O saudoso tempo do fascismo – 9 – por Hélder Costa

A Praxe

 

Nos tempos do Liceu, passados num colégio em Grândola, e no Camões em Lisboa, o desejo de ir estudar para Coimbra fazia-se cada vez mais presente.

 

Para isso contribuíam o mito da boémia, da irreverência, e as tristemente célebres façanhas de prestigiados cábulas da vetusta Academia.

 

Da minha rua tinha saído um jovem que se iria formar em Medicina, o Aníbal Costa. A conversa foi simples: fui para Coimbra, e para a casa onde ele tinha vivi. do, a República Pra – Kys – tão.

 

Como recomendações, tinha que levar colchão. roupa de cama, dinheiro para a renda, etc.

 

Tratei do colchão, e enviei-o para Coimbra, escrevendo para a República para mo irem buscar à estação.

 

E lá me fiz à viagem com outro amigo que tinha o mesmo destino. Chegámos à República por volta das 8 da noite. A porta estava aberta, enrrámos, chamámos, ninguém respondeu, subimos uma escada, e desembocámos numa sala grande, com cerca de 10 tipos à mesa, a atacar o jantar. Na porta da sala estava afixada a minha carta, o que me deu alguma felicidade … afinal de contas. aquilo dava-me um estatuto de alguma importância. Foi com um sorriso de felicidade que proferi aquele Boa noite!

 

– Boa noite, murmuraram alguns.

 

– Bem, a gente vem viver para a República.

Sorrisos, vozes,

– Quem é o Hélder?

– Sou eu.

– Então, queria que a gente lhe fosse buscar o colchão à estação?

 – Não foram?

– Era o que faltava. Somos seus criados, ou quê?

– Bem, eu julgava … se me pedissem isso, eu fazia.

Gargalhadas bem dispostas, mais urnas observações “o caloiro é porreiro”, etc.

 

Saímos, fomos jantar fora, fui ruminando naquela falta de apoio ao pobre caloiro em cluC me via transformado, e voltámos para assentar arraiais.

 

Indicaram-nos o quarro, umas tábuas aparelhadas a fazer de camas do mais puro arresanaro “republicano – Coimbrão” – que a rnalta tinha muito jeito para carpintaria -, e preparamo-nos para uma reparadora soneca, depois de emoções tão fortes. Nisto, uma gritaria

 

 – Suas bestas, já estão a dormir? Venham cá! etc.

 

Depois de um curto silencio a fingir que não ouvíamos, e perante a simpática insistência para um alegre convívio, lá subimos para a sala de jantar.

 

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