Novas Viagens na Minha Terra – Série II – Capítulo 44. Por Manuela Degerine

 Um Café na Internet

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornadas Europeias do Património: Felicitas Iulia Olisipo


            No dia 23 de setembro de 2011 participei numa visita guiada incluída no programa das Jornadas Europeias do Património – ao Museu do Teatro Romano. Ora imaginem os leitores a Olisipo do primeiro século da nossa era, “municipium civium Romanorum”, entre a colina do castelo e a atual Rua da Alfândega, exportadora de vinho, azeite, fruta, “garum” e outros condimentos. Olisipo tem muralhas, aqueduto, esgotos, arruamentos, fórum, estátuas, termas, templos, necrópole, tem “domus” com mosaicos, tem prédios de dois ou três andares, tem lojas, oficinas, fábricas, armazéns, tem magistrados, soldados, escravos, oleiros, ferreiros, curtidores, ourives, músicos, professores de grego, professores de retórica, tem parasitas, tem prostitutas, tem na primavera vendedores de cerejas, tem no outono vendedores de castanhas, tem cavalos, carroças, barcos a chegar com gente e mercadoria, barcos a partir com gente e mercadoria, tem cores, cheiros, gritos… Tem uma alegre prosperidade.

 

 

          O teatro foi construído no império de Augusto e – em parte – renovado em 57 por um liberto enriquecido (Caius Heius Primus), calcula-se que acolhesse entre três mil e cinco mil espetadores; era um espaço de diversão, encontros e ostentação. Para além do “pulpitum” (palco), onde os atores representavam, havia o “proscenium”, que separava o palco das personalidades, as quais assistiam ao espetáculo sentadas em cadeiras, por detrás das quais se situava a “prima cavea” (primeira bancada), para os ricos e cavaleiros, por cima desta a “media cavea” (segunda bancada), para o povo e, por fim, lá em cima, a “tertia cavea” (terceira bancada), para os escravos.

 

 

             Calcula-se que o teatro de Olisipo se mantivesse ativo até ao século IV, depois os visigodos, mais tarde, os árabes, retiraram-lhe os materiais e ocuparam o espaço com outras construções. Após o terramoto de 1755, descobrem-se as ruínas, mas volta-se a construir neste lugar. Houve por aqui no século XVIII um armazém de cereais, no século XIX uma casa de família, da qual podemos ver os azulejos do pátio, no século XX uma tipografia, uma fábrica de luvas e malas… Os arqueólogos conseguiram pôr à vista as colunas (de base quadrada) que sustentavam o tabuado do palco, parte do proscénio, da orquestra, da primeira e da segunda bancadas. O museu expõe estátuas de silenos, moedas, lucernas e outros vestígios aqui encontrados.

 

 

              A visita permite – mesmo a quem não é arqueólogo – compreender como o espaço revela o tempo. E, não acham?… É vertiginoso.

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