O MUNDO DA INFÂNCIA – I AS MINHAS MEMÓRIAS INFANTIS, por Raúl Iturra

As terras da família ficam ma Comuna de Hualqui[1] espalhadas pelo interior e longe do rio Bío-Bío, que em Mapudungun significa uma corrente grande e larga de água, o que o faz navegável e irriga uma larga porção do território.

 

Hualqui pertenece a la región del Bío- Bío y forma parte de la Provinciade Concepción. Está ubicada a 24 Km. Al sur-este de la ciudad de Concepción y limita al norte con las comunas de Chiguayante,[2] Concepción y Florida, al sur con la comuna de Santa Juana, al este con las comunas de San Rosendo y Yumbel y al oeste con las comunas de Coronel y Concepción. Hasta hace poco, la actividad forestal era la principal fuente económica. Sin embargo, gracias al microclima –especialmente en la temporada estival- Hualqui acoge a una gran cantidad de turistas en zonas habilitadas para camping y picnic. O Rio Bío-Bío ou Biobío é um rio sul-americano que banha o Chile.

 

 

 

 

 

 

 

 

As terras do interior da comuna são secas e de argila, pelo que a actividade agrícola se caracteriza, sobretudo, pela existência de vinhas e na fabricação de vinho, aguardente, chicha, bebida picunche feita de maçãs e outros frutos que fermentavam nas adegas das terras do pai do pai, sua futura herança. Não esperava que acontecesse o que sucedeu sem prévio aviso: o pai do marido faleceu, sendo as terras e outros bens, herdados por ele, com a parte que correspondia à viúva. Proprietário de terras e casas, outros rendimentos vieram ao bolso do marido com mais que um filho na família desses tempos, nos anos quarenta. Foi uma bênção essa ajuda que a mãe Lucrécia não deixava de enviar todos os meses dinheiro para ajudar a sustentar uma família grande, epecialmente por ser do seu querido único filho. Essa mamã que, por orgulho, não foi ao matrimónio do filho, mas que morria de desejos de conhecer a nora e o seu primeiro e único neto. Era-lhe impossível sozinha gerir tantos bens, e o enteado nem queria aparecer por El Pino, nome da fazenda, pelo que casou em segredo, com um primo do engenheiro, viúvo também, o segredo deveu-se ao facto de o novo marido ser primo do pai engenheiro e seu sobrinho por afinidade.

 

 

Casada e segura de estar bem cuidada, enviou uma carta anunciando que no mês de Janeiro de 1943, visitaria o novo casal, na sua casa de Santiago. Habituada a mandar e a ser obedecida sem ninguém refilar, embaraçaram, foram a casa do filho e família, mas e ninguém estava ai. A Avó agira como a Dona Lucrécia que era, nunca pensou que as famílias pudessem ter outros planos. Era a rainha e como tal devia ser tratada, com saias largas, chapéu francês e um manto de peles sobre os ombros porque o Santiago de Inverno é frio. Furiosa por não estar ninguém em casa, mandou o novo marido alugar quarto, sala e salão, como estava habituada. E ai ficou. O marido engenheiro telefonou de imediato à sua mulher que estava de visita a seus pais em Valparaíso, de imediato regressou para, com a empregada, tratar da casa para receber, como deve ser, tão alta dignitária como ela própria se pensava. Acomodada no hotel mais luxuoso e caro da cidade, disse que ai ficava. O engenheiro correu ao hotel, solicitou, não pediu, ser recebido pela mãe. Ela mandou o marido, pombo mensageiro nestas zaragatas familiares, quem era de excelente humor e ria por tudo, especialmente neste caso caricato. A Senhora Dona mandou dizer que talvez amanhã fosse jantar. E assim foi, recebidos na porta da casa pela mulher do filho, ela, toda perfumada, entrou com passo firme de cavalaria, comentou que a casa era feia e estava mal mobilada. A nora da Senhora Dona, que esticou a mão para ser beijada na luva, não foi cumprimentada, e esta sentou-se no sofá do trono e não falou. A habilidade da nora inspirou-lhe um pensamento, foi buscar o bebé ao seu quarto, levou-o todo bem vestido como sempre estava e mostrou-lho. A Senhora Rainha nem olhou, até que o bebé começou a choramingar de sono, ela olhou para ele, e, como habitualmente, numa atitude depreciativa, disse nem sabe a nora como tratar de crianças, dê-me o pequeno, e um segundo depois, abraçou-o, beijou-o em todos os sítios possíveis e não o largou, nem para jantar. Não saíram da casa, durante mais de duas semanas ai ficaram, mandando o coitado do marido a cancelar o Crillón e passou a adorar a nora e o neto, sem permitir que os homens entrassem nas brincadeiras: era o seu neto! Não queria partir, mas os deveres do fundo e as posses deviam ser geridas: esse dever chamava-a.

