Desde a sua adesão à União Europeia (EU), que então era ainda a Comunidade Económica Europeia, que os responsáveis do Estado Português têm norteado o seu comportamento e o seu discurso pela obsessão do “bom aluno”. É, lamentavelmente, a implícita aceitação de um estatuto de subalternidade perante os “mestres”, de quem tem de se mostrar merecedor da tolerância com que foi aceite no clube dos poderosos, do primo pobre que tem de se comportar bem para ser admitido na sala de visitas da família chique. Os fluxos de dinheiro da ajuda dos nossos anfitriões a isso obrigavam, ainda que o preço fosse a nossa agricultura, a nossa pesca, a nossa frota mercante, alguma da nossa indústria transformadora, o nosso modelo económico inscrito na Constituição da República. Até que, em tempo de crise que atingiu toda a UE, o bom aluno foi atirado para o lixo.
A versão actual do bom aluno é a sujeição à austeridade da “troika” e a alienação do que resta do nosso património público. Mesmo que se reconheça que a receita está a arrastar Portugal para o abismo e a lançar a maioria dos portugueses na miséria, há que ser bem comportado, ir mesmo além das imposições da “troika”, para merecermos a condescendência de não sermos demitidos do clube ou expulsos da sala.
Aqui se inscreve a insólita insistência com que se repete; à saciedade, que Portugal não é a Grécia. Estúpida miopia que impede de ver que nessa lógica, amanhã serão outros, a Irlanda, a Espanha, a Itália, a clamarem que não são Portugal. Ignoram-se os ensinamentos de Brecht, ou de outrem que o terá inspirado, e só se acorda quando chega a nossa vez. Mas então, sem remédio, constata-se que já é tarde.
Perante o drama dos gregos, mergulhados na mesma tempestade que nos envolve, a nossa atitude só pode ser exactamente a inversa. Parafraseando a mensagem que Kennedy celebrizou em Berlim, eu sou um ateniense. A hora é de solidariedade e não de distanciamento. É por isso com sincera simpatia e esperançada expectativa que registo a multiplicação, em Portugal e por essa UE fora, de manifestos e apelos à solidariedade com a Grécia e com os gregos. Se a preocupação do Estado Português é distanciar-se da Grécia, estes apelos distanciam-se do Estado Português e aproximam-se dos gregos.
Na minha entrada na “Viagem dos Argonautas”, com o GDH de 25 de Janeiro com que participei no “Debate – que rumo queremos para a democracia em Portugal”, escrevi a concluir que a defesa da democracia passa por uma luta solidária com todos os povos da UE e, aí, cabe o apelo à solidariedade com os gregos. Porque, de facto, já é da defesa da democracia que se trata.
Na hora que passa SOMOS TODOS GREGOS.
Comunicado do KKE acerca das manifestações de solidariedade com o povo grego, pode ser lido aqui em português:http://resistir.info/grecia/kke_20fev12.html
A solidariedade com os outros povos europeus (e não só) é efectivamente fundamental. Existem entretanto várias questões a pôr. Pezarat Correia, que pensa do risco de um golpe de estado na Grécia?Já agora, queria pôr-lhe outra questão. Que pensa sobre os cenários que poderão ocorrer em caso de uma divisão da UE?