Desindustrialização, Globalização, 3ª Série, 4ª Parte- Crescimento e produtividade – um texto para Álvaro Santos Pereira ler a Passos Coelho – um relatório da McKinsey – II. Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

(Continuação)

 

Para criar empregos, a competitividade do sector de serviços é a chave


Muitos governos olham para os sectores da indústria transformadora como uma nova fonte de crescimento e de emprego no rescaldo da crise do sector financeiro e do imobiliário. Mas com o nosso trabalho concluímos que os serviços continuarão a ser fundamentais para a criação de emprego. As melhorias de produtividade são um fator-chave em todos os sectores, mas o crescimento em postos de trabalho tem vindo sobretudo do sector dos serviços. Em economias de altos rendimentos per capita, os sectores dos serviços representam um crescimento do emprego líquido positivo entre 1995 e 2005.


Mesmo em países de rendimento per capita médios, onde a indústria contribui em cerca de 50 por cento no crescimento do PIB, cerca de 85 por cento dos novos empregos vieram do sector serviços. Assim, os decisores políticos devem assegurar que os sectores de serviços domésticos também continuam a aumentar de importância em termos de emprego.

A política económica que actua directamente sobre a competitividade do sector de bens não comercializáveis ​​internacionalmente tem efeitos indirectos sobre a produção dos bens e serviços negociados internacionalmente levando a que seja mais complicado a determinação da política correcta.


Os decisores políticos devem ter em conta o facto de que a sua influência sobre grande parte da produção dos bens e serviços internacionalmente não negociáveis, os sectores ditos ​​”domésticos, é mais directa do que ela é nos sectores que são concorrentes globalmente, sectores de bens e serviços negociados internacionalmente. Nos sectores não comercializáveis internacionalmente, os resultados obtidos pelo sector correlacionam-se mais estreitamente com a política do meio ambiente local que estabelece as “regras do jogo” para a dinâmica do mercado concorrencial global. Entretanto, nas telecomunicações ou no sector de vendas a retalho, os estudos de casos mostram que os resultados da produtividade e do emprego dos países reflectem os incentivos para as empresas que são estabelecidos pela regulação. A regulação que elimina barreiras à entrada de novas empresas tende a aumentar a concorrência e a produtividade, ao mesmo tempo que as leis flexíveis sobre a contratação, mais baixo salário mínimo e aumento dos empregos a tempo parcial estão correlacionados com mais elevado volume de emprego e com mais rápida adaptação à mudança. As mudanças políticas podem ter incidência nos resultados sectoriais alcançados no espaço de dois a três anos.[1]

 

 

Nos sectores de bens e serviços negociados internacionalmente em que o sucesso exige que as empresas locais sejam competitivas no mercado regional ou no global, a política económica exige uma mais larga compreensão da paisagem da indústria a nível global. Algumas regulações podem de modo inesperado interromper o crescimento do sector, como, por exemplo, aconteceu quanto às exportações russas de software dados os requisitos a que a este sector obrigava o obscuro sistema de segurança nacional. Além disso, os incentivos financeiros para as iniciativas que não tiveram sucesso podem custar milhares de milhões aos governos- como tem acontecido com muitas joint-ventures nos semicondutrores em todo o mundo. Para as melhores possibilidades de crescimento sustentado, os esforços para se conseguir aumentar a competitividade devem identificar e orientar as actividades com um potencial real para a obtenção de vantagens competitivas e devem basear-se na lógica de negócios sólidos.


A competitividade nos novos sectores inovadores não é suficiente para impulsionar a economia em sentido lato quanto aos volumes de emprego e à taxa de crescimento económico.


