Desindustrialização, Globalização, 3ª Série, 4ª Parte- Crescimento e produtividade – um texto para Álvaro Santos Pereira ler a Passos Coelho – um relatório da McKinsey – I. Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

 

Um texto da Mckinsey, um texto sobre crescimento e produtividade. Um texto para alguém ler e reler aos ignorantes do nosso Governo  em Conselho de Ministros, em grupo, como terapia de grupo, a tentar por esta via que se minimizem os estragos que ao futuro deste sítio, outrora país e que  país com projecto de futuro  há-de voltar a ser.. Talvez assim consigam perceber, menos o Gaspar, menos o Álvaro da Economia, menos aquele que dá por nome o nosso Primeiro, porque  esses garantidamente da lógica deste texto nada conseguirão aprender, que de capitalismo nada tem o que andam a fazer…

 

Um texto escrito numa das poucas catedrais do capitalismo moderno, um texto que se enquadra nesta nossa longa série sobre Globalização e Desindustrialização, um texto seriamente a ler, apenas, e confrontar com a ideia de crescimento e de produtividade que o ignorante do nosso ministro Álvaro Pereira e do seu Chefe, a confrontar com a visão de pré capitalismo ou mesmo de feudalismo que neste governo se anda por aí a defender, a exercer.


E é tudo. Boa leitura.

 

Júlio Marques Mota

 

 

Como competir e crescer: um guia para uma política por sectores

 

Mckinsey  Global Institute 

 

 

À medida que saímos lentamente da primeira recessão global que se verificou desde a Segunda Guerra Mundial, os governos e as empresas partilham um primordial objectivo para orientarem as suas economias e para aumentarem a sua competitividade e o seu crescimento económico. Muitos dirigentes de empresas defendem um maior papel para o governo neste mesmo movimento. O ex-presidente da Intel Corporation, Craig Barrett, apelou aos governos para implementarem políticas ” que façam com que aumente o número de pessoas inteligentes e com ideias inteligentes[1].” O Presidente da Rolls-Royce Sir John Rose defendeu que a crise de crédito, credit crunch, se deve transformar num catalisador para uma maior atenção sobre a competitividade na industria.[2]

 

 

Alguns governos já estão a ter políticas mais pró-activas na tentativa de impulsionar o crescimento e a competitividade. Dada a fragilidade da situação económica em geral e da industria em particular e dada a tensa situação das finanças públicas, a responsabilidade de colocar em marcha a política correcta e, assim, de criar uma base sólida para crescimento a longo prazo, é muito importante.


A política de aumentar o crescimento e a competitividade é um desafio constante entre as prioridades no leque das políticas económicas, mas a experiência passada mostra que os governos têm tido, na melhor das hipóteses, um resultado misto nesta matéria. Têm havido sucessos sólidos, mas também algumas falhas prejudiciais – ineficácia de algumas intervenções que provaram ser onerosas para o erário público-, e até mesmo alguma regulação que teve impacto negativo e ou imprevisto para a dinamização  da actividade económica.


Uma importante explicação pela qual a intervenção governamental nos mercados nem sempre tem sido acertada é que a sua acção tende a basear-se na análise académica e política mas feita sobretudo à escala macroeconómica para compreender a competitividade – por outras palavras, para determinar se um país é “mais competitivo” que outro.


A análise tipo top-down que parte do quadro geral da situação para depois descer a níveis mais específicos, mais particulares, como por exemplo partir da análise macroeconómica para se situar depois ao nível da análise micro, também falhou em compreender o facto de que as condições que promovem a competitividade diferem significativamente de sector para sector e assim, portanto, falharam em determinar a regulação e as políticas potencialmente mais eficazes. O McKinsey Global Institute (MGI) analisou os resultados em mais de 20 países e em cerca de 30 sectores na indústria (ver caixa 1 “A definir a competitividade sectorial e o crescimento”). Com base na nossa experiência, acreditamos que a elaboração de políticas eficazes precisam de uma outra abordagem para a sua determinação.


