Os contestatários de Wall Street estão legitimamente em cólera. Por Georges Ugeux. Selecção e tradução de Júlio Marques Mota.

O desenvolvimento do movimento que nasceu há cerca de duas semanas com origem em   algumas  dezenas de contestatários, estende-se não somente nos Estados Unidos, mas igualmente à  City de Londres. É uma demonstração de um mal-estar profundo na população. Este mal-estar tem a sua origem  nos seguintes  elementos recentes:


Wall Street como símbolo deixou de  ser uma fonte de inspiração, ou até mesmo de admiração para o povo americano. A maneira como os dirigentes bancários assumiram as suas responsabilidades perante os dramas que criaram nas famílias e nas empresas não é de facto aceitável, não é credível. Nas próximas semanas, “uma multa” gigantesca deverá ser imposta aos bancos que mentiram quer sobre os créditos hipotecários que concediam, quer sobre a qualidade destes créditos quando eles  os titularizavam sob a forma de produtos estruturados postos no mercado dos capitais. Dever-se-ão aqui  acrescentar  os cúmplices desta realidade, as agências de notação, de rating. Pior ainda, são numerosos os dirigentes  bancários que continuam a manter a sua recusa em assumir as suas responsabilidades.

 

Os líderes dos bancos americanos retomaram, em 2010 e sobretudo em 2011, os  bónus que confundem. Depois de terem  sido salvos de um risco sistémico que tinham provocado, retomaram o caminho das remunerações exorbitantes. Ao actuarem desta forma, seguiam uma tendência do conjunto das empresas americanas. Foi necessário uma acção da opinião pública para impedir que os bónus de Goldman Sachs, imediatamente após o reembolso da dívida do seu resgate, se estabelecem ao nível desta ajuda, quase dólar por  dólar.

 

 O Bank of  América provocou uma enorme indignação ao anunciar  que a utilização da carta de débito  (em que se debita a vossa conta bancária imediatamente) seria objecto de uma comissão de 5 dólares por mês. Os consumidores têm o sentimento que os bancos os  espremem  com comissões adicionais e com a aplicação de  taxas usurárias (15%) sobre os indispensáveis cartões de crédito.

 

As manobras  dos republicanos que visam atrasar a aplicação do Dodd Frank Act of  2002 que constitui uma reformulação  do sistema financeiro americano não escaparam a ninguém. Além disso, vários candidatos republicanos à presidência dos Estados Unidos anunciam que vão fazer com que se anule esta regulação e voltar às  práticas antigas. O que satisfaz o seu eleitorado assusta o povo americano que hoje é vitima de situação de empobrecimento (mais de 25 milhões) e de um elevado desemprego (9,1%) a atingir  níveis recorde.

 

A Casa Branca – que não pôde ou não quis  corrigir o tiro – declarou‑se “compreensiva” perante esta reacção. O Presidente Obama tenta de modo bastante desesperado  reconstruir uma imagem vigorosa perante as concessões que reduziram a confiança do seu eleitorado. É ainda demasiado cedo para saber se terá sucesso. .

  

As divisões  nas fileiras dos “ultra- ricos ”, perante uma tributação que os favorece  excessivamente, mostram que existe entre eles dirigentes  como Warren Buffett, Bill  Gates  e outros que partilham o ponto de vista que o sonho americano não é compatível com desigualdades tão  flagrantes como as de agora. Isto é novo  e, obviamente, é muito criticado à direita.

 

Por último, a perda de confiança no Congresso Americano que bloqueia as medidas importantes de maneira partidária , choca  cada vez mais. O último caso  é uma exigência dos republicanos (felizmente recusada pela Casa Branca) de  reduzir as despesas sociais para aprovar as medidas de urgência em prol das vítimas dos furacões e de outras intempéries que marcaram o Verão de 2011.

 

 

Este movimento apagar-se-á? Não, isso não é nada certo na medida em que em  cada dia se vêem adesões  às causas do movimento, e os sindicatos parecem decididos a retomarem  estes temas nas condições do seu apoio aos candidatos à presidência em 2012. As suas reivindicações não poderão ser evitadas  na campanha eleitoral.  O que é, em si-mesmo, uma  notável vitória.



Georges Ugeux, PDG de Galileo Global Advisors, um pequeno banco internacional de negócios  em  New York, 

 

Les protestataires de Wall Street sont légitimement en colère, publicado a 12 de Outubro de 2011.

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