UM CAFÉ NA INTERNET – Serenos e pulverizados continuamos, por Maria Rosa Colaço

Um café na Internet

 

 

 

 

 

 

 

 

Maria Rosa Colaço, nasceu no Torrão, Alcácer do Sal, em 1935 e faleceu em Lisboa, no Hospital de Santa Maria, em Outubro de 2004. Completou primeiro um curso de enfermagem e depois o de professora do Ensino Primário. Foi do seu contacto com as crianças que nasceu o livro que a tornou muito conhecida – «A Criança e a Vida» (1984), com mais de 40 edições e traduzido em diversos idiomas. Publicou numerosos livros, dos quais refiro apenas «O Espanta Pardais» (1960), a peça de teatro «A Outra Margem», Prémio Revelação de Teatro em 1958. Foi assessora da RTP durante 12 anos e colaboradora regular do diário «A Capital». O presidente da República, Jorge Sampaio, agraciou-a com a Ordem da Liberdade.

 

Colaborou na antologia «Hiroxima» (1967) com o poema



Serenos e pulverizados continuamos

 

Aqui tens os teus mitos tu

um dia também terás notícias nossas

os nossos olhos não desistem de furar o asfalto

e crescer como flores proibidas


rastejando entre espingardas e vidros

furamos as paredes e o nevoeiro

rastejamos como vermes

mas nunca à maneira dos desesperados


um dia terás notícias nossas


podes pulverizar-nos

é quase certo que nos pulverizes

podes odiar-nos

é quase certo que nos odeias

podes destruir-nos

é indiscutível que seremos destruídos


mas um dia terás notícias nossas


porque através das paredes e do mar

e do vidro e da dinamite e do ódio

nós continuamos

serenos e pulverizados continuamos.


 

(Antologia Hiroxima)

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