Diário de bordo de 26 de Novembro de 2011

 

Faz hoje 43 anos. Marcelo Caetano foi à Assembleia Nacional garantir que as Colónias deviam ser mantidas. A guerra ia continuar. Todas as esperanças na «primavera marcelista» ruíam. Marcelo limitara-se a mudar os nomes – a PIDE passou a ser DGS (mas continuou a torturar os presos), a União Nacional passou a chamar-se Acção Nacional Popular, mas continuou a ser o partido único.  A primavera de Marcelo era igual ao inverno de Salazar – só mudaram algumas palavras. Ali, no seio desta organização fascista, se criou o núcleo que iria dar lugar ao PPD e, depois, ao PSD. Estes homens e mulheres de hoje são diferentes dos que rodeavam Salazar e Caetano. O estilo não é o mesmo. Mas são iguais ao governar no sentido de proteger os interesses em prol dos quais o rebanho do Estado Novo balia. Nuno Crato ficou muito ofendido por ter sido estabelecido paralelismo entre a alteração que propõe aos curricula e um dogma salazarista. Deve estar esquecido que na proto-história do partido a que se colou, está a herança  do corporativismo salazarista. E o mesmo desprezo pelos interesses dos cidadãos.

 

No fundo, aconteceu como preconizava o príncipe de Falconeri: tudo deve mudar para que tudo fique como está. Com este simulacro de democracia, servindo os mesmos senhores de que Salazar e Caetano eram empregados, temos agora, além destes intermediários nativos, estúpidos, incompetentes e pomposos, os outros que, como os administradores-delegados das multinacionais, vêm fiscalizar se o pessoal indígena se está a portar bem.

 

Nesta jangada a desconjuntar-se, os sinais são cada vez mais preocupantes. Em Espanha fontes do Partido Popular, que irá formar o próximo governo, desmentiram uma noticia da Reuters onde se afirmava que o recurso a ajuda financeira internacional é um dos cenários em cima da mesa. Se desmentem é porque é verdade. Em Estrasburgo Sarkozy e Merkel disseram a Monti que “o colapso” de Itália levará inevitavelmente ao fim do euro, indicou hoje o governo italiano. Isto deve mesmo ser verdade (ás vezes acontece…). Durão Barroso diz que Portugal está no caminho certo. O que significa que estamos no caminho errado.

 

Palavras, palavras, palavras.

 

Os políticos vivem de palavras que quase nunca nada têm a ver com a verdade.

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