Muitos decisores colocam as suas esperanças hoje em novos sectores inovadores, tais como tecnologias limpas como sendo a resposta aos desafios da competitividade, do crescimento e do emprego. No entanto, os sectores inovadores emergentes são ainda demasiado pequenos para fazer a diferença relativamente ao crescimento global da economia como um todo. Tomemos o caso dos semicondutores. Com emprego de 0,5 por cento ou menos, mesmo nas economias com maturidade tecnológica, a contribuição directa deste sector para o PIB é limitada. Mas as inovações em curso no sector têm contribuído para a adopção de tecnologias da informação que melhoraram os processos de trabalho nas empresas e aumentaram a produtividade em muitos outros setores e, portanto, é significativa a diferença para o crescimento de toda a economia. No entanto, esses benefícios em sentido lato, não necessitam muitas vezes que os seus fornecedores sejam locais. De facto, os esforços na política seguida para proteger o crescimento dos sectores de produção local, tais como as características normalizadas e únicas para as televisões no Brasil podem bloquear o crescimento, se aumentam os custos e se reduzem a adopção e a utilização de novas tecnologias. Por exemplo, as baixas tecnologias, empregos verdes em serviços locais, tais como a melhoria nos isolamentos na construção e a substituição de sistemas aquecimento e de refrigeração obsoletos, têm um maior potencial para gerar empregos do que o desenvolvimento de soluções de tecnologias renováveis. Para os decisores políticos preocupados com a redução de emissões de carbono em termos de curto prazo, forçando à adopção e à difusão de soluções de baixo teor em carbono é provável que façam uma diferença maior do que somente a produção das tecnologias.

 

Os governos precisam de políticas adequadas para cada sector


Estabelecer políticas sectoriais, uma a uma, sector a sector, para a miríade de diferentes sectores de uma economia é uma tarefa complexa. Por esta razão, nós criámos um novo quadro de trabalho que esperamos ajude a esclarecer o sentido das abordagens governamentais para aumentar a taxa de crescimento e a competitividade tornando a análise necessária mais operacional, menos pesada, mais flexível.


Com a nossa metodologia identificámos seis grupos sectoriais em que se partilham características semelhantes e se procura responder a abordagens semelhantes para aumentar a competitividade: (1) Serviços de infra-estruturas; (2) serviços locais; (3) serviços às empresas; (4) despesas em investigação e desenvolvimento (I & D)- ( 5) indústria transformadora intensiva ; e (6) indústrias intensivas em recursos (Esquema E1).

 

Em cada um destes grupos, nós mostrámos por um lado que as alavancas de competitividade são, na verdade, várias e por outro lado mostramos como é que a política tem influenciado a competitividade em cada um dos grupos. Nós acreditamos que estas seis categorias fornecem uma estrutura útil para compreender o que determina a competitividade nos diferentes tipos de indústrias e para se saber que acções concretas é que os governos e as empresas podem tomar para melhorar a competitividade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O leque das intervenções de políticas públicas situa-se num espectro que vai desde a não intervenção limitando-se a criar as instituições de mercado necessárias até ao outro extremo que é o de ser um operador central no sector. Foram analisadas as políticas utilizadas em diferentes sectores em quatro categorias que demonstram uma crescente intensidade de intervenção:

 

 

1. Definindo as regras básicas e a direcção. Os governos podem limitar as políticas do sector para estabelecer o quadro regulamentar, incluindo os mercados de trabalho e de capitais e a regulação da actividade empresarial em geral e definindo também as grandes prioridades nacionais e as trajectórias adequadas.

2. Construção de infra-estruturas. Sem interferir com os mecanismos de mercado, os governos podem apoiar o sector privado através da expansão de infra-estruturas directa e indirectamente ligadas à actividade do sector ; forte papel na educação, na formação de uma mão‑de‑obra especializada e no apoio às actividades I&D.

3. Moldando o comportamento dos agentes. Os governos podem optar por criar condições favoráveis ​​para a produção local, normalmente por meio de protecção comercial contra a concorrência global; através do fornecimento de incentivos financeiros para as operações locais, ou então a moldar o crescimento da procura local através de compras públicas ou através da regulação.

4. Desempenhando o Estado o papel de actor principal. Com uma finalidade intervencionista dentro do espectro, os governos podem desempenhar um papel directo através do estabelecimento de empresas estatais ou subsidiadas; financiando actividades existentes para assegurar a sua sobrevivência e impondo a reestruturação em certas indústrias.

 

 

Encontramos sinais claros que nos levam a ligar as alavancas sobre a competitividade sectorial a uma política eficaz, facto que os governos precisam de introduzir na sua concepção de políticas sobre a competitividade (Esquema E2). Nos sectores domésticos ou virados para o plano interno, como as telecomunicações ou como o sector comercial de vendas a retalho que têm pouca exposição à concorrência externa, a legislação local pode ainda determinar directamente as regras do jogo e, portanto, orientar a evolução da competitividade e do desempenho de forma radicalmente diferente de sector a sector local.

 

Esquema E2

 

(Continua)

 

 


[1] William Lewis, “The Power of Productivity: Wealth, Poverty, and the Threat to Global Stability,” Chicago University Press, Nova edição, Outubro, 2005.

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