 

A partir desse dia, não houve verão em que o bebé, depois garoto, não fosse ao El Pino, onde era o príncipe para as maravilhas da avó……Era ir a Hualqui a cavalo, onde o meu cavalo esperava por mim e eu, nessa ansiedade, mal chegava, montava-o e toca a cavalgar. Como acontecia nesses tempos, um rapaz servente da casa, Sérgio, preparava a sela, as rédeas e ajudava-me a montar – eu era pequeno para o tamanho do animal. Como é evidente, primeiro ia cumprimentar a Avó e o marido. Tinha por péssimo hábito, sentar-me num cadeirão de pau de rosa forrado em seda que eu não me atrevia a mexer, habituado com os meus irmãos a saltar pela mobília da casa até desfaze-la, para raiva do pai que tinha de estar sempre a gastar em móveis novos, até sermos proibidos de entrar na sala elegante: sempre no quintal, a criar coelhos, regar hortaliças com a nana ou nos quartos a estudar. Não era assim com a Avó: era sentimental, abraçava-me, e chorava sentada no seu trono de Rainha.

 

Chorava tanto, até esgotar o manancial de lágrimas, chorava de felicidade de ter o seu neto mais velho dois meses com ela. O que mais gostava, era sair a cavalo, com as suas roupas de montar: saia larga, preta, chapéu com véu sobre a cara e um fuste que me indignava. Era para bater nos jornaleiros picunche e obriga-los a trabalhar mais. Larguei, com dissimulo a Avó, e comecei a ter amigos filhos dos trabalhadores punidos. Queria ser como eles, andar sempre descalço sobre a terra de argila, espinhas das amoras que cresciam como entendiam, ou do fruto huaique, que nunca mais vi. Mas, esse meu desejo de sermos iguais, acabava quando a terra estava muito quente, as pequenas pedras se incrustavam nos meus pés até sangrar, ou picos dos terríveis ouriços onde as castanhas cresciam, que era preciso retirar um a um dos pés feridos. A Clotilde, a Paula, o Sérgio, não tinham esse problema, a planta do pé era um calo cumprido, que causava outro problema: ter que tirá-los do pé, para não infectar pé e perna. Eles, na minha aflição, por não conseguir tratar devidamente de mim, davam-me colo. Eu preferia as raparigas, o meu amigo tinha um problema: estava na idade da puberdade e em corpo que tocava, especialmente se macio e a cheirar bem, uma erecção acontecia, lembro-me de ele, dissimuladamente, se esfregar contra o meu corpo. Nada disso eu entendia, mas parecia-me mal e, apesar de amigos, o seu colo não era ético para mim. Acabámos por ser excelentes amigos, ele tinha que tratar dos meus assuntos, mas eu pus distância. Excepto nas conversas, especialmente na sua idade de jovem adulto e eu na minha incipiente puberdade, as conversas sobre meninas era o pai-nosso quotidiano. Ele conhecia mulheres, eu ainda não. Procurou uma senhora para mim, dessas que sabem seduzir os assustados em saber o que era fornicar. Foi nas nossas terras, onde ficou a minha virgindade, pelos doze anos. A Rainha da casa, a Senhora Avó, com a sua experiência deve ter adivinhado e nunca mais fui sem família ao nosso fundo. Mas, eu sabia escapar e fugia com o Sérgio, para os nossos esconderijos, na procura de meninas. Se não havia, o facto acabava em conversas eróticas e masturbações dissimuladas, usando o chão com ervas para tranquilizar o nosso calor. Ou andar a cavalo sem sela. Coisas da infância, que aprendi com um rapaz do campo. Na cidade, especialmente no colégio privado, a sexualidade tratava-se em educação Cívica.

 

As terras do namorado ficavam longe e ia ficar com a sua família durante as férias. Lembro que as vezes íamos os dois e era a minha felicidade, especialmente por ver a Rainha Avó . Essa que a mulher do engenheiro tinha sabido juntar como família.

 

Aliviado pela sagacidade da sua mulher a imensidão de o de presentes que tinha arrecadado para ele: sabão perfumado, Palmolive que no Chile era só de importação ripas de seda, imensos para tão pouca carne e tamanho…conseguiu não ficar triste porque, após cinco meses de ausência, o eu único filho o não reconhecia


[1] Hualqui tem um significado em Castelhano: Según el Mapudungún: La curva del Bío- Bío deriva de la palabra WALLOTUN, que significa: rodear, cercar, rotar; lo que habría derivado a hualquiaun, lo que tiene relación con que el pueblo está asentado precisamente en una curva que hace el curso del río Bío- Bío. Hualqui es una palabra compuesta que desciende del mapudungún (Lengua nativa Mapuche). Se puede atribuir el origen de la palabra Hualqui a las características geográficas donde se encuentra la comuna, ésta se concentra principalmente entre dos esteros que desembocan en el río Bio-Bio, condición que en la antigüedad dio origen a una abundante fauna.
 

[2] Bío-Bío o Bío Bío, es un río que atraviesa parte de la zona sur de Chile y uno de los principales del país, tanto por sus características geográficas como su importancia histórica y económica. La etimología de Biobío proviene de Biu-biu, (en mapuche, vuu o viu, equivalente a doble hilo o cordón, nombre con el cual era designado por los mapuche, además de Butanleuvu o río Grande que también solían darle). Chiguayante é uma comuna da província de Concepción, localizada na Região de Biobío, Chile. Possui uma área de 71,5 km² e uma população de 81.302 habitantes (2002).

A comuna limita-se: a sudoeste com San Pedro de la Paz; a sudeste com Hualqui; a norte com Concepción

A humidade do rio e o sítio geográfico, permitem a produção de tecelagem do melhor pano para fabricar roupas, pano que é exportado e cria parte da riqueza do país

 

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