101 anos de República – por Carlos Loures

Hoje falarei de uma “Revolta” de há 101 anos:
 

Às 9 da manhã do dia 5 de Outubro de 1910, a bandeira da República foi içada na varanda dos Paços do Concelho de Lisboa. José Relvas fez a solene proclamação do regime e a nova insígnia nacional subiu no mastro perante uma multidão que no Largo do Pelourinho (ou do Município) aclamava a República Portuguesa.

 

Lisboa e Porto, as duas principais cidades do País, eram maioritariamente republicanas e esse factor foi decisivo para o êxito do movimento. Num país com 80% de analfabetos, as elites culturais eram também, na sua maioria, pelo fim da Monarquia. Porém, nem só os republicanos contestavam a situação do País. Existem hoje provas de que o Regicídio, embora levado a cabo no terreno por carbonários republicanos, foi organizado por monárquicos, também eles carbonários. O afastamento de D. Carlos, nem que fosse pela supressão física, e a queda da ditadura de João Franco, eram objectivos centrais para esses monárquicos. E ainda que para tal houvessem que suportar a proclamação da República, seria depois fácil derrubá-la e reimplantar a Monarquia. Pensavam eles.

 

 

 Desde 1890, com a humilhante cedência perante o ultimato britânico, a instituição monárquica sofrera um rude golpe. Desde as comemorações camonianas de 1880, o ideal republicano vinha-se impondo entre grande parte da população, mercê de uma propaganda bem organizada e que aproveitava todos os pretextos, para demagógica, mas certeiramente ir debilitando a credibilidade do regime.

 

Porém, para lá do ideal político subsidiário da Revolução Francesa de 1789, aceite por uma grande parte dos portugueses, os dislates, na política e na vida pessoal, de D. Carlos foram uma das alavancas para o triunfo da República. Todas as acusações dos políticos republicanos eram confirmadas e sublinhadas por actos e declarações do rei. Se D. Carlos, como pessoa tinha aspectos positivos, nomeadamente na sua prepação cultural, como governante foi um desastre. O seu reinado quase começou com a questão do vergonhoso Ultimato britãnico. Disso não teve culpa. Mas a sua vida privada era tudo menos modelar – amantes, prostitutas, filhos bastardos e gastos excessivos, e, sobretudo, exibições de despesismo num país onde parte significativa da população passava fome. D. Carlos ter-se-á mesmo convencido de que era intocável e de que podia fazer o que quisesse.

 

Uma das apostas dos conspiradores monárquicos era a falta de consenso existente no seio das hostes republicanas. E nesse aspecto, tinham razão, pois os dezasseis anos que durou a I República foram de caos quase permanente. Todos os vícios que afectavam a classe política e que tinham sido, com escândalos sucessivos, um dos principais factores na queda da monarquia, permaneceram intactos. Aos erros dos republicanos e às lutas ferozes entre eles travadas, somou-se a permanente conspiração monárquica. E em 28 de Maio de 1926, embora formalmente se mantivesse, a República caiu. Mas voltemos atrás.

 

Para mim torna-se incompreensível, não o ideal monárquico do qual discordo, mas que respeito como a qualquer outro, mas a série de meias verdades e de mentiras com que os defensores da Monarquia procuram branquear os erros cometidos, as manobras sujas levadas a cabo pelos seus antecessores nesse conturbado período. A primeira grande tentativa de destruir o novo regime foi a de Sidónio Pais. Acabou, como se sabe, com o seu assassínio. A segunda, apoiada no início por democratas que desesperavam com o caos instalado, foi o golpe militar de 28 de Maio de 1926 que, sete anos mais tarde, poria termo à I República e viria a consolidar-se num estado corporativo, autoritário, repressivo – uma versão nacional do fascismo e do nazismo que alastravam pela Europa e pelo mundo. A esse período, de ditadura e de obscurantismo, chamou-se a II República. Com a Revolução de 25 de Abril de 1974, a normalidade democrática voltava e tinha início a III República. Cento e um anos depois da queda de um regime anquilosado, antidemocrático por natureza, muitos dos males que afligiam a Nação, persistem – a qualidade da classe dirigente, a corrupção, a sistemática alienação da independência nacional, faz com que muitos portugueses sonhem com uma IV República onde se consubstanciem as grandes consignas de 1789 – LIberdade, Igualdade e Fraternidade.

 

 

Viva a República! Viva Portugal!

 

 

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Da Monarquia à República em imagens:

As imagens são acompanhadas pelo “Hino da Carta” (hino nacional monárquico) e por “A Portuguesa”.

 

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