A Praxe
Nos tempos do Liceu, passados num colégio em Grândola, e no Camões em Lisboa, o desejo de ir estudar para Coimbra fazia-se cada vez mais presente.
Para isso contribuíam o mito da boémia, da irreverência, e as tristemente célebres façanhas de prestigiados cábulas da vetusta Academia.
Da minha rua tinha saído um jovem que se iria formar em Medicina, o Aníbal Costa. A conversa foi simples: fui para Coimbra, e para a casa onde ele tinha vivi. do, a República Pra – Kys – tão.
Como recomendações, tinha que levar colchão. roupa de cama, dinheiro para a renda, etc.
Tratei do colchão, e enviei-o para Coimbra, escrevendo para a República para mo irem buscar à estação.
E lá me fiz à viagem com outro amigo que tinha o mesmo destino. Chegámos à República por volta das 8 da noite. A porta estava aberta, enrrámos, chamámos, ninguém respondeu, subimos uma escada, e desembocámos numa sala grande, com cerca de 10 tipos à mesa, a atacar o jantar. Na porta da sala estava afixada a minha carta, o que me deu alguma felicidade … afinal de contas. aquilo dava-me um estatuto de alguma importância. Foi com um sorriso de felicidade que proferi aquele Boa noite!
– Boa noite, murmuraram alguns.
– Bem, a gente vem viver para a República.
Sorrisos, vozes,
– Quem é o Hélder?
– Sou eu.
– Então, queria que a gente lhe fosse buscar o colchão à estação?
– Não foram?
– Era o que faltava. Somos seus criados, ou quê?
– Bem, eu julgava … se me pedissem isso, eu fazia.
Gargalhadas bem dispostas, mais urnas observações “o caloiro é porreiro”, etc.
Saímos, fomos jantar fora, fui ruminando naquela falta de apoio ao pobre caloiro em cluC me via transformado, e voltámos para assentar arraiais.
Indicaram-nos o quarro, umas tábuas aparelhadas a fazer de camas do mais puro arresanaro “republicano – Coimbrão” – que a rnalta tinha muito jeito para carpintaria -, e preparamo-nos para uma reparadora soneca, depois de emoções tão fortes. Nisto, uma gritaria
– Suas bestas, já estão a dormir? Venham cá! etc.
Depois de um curto silencio a fingir que não ouvíamos, e perante a simpática insistência para um alegre convívio, lá subimos para a sala de jantar.