Um café na Internet
Sexta-feira passada, dia 23 de Setembro de 2011, no Museu do Neo-Realismo, aqui em Vila Franca de Xira, passaram o filme O Trigo e o Joio, realizado por Manuel Guimarães, em1965. A sessão inscreveu-se na comemoração do centenário dos nascimentos dos escritores Alves Redol e Manuel da Fonseca. Mas o argumento do filme é baseado no romance com o mesmo nome, de Fernando Namora.
Devo dizer que não achei o filme extraordinário. Não me lembro de quando li o romance, que, salvo erro, terá sido publicado em1954. A história passa-se no Alentejo profundo, e seria uma história de luta de classes. Mas o filme mostra a diferença entre as classes, mas não a luta entre elas. Apenas numa cena, aquela em que o Barbaças come as notas do latifundiário, se pressente o antagonismo. Pressente-se, não se sente. Temos que compreender que a censura na época, nunca deixaria passar um filme muito crítico. Mas compreender não é aceitar …
De qualquer modo, o filme tem aspectos interessantes. A interpretação de Eunice Muñoz, como a mulher do Loas, é fora de série. Barreto Poeira, no papel do latifundiário, também está muito bem. Outros trabalhos também são notáveis, como o de Manuel da Fonseca, no papel de Vieirinha. Tratando-se de um amador nesta arte, o trabalho do nosso grande escritor tem de se classificar de excepcional. Aparece Lídia Franco, como uma ratinha, isto é, uma trabalhadora migrante. Pareceu-me demasiado bem vestida e pintada para o personagem. A fotografia é muito boa.
No final da projecção, o director do Museu, David Santos, chamou-nos a atenção para a influência de Eisenstein no filme. E que este mostra uma orientação marxista no tratamento do tema. Pessoalmente, concordo apenas com a primeira afirmação (não me lembro da ordem em que o David Santos fez as referências), mas só um pouco. E permito-me salientar que Eisenstein influenciou enormemente o cinema dos anos trinta e quarenta, e posterior, e não só o cinema susceptível de ser classificado como marxista.
De resto, julgo que se pode dizer que este filme, sem ser extraordinário, tem um valor muito acima do restante cinema português, à época. Vale a pena vê-lo, tendo em conta as realidades. E seria de pensar em fazer mais filmes sobre o tema. Não é tarde.
Vejamos um pequeno trailer: