OS HOMENS DO REI – 44 – por José Brandão

Luís Gonçalves da Câmara (1518-1574)

É o célebre aio do rei D. Sebastião, cujas qualidades de carácter, e, de modo particular, o ascendente que exerceu sobre o espírito do jovem monarca, tão diversamente têm sido apreciados. Os inimigos da Companhia de Jesus, de que ele foi um dos mais insignes membros, apresentam-no como um ambicioso sem escrúpulos, que só pensava no engrandecimento da sua ordem, e acusam-no de ter procurado desenvolver as tendências exageradamente aventureiras do seu discípulo, que tiveram como triste epilogo a perda da nacionalidade portuguesa.

 

Outros há que têm opinião inteiramente contrária a essa, não atribuindo ás influências do padre Luís Gonçalves da Câmara a responsabilidade das arriscadas empresas a que D. Sebastião se aventurou. Luís Gonçalves da Câmara nasceu no ano de 1518 e era filho de João Gonçalves da Câmara e de D. Leonor de Vilhena, filha do conde de Tarouca. Estudou na universidade de Paris, que era então um centro muito importante do movimento intelectual da Europa e que tinha nessa época uma reputação universal. Luís da Câmara revelou-se ali um estudante de talento, não só no estudo das línguas latina, grega e hebraica, mas também nos cursos de filosofia e teologia.

 

Quando D. João III fez a reforma da universidade de Coimbra e mandou vir de França vários professores, foi o padre Luís Gonçalves da Câmara, um dos escolhidos para fazer parte do corpo docente e ali regeu varias cadeiras. Tendo pessoalmente conhecido em Paris o fundador da Companhia de Jesus, resolveu abraçar o instituto da Companhia e nesta ordem exerceu elevados cargos. Foi em Coimbra que entrou na congregação dos jesuítas e nela professou a 2 de Abril de 1546. No ano seguinte era nomeado reitor do Colégio de Coimbra, e três anos depois seguiu para Roma a tratar de negócio da sua ordem.

 

Regressando à pátria foi nomeado primeiramente mestre de D. Sebastião e depois confessor deste monarca, em cujo cargo se conservou alguns anos. Entre os ministros que rodearam D. Sebastião, destaca-se a influência dos irmãos Luís e Martim Gonçalves da Câmara por quem passou o essencial da administração régia a partir do momento em que o rei se dedicou a preparar a expedição norte-africana. O irmão Martim Gonçalves da Câmara desempenhou os mais elevados cargos, e entre eles o de escrivão da puridade, que era então o lugar de mais alta responsabilidade na governação do estado.

 

Doutor em Teologia e clérigo jesuíta, que exerceu diversas funções de relevo durante o reinado de D. Sebastião: reitor da Universidade de Coimbra, presidente da Mesa da Consciência e do Desembargo do Paço, escrivão da puridade e secretário de Estado. Nesta última posição, adquiriu poder significativo e um grande ascendente sobre D. Sebastião. Chegou por isso a ser injustamente acusado, junto com o irmão, o padre Luís Gonçalves da Câmara, de inspirar ao monarca ideias adversas ao casamento.

 

Em 1576, foi forçado a abandonar a corte, mas assumiu o lugar de conselheiro de Estado durante o reinado do cardeal D. Henrique. No âmbito da crise dinástica, defendeu os direitos de sucessão, primeiro, da duquesa de Bragança e, depois, do prior do Crato. Uma vez consumada a aclamação de Filipe II de Castela, tal posição valeu-lhe a perseguição, a prisão e, finalmente, a deportação para o Reino vizinho. É corrente afirmar-se que Luís e Martim Gonçalves da Câmara exerceram uma acção nefasta sobre o espírito de D. Sebastião. Luís Gonçalves da Câmara morreu em Lisboa a l5 de Março de 1574, tendo 56 anos de idade. Martim Gonçalves da Câmara morreu em 1613 com 73 anos de idade.

 

A seguir: D. Aleixo de Meneses

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