Globalização e Desindustrialização-4ª Série – Júlio Marques Mota

Capitulo I. Retratos da Desindustrialização 1.3

 

Quem são os compradores das empresas francesas? por Anna Villechenon

 

Assalariados no fabricante de roupa ínteriorLejabyem Lyon. Uma após outra, as falências das empresas dão origem a preocupação oua raiva, decepção ou resignação, quer entre os assalariados quer seja na opinião pública.

 

Mas elas alimentam também muitos discursos políticos. Hoje em dia, é o Partido Socialista que decidiu fazer disto o seu cavalo de batalha, em plena campanha presidencial.

 

Enviado por FrancoisHollande ao último site de produção do fabricante francês de roupa interior Lejaby, Yssingeaux (Haute-Loire), Arnaud Montebourgfustigou, na sexta-feira, 27 de Janeiro, a desindustrialização da França.

 

“Muitos industriais e financeiros (…)” “resgatam as empresas para comprarem a marca, as patentes e, depois, deslocalizarem “, lamentou o ex-candidato às primárias Socialista , frente a 93 empregados bastante inquietos.

 

Os políticos à cabeceira das empresas

 

O fenómeno não é novo. Uns após outros, os políticos sucedem-se regularmente à cabeceira das empresas moribundas e disso se aproveitam, em geral, ao comprometerem-se a encontrar compradores e para salvar os empregos dos trabalhadores. “Esta é a corrida a ver quem vai salvar mais empresas”, diz-nosNicolas Bouzou, economista a trabalhar com a empresa Asterès.

 

No caso de Gandrange (Lorena), o site da antiga siderurgia Arcelor-MittalSteel tornou-se um local de peregrinação para os políticos desde a altura que fechou , o que Nicolas Sarkozy tinha prometido evitar.

 

Foram penas perdidas. ” Não se pode ajudar a retomada de uma empresa com dinheiro público no momento sem que esta seja uma empresasolvável”. No caso de Heuliez e SeaFrance, para citar apenas estas duas empresas, estamos em face de resgates políticos”, avisa .Bouzou”.

 

Segundo ele, ” as regiões ou os Estados ajudam-nos para mostrarem que eles podem agir sobre a economia e proteger os empregos”. “Mas não isto não são acções perenes: se não se tem mais necessidade, se já não se tem clientes, a empresa não poderá ser salva indefinidamente”. “Isso é o mesmo que procurar encher o barril com a torneira aberta,” diz-nos Vignau Gautier, consultor independente financeiro.

 

Pertencer ao mesmo sector: uma garantia de sucesso para os compradores.

 

“Os estudos mostram que na maior parte dos casos são os actores que vêem do mesmo sector que retomam os negócios, sublinha Nicolas Bouzou.” “Isto pode ser um chefe de empresa quecomprou um dos seus concorrentes para se expandir ou um consultor que trabalhou no mesmo sector durantevários anos e quer começar a lançar-se”, diz-nos a título de exemplo.

 

A prática e o bom conhecimento do meio que têm estes actores dão-lhes uma maior probabilidade de terem sucesso na retoma da empresa. É também neste sentido que Arnaud Montebourg retorna ao site da Lejaby, acompanhado pela co-fundadora da marca de roupa interior feminina PrincesseTamTam, que tem como projecto para aí produzir o “Made in France”.

 

Mas ainda é necessário que osactores do sector tenham os meios. “Uns grandes números de empresas encontram-se sem compradores, como no sector dos laboratórios de biologia médica”. Os seus directores têm uma média de 60 anos e muitos partem para reforma . “Mas é-lhes mesmo muito difícil encontrar um comprador jovem porqueos laboratórios têm-se reagrupado nestes últimos anos, e são, portanto, muito mais caros”, afirma.

 

A difícil retoma pelos assalariados

 

Sendo claro que os assalariados fazem parte dos primeiros a deseja salvar a sua empresa, eles não estão no entanto disponíveis para a sua aquisição. “Estes casos de recuperação são mais delicados porque os assalariados nãotêm obrigatoriamente a necessidade ou as competências para a respectiva compra “. “Para que estes processos de aquisiçãose passem bem é melhor não os conseguir de forma apressada”, disse Bouzou.

 

Último exemplo bem datado, os assalariados da companhia ferroviária SeaFrance,- em processo de liquidação –foram incitados por Nicolas Sarkozy para a aquisição da empresa , através da criação de uma sociedade cooperativa e participativa (SCOP) pelos funcionários. Com efeito, o Presidente pediu a SNCF para prestar a sua assistência ao projecto deSCOP, pagando indemnizações de despedimento excepcionais aos empregados.

 

Mas muito rapidamente, esta solução foi muito polidamente recusadapelos assalariados. “A solução esboçada ” pelo Presidente da República “não pode ser considerada por causa da insegurança jurídica que esta implica “, escreveram numa carta aberta ao Presidente, no início de Janeiro, os líderes da CFDT. O projectode retoma pela cooperativa é desde então apoiado por Eurotúnel, que se oferece para comprar os navios da empresa para os alugar à SCOP.

 

Os Fundosde investimentoscada menos candidatos à retoma.

 

“A aquisiçãopelos fundos de investimento é menos corrente, porque muitas vezes eles preferem comprar uma parte do capital da empresa, em vez de a comprarem na totalidade” analisa Nicolas Bouzou. Estamos, portanto, longe das aquisições em massa dos anos 2000. “Depois do rebentamento da bolha de Internet, em 2002, esses fundos têm recorrido enormemente às aquisições por LBO (leveragedbuyout ).” Muitas destas aquisições tiveram uma boa carreira. “Alguns, como por exemplo, Blackstone aproveitaram a ocasião para se introduzir na Bolsa “, referencia Vignau Gautier.

 

No entanto, “esse frenesim de resgates parou no momento em que aparece a crise.” A partir de 2008, a torneira do crédito secou-se um pouco, por causa das restrições ao crédito e do problema das condições de liquidez”, diz Vignau .

 

No caso da refinaria daPetit-Couronne (Seine-Maritime) do grupo suíços Petroplus, a esperança renasce através do grupo de investimentos GaryKlesch, sociedade americana pelo homem de negócios com o mesmo nome.

 

Uma chance que não terão, infelizmente, todas as empresas francesas, que – a crise obriga – têm muita dificuldade em encontrar um comprador. E tanto mais assim que elas estão cada vez mais propensasa encontrarem-se numa situação de falência.O INSEE, indicou, sexta feira passada, que o seu número aumentou de 9,4% em Agosto de 2011.

 

Anna Villechenon; Qui sont les repreneurs des entreprises françaises ?, Le Monde, 27.01.12

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