Somente através da analise sobre o que impulsiona o crescimento e a competitividade nos diferentes sectores da economia e, em seguida, adaptando a resposta política e a execução da política em estreita colaboração com o sector privado é que se pode aumentar as possibilidades dos governos intervirem de forma eficaz. O presente trabalho procura fornecer as ideias fundamentais baseado nos factor-chave para ajudar os governos a tomarem as decisões correctas e os trade-offs necessários, com base nos principais resultados que MGI com o presente pretende ilustrar.


 

Caixa 1

A definir a competitividade sectorial e o crescimento

 

A competitividade é um conceito de contornos muito difusos e muito usado para significar muitas coisas diferentes. Para cada sector, MGI define a competitividade como sendo a capacidade para sustentar o crescimento, quer através de aumento da produtividade ou quer através da expansão do emprego quer através das duas coisas.[3]

 

 

Um sector competitivo é aquele no qual as empresas melhoram os resultados da sua actividade, aumentando a produtividade através da melhoria da sua gestão e das inovações tecnológicas e a oferecer melhor qualidade ou menor preço nos bens e ou serviços fornecidos, ampliando a procura dos seus produtos.

Essa abordagem permite-nos lançar luz sobre a dinâmica microeconómica que está por detrás do crescimento de cada sector, para identificar as variações no desempenho relativo de diferentes sectores competitivos e, assim, analisar o impacto das escolhas de diferentes políticas sobre o crescimento e sobre o emprego.

A definição utilizada neste trabalho da MGI aplica-se igualmente aos sectores que produzem produtos comercializáveis​​, como os automóveis e como os que produzem serviços não comercializáveis internacionalmente​​, como o sector de venda a retalho.

Capturando a participação no mercado global. Para os bens e serviços internacionalmente negociáveis, a competitividade ganha intuitivamente sentido como sendo também a atractividade de um local para novos investimentos e a capacidade de operar localmente para competir num espaço regional ou global, gerando crescimento a nível global. Por exemplo, Por exemplo, o Brasil tornou-se o maior exportador de aves do mundo através da combinação das melhores práticas a nível global com os baixos custos dos factores; como um resultado desta política a indústria de criação avícola criou empregos e gerou crescimento na economia como um todo.


O crescimento do mercado interno. Para os serviços locais, nós também interpretamos a competitividade como sendo a capacidade de gerar crescimento. No entanto, nesses sectores, o crescimento vem ou resulta da criação e ou da expansão de um mercado interno. Os sectores de serviços que oferecem serviços atraentes e produtos a preços igualmente atraentes para os consumidores e para as empresas locais vão criar empregos e aumentar a produtividade. Por exemplo, um maior custo e uma oferta mais limitada de serviços de restauração e hotelaria na Suécia explica a razão pela qual os consumidores suecos gastam menos de metade neste tipo de despesas que os consumidores no Reino Unido

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Estrutura e evolução das contribuições sectoriais para o crescimento: a crítica sobre a visão tradicional


Para alcançar uma melhor compreensão dos factores que desencadeiam o aumento de competitividade bem como das políticas que na prática têm sido bem sucedidas na sua concretização, estudamos aqui a competitividade e o crescimento de seis indústrias ou sectores (Vendas a retalho, software e serviços assentes nas tecnologias de informação, turismo, siderurgia, automóveis e semicondutores) em oito ou mais países e em cada caso estão incluidas as economias emergentes e os países de altos rendimentos. Baseando-se nos dados das contas nacionais e nos conhecimentos e na experiência global da McKinsey, calculámos diferenças nas performances de crescimento de cada sector entre os países e avaliámos que factores têm sido fundamentais para explicar a evolução da competitividade de cada sector (por exemplo, níveis de formação e especialização dos trabalhadores, e rendimentos de escala em produtos como os semicondutores; acesso a baixo custo nas matérias-primas e na energia e processos produtivos eficientes na obtenção de aços).


