Wall StreetJournal 19 de Novembro de 2011
Niall Ferguson* faz uma projecção do futuro da Europa e encontra jardineiros gregos, alemães em calções de praia – e uma nova união fiscal. Bem-vindos ao outro “Estados-Unidos”.
“A vida está ainda longe de ser fácil nos Estados periféricos dos Estados Unidos da Europa (tal como é hoje conhecida a Zona Euro”).
Bem-vindos à Europa 2021. Passaram 10 anos desde a grande crise de 2010-2011, que fez rolar as cabeças de não menos de 10 governos, incluindo a Espanha e a França. Há coisas que ficaram na mesma, mas muita coisa mudou.
O Euro continua em circulação, embora as notas de banco raramente se vejam. (Efectivamente, a facilidade dos pagamentos electrónicos, leva agora as pessoas a pensar se pareceu alguma vez valer a pena a criação de uma moeda única.) Mas, Bruxelas foi abandonada como quartel-general da políticaEuropeia. Viena tem tido um grande sucesso.
“Há algo sobre o legado dos Habsburg,” explica o dinâmico novo Chanceler Austríaco Marsha Radetzky. “Parece fazer a política multinacional muito mais divertida”.
Os Estados Unidos da América perderam a sua posição do melhor lugar para negócios, e a China e o resto do Oriente aprenderam a dominar os métodos do Ocidente e estão a desenhar todo um novo paradigma económico, afirma o historiador de Harvard,Niall Ferguson, numa entrevista a John Bussey, do Wall Street Journal.
Os alemães também gostaram desta mudança. “Por qualquer razão, nunca nos sentimos muito bem-vindos na Bélgica”, recorda o Chanceler alemão Reinhold Siegfried von Gotha-Dämmerung.
A vida está ainda longe de ser fácil nos Estados periféricos dos Estados Unidos da Europa (tal como é hoje conhecida a Zona Euro”). O desemprego na Grécia, Itália, Portugal e Espanha disparou para 20%. Mas a criação de um novo sistema de federalismo fiscal em 2012 assegurou um fluxo estável de fundos provenientes do núcleo duro dos países do norte da Europa.
Tal como os alemães de Leste antes deles, os europeus do Sul cresceram acostumados a este toma-lá-dá-cá. Com um quinto da população acima dos 65 anos e um quinto de desempregados, as pessoas têm tempo para gozar a boa vida. E há muitos Euros para ganhar nesta economia cinzenta, trabalhando como criadas ou jardineiros dos alemães, que agora têm a sua segunda casa nos soalheiros países do Sul.
Os E.U.E. ganharam novos membros. A Lituânia e a Letónia mantiveram-se determinados no seu propósito de aderirem ao Euro, seguindo o exemplo da sua vizinha Estónia. A Polónia, sob a liderança dinâmica do ex – Ministro dos Negócios Estrangeiros Radek Sikorski, fez o mesmo. Estes novos países são o arquétipo da nova Europa, atraindo investimentos alemães pelos seus baixos impostos e baixos salários.
Mas, outros países saíram.
David Cameron – agora a começar o seu quarto mandato como Primeiro-Ministro Britânico – dá graças à sua estrela por, cedendo com relutância à pressão dos Eurocépticos do seu próprio partido, ter decidido arriscar um referendo sobre a permanência na União Europeia. Os seus parceiros de coligação, os Democratas Liberais, suicidaram-se politicamente ao aderirem à desastrosa campanha do Partido Trabalhista pelo “Sim à Europa”.
Incitado por agressivos tablóides londrinos, o povo votou a favor da saída, por uma margem de 59% contra 41%,e deu aos Tories uma maioria absoluta na Câmara dos Comuns. Liberta da burocracia de Bruxelas, a Inglaterra é agora o destino favorito do investimento Chinês na Europa. E os abastados chineses adoram os seus apartamentos do bairro de Chelsea, para não falar das suas esplêndidas propriedades de caça na Escócia.
Em certa medida, esta Europa federal teria feito felizes os pais fundadores da integração Europeia. No seu âmago está a parceria Franco-Germânica lançada por Jean Monnet e Robert Schuman nos anos 1950. Mas os E.U.E. de 2021 são uma coisa muito diferente da União Europeia que se desmoronou em 2011.
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Foi uma curial coincidênciaque a desintegração da União Europeia se tivesse centrado nos dois grandes berços da civilização Ocidental, Atenas e Roma. Mas George Papandreou e Silvio Berlusconi foram sem dúvida os primeiros líderes europeus vítimas do que se pode chamar a maldição do Euro.
Desde que o medo tinha começado a espalhar-se pela Zona Euro em Junho de 2010, tinham caído não menos de sete governos: Holanda, Eslováquia, Bélgica, Irlanda, Finlândia, Portugal e Eslovénia. O facto de nove governos terem caído em menos de 18 meses – e mais um outro para breve – foi em si próprio notável.
Mas o Euro não se tornou apenas a máquina assassina de governos. Deu também força a uma nova geração de movimentos populistas, como o Partido Holandês para a Liberdade e os Verdadeiros Finlandeses. A Bélgica estava à beira de se partir em duas. As próprias estruturas da política Europeia estavam a soçobrar.
Quem seria o próximo? A resposta era óbvia. Nas eleições de 20 de Novembro de 2011, o Primeiro-Ministro espanhol José Rodriguez Zapatero, foi derrotado. A sua derrota era tão previsível que ele tinha decidido, logo em Abril, não se recandidatar.
E depois dele? O próximo líder em foco era o Presidente francês, Nocolas Sarkozy, que ia candidatar-se à reeleição, em Abril seguinte.
A questão que bailava na cabeça de toda a gente, em Novembro de 2011, era se a união monetária europeia – tão penosamente criada nos anos 1990 – estaria prestes a colapsar. Muitos observadores pensavam que sim. Com efeito, o muito influente Nouriel Roubini da Universidade de Nova York defendeu que não só a Grécia mas também a Itália deviam sair – ou ser expulsas – da zona euro.
Mas, se isso acontecesse, é difícil conceber como é que a moeda única poderia sobreviver. Os especuladores teriam imediatamente focado a atenção nos bancos do próximo elo mais fraco (provavelmente a Espanha). Entretanto, os países que tinham saído davam por si em piores condições do que antes. De um dia para o outro, todos os seus bancos e metade das suas empresas não financeiras teriam ficado insolventes, com débitos denominados em euros, mas com activos em dracmas ou liras.
Restaurar as velhas moedas teria sido também um processo ruinosamente dispendioso numa situação de déficitesjá crónicos. Teria sido impossível obter novos empréstimos para se financiarem sem ser pela emissão de moeda. Estes países ver-se-iam rapidamente numa espiral inflacionista que anularia quaisquer eventuais benefícios da desvalorização.
(Continua)