(1949 – 1983)
Um Café na Internet
Do tremendo poema que já fiz
ou antes do tremendo poema ficaram
gestos poucos diluídos
no ar pesado para respirar
como cinzenta era a ilha
e tremenda a solidão dos passos
deslocados sob os pés de
marinhante
ou antes do tremendo poema ficaram
gestos poucos diluídos
no ar pesado para respirar
como cinzenta era a ilha
e tremenda a solidão dos passos
deslocados sob os pés de
marinhante
a tristeza da criança
sentada ao meu lado
ocultando as nódoas da blusa
a roupa inevitável pendurada
nas cordas
a dor nas costas da mãe
lavando uma vida toda
lavando uma vida toda
mas tremenda, tremenda mesmo
é esta tarde parada
em que não temos coragem
de soprar no vento
In Outra Versão da Casa, edições Base, 1980. Obrigado ao Rui Almeida. Parabéns pelo blogue http://ruialme.blogspot.com.
Este poema da Ivone Chinita fez-me relembrar um episódio que, por um triz, não me ia atingindo. Tinha acabado de conhecê-la e combinou-se uma ida a Madrid para vermos uma exposição do Picasso. Eu e outro elemento do grupo, à última hora, não pudemos ir. No regresso, os que forami sofreram um grave acidente de automóvel. A Ivone Chinita e o marido morreram deixando dois filhos pequeninos. Era uma mulher inteligente, lutadora e muito agradável. Nesse dia, o acaso a mim protegeu-me, a ela não.