A seguir estudamos como é que as diferentes políticas influenciaram os níveis de competitividade assim como é que estas funcionaram como elementos capazes de terem desencadeado o seu crescimento económico dos diferentes países.


Este relatório partilha algumas das principais conclusões das nossas investigações. Acreditamos que as lições que emergem dos nossos estudos de casos sejam elas aplicáveis ​​a outros sectores, aos actuais ou aos que ainda são apenas emergentes e aplicáveis também em países de diferentes níveis de rendimento.


Ao analisar a competitividade a nível sectorial nós chegamos às conclusões contrárias às que muitas decisores na política económica pensam e defendem sobre as tarefas que têm em mãos. Muitos governos preocupam-se com a “combinação económica, a economic mix ” e assumem que, se conseguirem a combinação “correcta”, maior será a competitividade e o crescimento que então se lhes seguirá; a nossa análise conclui que a a definição e resolução do mix a alcançar não é suficiente. Para evitar a perda de esforço e de recursos, os políticos e decisores não podem aceitar que a mesma receita e a mesma visão sirvam para todas as situações, propondo soluções e políticas idênticas para a concorrência global entre os diversos sectores, sendo certo que não é facil para os governos influenciarem directamente e muito menos largamente estes sectores nacionais onde a regulamentação é muitas vezes decisiva. Enquanto muitos políticos vêem as tecnologias inovadoras como a resposta aos desafios para a criação de empregos, a nossa análise indica que os governos tendem a ficar desapontados com tais esperanças. Pode-se não captar a imaginação popular, mas a procura de novos empregos é muito mais provável dar frutos com o desenvolvimento das grandes actividades locais e nos serviços fornecidos às famílias. Os decisores políticos também precisam de ter em conta o estágio de desenvolvimento da sua economia. As contribuições sectoriais para o crescimento do PIB variam a diferentes níveis da evolução económica de um país e os políticos precisam de aprender diferentes conjuntos de conhecimentos nos seus esforços para aumentarem o crescimento e a competitividade.[4]

Algumas das ideias fundamentais resultantes do nosso trabalho de investigação são:


A competitividade dos sectores é mais importante que o mix dos sectores. Alguns governos preocupam-se com o “mix” das suas economias, mas nos nossos trabalhos verificámos que os países que superaram os seus pares não têm um mix mais favorável dos sectores que os conduza a um maior crescimento económico. Em vez disso, porém, os seus sectores individuais são, isso sim, mais competitivos. Os sectores que alimentaram o crescimento através da obtenção de resultados excepcionalmente fortemente variam de país para país. O que os países de crescimento acima da média têm em comum é que os seus actuais grandes sectores em termos de emprego, tais como o do comercio retalhista e o do restauração, processamento de alimentos e o da construção, aumentam de importância relativa através do seu mais forte crescimento.

 

(Continua)


[1] Davos: Craig Barrett on the post-crisis world, Janeiro, 2009, disponível em:

http://blogs.intel.com/csr/2009/01/.

[2] “Made in Britain,” World na edição de 2009, Economist, Novembro, 2008.

[3] Por crescimento sectorial entende-se acréscimos no valor acrescentado do sector – a contribuição do sector para o crescimento do valor acrescentado global. O impacto geral da economia sobre o crescimento é uma função das contribuições específicas de cada sector e as variações são expressas em taxas que se situam abaixo e acima da média.

[4] No início da fase pós-agrícola os sectores industriais dos países de rendimentos médios tendem a atingir um pico e depois a decaírem. Nestas economias, os sectores de produção de bens materiais contribuem quase em cerca de metade do crescimento económico global, com os serviços a contribuírem com o resto. Quando o rendimento aumenta, a parte dos serviços continua também a crescer. Entre 1995 e 2005 quase 90 por cento do crescimento total do PIB nos países desenvolvidos veio do sector serviços.

 

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