Porque se manteve o mirandês até aos nossos dias? (O mínimo sobre a língua mirandesa – 6), por Amadeu Ferreira

 

 

 

O MÍNIMO SOBRE A LÍNGUA MIRANDESA

 

 

     por Amadeu Ferreira

 

 

(continuação) 

 

 

6. Porque se manteve o mirandês até aos nossos dias?

 

 

A maioria dos autores tem atribuido a manutenção da língua mirandesa a dois factores fundamentais: o isolamento em relação ao resto do país; a contínua e profunda relação com os povos do outro lado da fronteira, em particular das regiões de Aliste e de Sayago.


O argumento do isolamento não tem fundamento, sendo muito limitada a sua valia: por um lado, a terra de Miranda não estava mais isolada do que as terras contíguas, onde deixou de se falar mirandês; por outro lado, a partir da criação do bispado de Miranda e da elevação de Miranda do Douro a cidade (1545), esta passa a ser um centro de poder e de cultura, com um número razoável de pessoas letradas e em estreito contacto com o resto do país; fundamental é dizer-se que os mirandeses são, pelo menos, bilingues desde há vários séculos, isto é, falam o mirandês e o português, o que não sucederia se o isolamento fosse o que se diz.


O argumento do estreito contacto com as regiões fronteiriças contíguas, sobretudo Aliste e Sayago, faz todo o sentido, já que se falava leonês dos dois lados da fronteira, pelo menos até fins do século XIX ou princípios do século XX.


A este argumento há a acrescentar o facto de o mirandês ser uma língua, isto é, de dispor de mecanismos geradores do seu desenvolvimento, geradora de forte consciência linguística e com capacidade de autosubsistência.


Por fim, há ainda que referir o sistema de uso diferenciado do português e do mirandês, de modo muito rígido, permitindo a subsistência e desenvolvimento de ambas as línguas em simultâneo, com usos paralelos que não interferiam um com o outro, o que permitia aligeirar a pressão sobre o uso do mirandês. Este uso diferenciado, sobretudo a partir do século XVI, pode ser assim resumido: o português é a língua institucional e de contacto com elementos estranhos à comunidade; o mirandês é a língua da comunidade, quer nas relações sociais e familiares, quer nas relações de trabalho.

  

 

     (continua – 7. O mirandês é uma língua ou um dialecto?)

 

2 Comments

  1. Fico muito contente por preservarmos alguns dos traços culturais que marcam o nosso pais! nomeadamente o Mirandês, apesar de não ter qualquer ligação com o norte do pais, gosto de saber que são preservadas questões culturais com o passar dos tempos!

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