O desenvolvimento do movimento que nasceu há cerca de duas semanas com origem em algumas dezenas de contestatários, estende-se não somente nos Estados Unidos, mas igualmente à City de Londres. É uma demonstração de um mal-estar profundo na população. Este mal-estar tem a sua origem nos seguintes elementos recentes:
Wall Street como símbolo deixou de ser uma fonte de inspiração, ou até mesmo de admiração para o povo americano. A maneira como os dirigentes bancários assumiram as suas responsabilidades perante os dramas que criaram nas famílias e nas empresas não é de facto aceitável, não é credível. Nas próximas semanas, “uma multa” gigantesca deverá ser imposta aos bancos que mentiram quer sobre os créditos hipotecários que concediam, quer sobre a qualidade destes créditos quando eles os titularizavam sob a forma de produtos estruturados postos no mercado dos capitais. Dever-se-ão aqui acrescentar os cúmplices desta realidade, as agências de notação, de rating. Pior ainda, são numerosos os dirigentes bancários que continuam a manter a sua recusa em assumir as suas responsabilidades.
Os líderes dos bancos americanos retomaram, em 2010 e sobretudo em 2011, os bónus que confundem. Depois de terem sido salvos de um risco sistémico que tinham provocado, retomaram o caminho das remunerações exorbitantes. Ao actuarem desta forma, seguiam uma tendência do conjunto das empresas americanas. Foi necessário uma acção da opinião pública para impedir que os bónus de Goldman Sachs, imediatamente após o reembolso da dívida do seu resgate, se estabelecem ao nível desta ajuda, quase dólar por dólar.
O Bank of América provocou uma enorme indignação ao anunciar que a utilização da carta de débito (em que se debita a vossa conta bancária imediatamente) seria objecto de uma comissão de 5 dólares por mês. Os consumidores têm o sentimento que os bancos os espremem com comissões adicionais e com a aplicação de taxas usurárias (15%) sobre os indispensáveis cartões de crédito.
As manobras dos republicanos que visam atrasar a aplicação do Dodd Frank Act of 2002 que constitui uma reformulação do sistema financeiro americano não escaparam a ninguém. Além disso, vários candidatos republicanos à presidência dos Estados Unidos anunciam que vão fazer com que se anule esta regulação e voltar às práticas antigas. O que satisfaz o seu eleitorado assusta o povo americano que hoje é vitima de situação de empobrecimento (mais de 25 milhões) e de um elevado desemprego (9,1%) a atingir níveis recorde.
A Casa Branca – que não pôde ou não quis corrigir o tiro – declarou‑se “compreensiva” perante esta reacção. O Presidente Obama tenta de modo bastante desesperado reconstruir uma imagem vigorosa perante as concessões que reduziram a confiança do seu eleitorado. É ainda demasiado cedo para saber se terá sucesso. .
As divisões nas fileiras dos “ultra- ricos ”, perante uma tributação que os favorece excessivamente, mostram que existe entre eles dirigentes como Warren Buffett, Bill Gates e outros que partilham o ponto de vista que o sonho americano não é compatível com desigualdades tão flagrantes como as de agora. Isto é novo e, obviamente, é muito criticado à direita.
Por último, a perda de confiança no Congresso Americano que bloqueia as medidas importantes de maneira partidária , choca cada vez mais. O último caso é uma exigência dos republicanos (felizmente recusada pela Casa Branca) de reduzir as despesas sociais para aprovar as medidas de urgência em prol das vítimas dos furacões e de outras intempéries que marcaram o Verão de 2011.
Este movimento apagar-se-á? Não, isso não é nada certo na medida em que em cada dia se vêem adesões às causas do movimento, e os sindicatos parecem decididos a retomarem estes temas nas condições do seu apoio aos candidatos à presidência em 2012. As suas reivindicações não poderão ser evitadas na campanha eleitoral. O que é, em si-mesmo, uma notável vitória.
Georges Ugeux, PDG de Galileo Global Advisors, um pequeno banco internacional de negócios em New York,
Les protestataires de Wall Street sont légitimement en colère, publicado a 12 de Outubro de 2011.