diariamente.

A obscenidade reside nos dias actuais, na vida difícil e cruel que tanta gente é obrigada a viver. A miséria, a fome, a guerra, a crueldade, a traição, o genocídio, a opressão, a injustiça, tudo isto é obsceno. É uma realidade que nos choca e nos entristece.

É obscena,

a imposição de certas normas sobre a forma como devemos viver as nossas vidas. Sentimo-nos aprisionados por regras que não escolhemos, que são impostas por alguns em detrimento dos desejos e vontades de muitos,

o não termos a liberdade de viver a vida que desejamos, de ter o trabalho que queremos, de nos deslocarmos para onde queremos, de ouvir a música que gostamos, de comer o tipo de comida que preferimos,

o não termos livre arbítrio sobre as nossas próprias vidas.

A obscenidade está presente em inúmeros aspectos da sociedade. Por trás de uma fachada de progresso e modernidade, encontramos uma realidade sombria e desconcertante.

É ainda e também obsceno,

O possuir riqueza individual imensa, quando tanta gente morre de fome,

o fabrico de armas para alimentar guerras,

a falta de empatia para com os mais desfavorecidos,

a deslealdade dos governantes para com o seu povo,

o lucro baseado na corrupção,

o tempo de miséria, fome, guerra, crueldade e deslealdade, que nos são quotidianos,

o acto de trair a confiança do outro, assim como os genocídios e opressões que ainda ocorrem,

a injustiça que prevalece em tantas esferas da sociedade e o desespero que consome tantas vidas,

o matar em nome da religião,

a calamidade que nos rodeia, assim como as superstições atávicas, a imposição de ideias retrógradas e controladoras e as formas modernas de inquisição, que cria um ambiente de medo e silencia qualquer voz discordante,

o ter quem mande em quem manda em nós, sem que tenha sido eleito ou sujeito a sufrágio,

e, no mundo que outrora era decidido pelas cores das bolas de pedra e ganhava a que simbolizava a luz, ter passado a vencer a da sua ausência.

Num mundo regido pela lógica do poder e do lucro, e pelas agendas daqueles que detêm as rédeas, a noção de liberdade individual é distorcida e, muitas vezes, ignorada. A verdadeira obscenidade não se encontra nas palavras maliciosas ou nos gestos considerados impróprios, e é importante não ficar indiferente a tudo o que se passa, bem escondido à vista de todos. Devemos lutar contra essas injustiças e trabalhar para criar uma sociedade mais justa e equilibrada. Devemos combater o desaparecimento dos nossos valores, que nos são impostos, e lutar pela nossa liberdade de escolha e de expressão.

É através da empatia e da solidariedade que podemos superar a obscenidade da nossa realidade atual. Cada um de nós tem o poder de fazer a diferença, de se posicionar e de lutar por uma sociedade mais equilibrada.

É um erro aceitar este estado de coisas como uma realidade inevitável. Devemos trabalhar para construir um mundo onde cada indivíduo tenha o direito de viver a vida que deseja, de forma livre e autêntica. Está na hora de enfrentar a verdadeira obscenidade que nos rodeia, e a que nos querem impor, e trabalhar incansavelmente para alcançar uma realidade onde a justiça, a igualdade e o respeito mútuo sejam a norma e os nossos valores, e onde a obscenidade seja apenas uma memória do passado.

Cada um de nós tem de ser a mudança que queremos ter. Neste cenário obscuro, encontraremos uma luz de esperança. Aqueles que ousam desafiar as imposições e lutar por um mundo mais justo são a voz da resistência, as pessoas que se recusam a aceitar a obscenidade do mundo e procuram uma mudança verdadeira, através da empatia, compaixão e solidariedade.

 

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APRESENTAÇÃO / LANÇAMENTO

NO DIA 9 DE DEZEMBRO DE 2023

 

 

A Secreta Vida das Palavras à Chuva

José Fernando Magalhães

Poesia 2023

Habitam em mim inúmeros mundos.
Foi um processo demorado estudá-los começar conhecê-los, pois foi necessário mergulhar num conhecimento mais profundo de mim,
indispensável para que pudesse vestir verdadeiramente minha própria essênciameu modo de ser de pensar.
Agora, uso-os com orgulho, denodo desassombro, convicto de que estou fazer as melhores mais ousadas escolhas.

Na prosa que escrevo, nas palavras que expresso, nas fotografias que capturo nos versos que componho, encontro minha liberdade.

Lançamento

9 de dezembro, sábado, 16h00

Orfeão da Foz do Douro (Rua das Motas 31, Foz do Douro, Porto)

 

 

2 Comments

  1. Uma crónica sentida e cheia de razão! As coisas que se vêem na rua. É angustiante mas uma pessoa não pode chegar a tudo! Bom lançamento !

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