A ANÁLISE AMERICANA DA ECONOMIA A NÍVEL MUNDIAL (EXCERTOS) (1) – UMA SÍNTESE por JÚLIO MARQUES MOTA

A análise Americana da Economia a nível mundial ( Excertos) [1]

PARTE III

(continuação)

A Economia Global

O crescimento económico global diminuiu em 2013. O FMI estima que a economia global irá expandir a uma taxa de apenas 2,9% em 2013, abaixo portanto da taxa de 3,2% em 2012, com o crescimento em baixa quer nas economias avançadas quer nas economias emergentes de mercado. O PIB em termos reais das economias avançadas é estimado a crescer à taxa de 1,2 por cento em 2013, em comparação com 1,5 por cento em 2012 e de 1,7 por cento em 2011, e esta descida é considerada como sendo devida principalmente à recessão na zona euro, a ter incidindo sobretudo no primeiro semestre de 2013. O PIB em termos reais é estimado ter estado a expandir-se em 4,5 por cento nos mercado emergentes e nas economias em desenvolvimento, abaixo portanto da taxa de 4,9 por cento em 2012 e de 6,2 por cento em 2011, resultante de uma  moderação no crescimento na China. O FMI estima que o ritmo de crescimento global venha a atingir em 2014 a taxa de 3,6%, reflectindo principalmente uma subida no crescimento das economias avançadas, crescimento este encabeçado pelos Estados Unidos e pela zona do euro a emergir da recessão, com um crescimento positivo numa base anual.

análise americana - I

Apesar de tudo, quatro anos após o início da recuperação da crise financeira, o PIB em muitas economias avançadas ainda está por atingir o valor que tinha antes do rebentamento da crise. Mesmo entre os países onde o PIB evoluiu acima dos níveis pré-crise, o crescimento permanece muito abaixo dos níveis implícitos nas tendências pré-crise. Só a Austrália, que teve a recessão mais suave entre as economias avançadas, tem tido uma robusta recuperação. Como já se observou,  há alguns sinais encorajadores quanto ao  crescimento do PIB real nos EUA que se espera venha a aumentar para perto de 3% em 2014, o crescimento irá acelerar no Reino Unido e no Canadá  e há sinais de que a longa recessão na zona euro está a chegar ao fim…

análise americana - II

O PIB em todas as principais economias emergentes de mercado expandiu-se para além de níveis anteriores à crise, mas o crescimento está a abrandar em muitas delas devido à redução dos estímulos de pós-crise  nas suas próprias economias, devido aos  preços mais baixos  das commodities e aos progressos limitados nas suas principais reformas. O FMI espera que a China vá estar sujeita a um crescimento mais lento de médio prazo, e com isso a reequilibrar a procura interna  com essa redução  na procura de bens de investimento. O crescimento do PIB real nas economias emergentes de mercado deverá aumentar modestamente para 5,1% em 2014.

análise americana - III

A sustentabilidade e o fortalecimento no crescimento da procura privada dos EUA tem sido um pilar de apoio à economia global  e a expectativa de aumento do crescimento dos EUA sobre o ano que vem é um factor importante nas perspectivas mais optimistas do FMI para 2014. Como resultado na melhoria das perspectivas económicas para os Estados Unidos, o Federal Reserve começou a considerar em tornar mais preciso e afinado o seu ritmo de flexibilização quantitativa. Embora o processo de normalização da política macroeconómica dos EUA, quando esta ocorre, pode ter repercussões [negativas]  nas outras economias, mas,  os benefícios de uma economia americana mais forte compensarão quaisquer tais impactos para a economia global.

Em Maio, muitas moedas dos países emergentes de mercado depreciaram-se e os seus mercados de títulos e de participações foram vendidas enquanto os rendimentos do Tesouro dos EUA subiram e algumas questões se levantaram sobre a força da actividade nalguns sectores das economias emergentes. Nos meses seguintes, os mercados financeiros têm estado a diferenciar e cada vez mais os preços dos activos com base nos fundamentos dos vários países. Essa volatilidade deriva de uma variedade de factores, alguns dos quais eram globais e alguns eram locais. Algumas economias emergentes têm estado a alargar os seus défices externos e enfrentam difíceis desafios em termos de políticas tanto quanto a taxa de crescimento abrandou enquanto a inflação se tem mantido acima da taxa fixada como objectivo. Outras economias têm consideravelmente mais fortes fundamentos assim como um mais amplo conjunto de ferramentas em termos de política a realizar do que nos anos anteriores, incluindo a existência de um maior espaço para a implementação de políticas monetárias e orçamentais contra cíclicas como é necessário e regimes de taxa de câmbio mais flexíveis.  A existência de mais fortes estruturas em política económica, incluindo mesmo através de uma maior flexibilidade quanto à taxa de câmbio; quanto à flexibilidade quantitativa em termos de política monetária, consistente com a dinâmica da inflação; e políticas mais fortes sejam em termos de regulação ou de supervisão, poderão vir a permitir às economias de mercado emergentes poderem lidar melhor com os grandes desafios que se avizinham. Na Cimeira do G-20 em São Petersburgo no início de Setembro, os dirigentes políticos afirmaram que continuariam a monitorizar as condições dos mercados financeiros com muito cuidado, enquanto os bancos centrais do G20 se comprometeram a calibrar cuidadosamente as futuras alterações às configurações estabelecidas em termos de política monetária ao mesmo tempo que se comprometiam a comunicá-las  prontamente.

Os desequilíbrios da balança corrente a nível global têm diminuído nos últimos anos, mas muito deste declínio reflecte sobretudo uma contracção da procura por parte dos países em défice sobre a sua balança corrente em vez de se dever a um forte crescimento da procura interna dos países excedentários em termos da sua balança corrente. Em relação a vários dos excedentes muito grandes e persistentes não se tem visto realizar-se nenhum ajustamento,  e entre eles está a situação alemã ou a de Taiwan,  ou têm mesmo aumentado ainda mais noutros países (Coreia). Em termos globais, a zona euro tem tido a sua balança corrente em equilíbrio entre 2009-2011, mas passou a ter um excedente de 2,3% do PIB no primeiro semestre de 2013. O excedente da balança corrente na Alemanha subiu acima dos 7 por cento no primeiro semestre de 2013, enquanto o excedente da balança corrente para os Países Baixos foi quase de 10 por cento. A Irlanda, Itália, Portugal e a Espanha são todos países que têm estado agora em situação de excedente na sua balança corrente em termos de bens e serviços e isto porque as suas respectivas importações têm diminuído devido à baixa de rendimentos. Assim, o fardo do ajustamento está a ser desproporcionalmente colocado sobre os países periféricos da Europa, exacerbando a situação do emprego, pois estes países estão com uma taxa de desemprego extremamente elevada, especialmente entre os jovens, enquanto o ajustamento global da Europa está essencialmente baseado na procura externa dos bens produzidos na Europa,  procura esta proveniente de países fora da Europa, ao invés de se enfrentar as deficiências na procura interna que existe no seio da Europa.

(continua)

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[1] Excertos de:  Report to Congress on International Economic and Exchange Rate Policies; U.S. Department of the Treasury, Office of International Affairs, October 30, 2013

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Para ler a Parte II desta síntese de Júlio Marques Mota, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas vá a:

http://aviagemdosargonautas.net/2013/12/18/a-analise-americana-da-economia-a-nivel-mundial-excertos-1-uma-sintese-por-julio-marques-mota-2/

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