agenda cultural de 20 a 26 de Fevereiro de 2012

 

 

por Rui Oliveira

 

  

   Caros leitores : Numa semana onde nenhum acontecimento cultural se destaca de forma indiscutível, vamos optar, nesta “penta”-sugestão habitual dos eventos que nos parecem hebdomadariamente mais interessantes, agrupá-los em grupos do mesmo género onde poderão os simpatizantes dessa modalidade encontrar um discutível contraste de interpretações.

   Asssim :

  

 

   1.  No campo da música erudita, as duas grandes instituições musicais oferecem concertos onde a execução dos autores mais clássicos é privilegiada.

 

   1.a  Ouça-se na Quinta-feira 23 de Fevereiro, às 21h ou na Sexta-feira 24 de Fevereiro às 19h, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, a sua residente Orquestra Gulbenkian (dirigida pelo jóvem regente polaco em crescente internacionalização Krzysztof Urbanski) acompanhar o pianista Pedro Burmester num programa de onde consta :

 

      Ludwig van Beethoven  Abertura Coriolano

      Johannes Brahms  Concerto para Piano e Orquestra nº 1, op. 15

      Bedrich Smetana  A Minha Pátria (Vysehrad, Moldau, Sárka)

 

   Nota : O programa refere que a inclusão de Smetana (grande estudioso de Beethoven, com quem partilhou “ironicamente” uma grave debilidade auditiva, embora não incapacitante…) nesta temporada designada Wagner + vem de que” o mais conhecido destes seus poemas sinfónicos, a descrição do rio Moldava, acaba com reminiscências do Ouro do Reno de Wagner”. 

 

Pedro Burmester toca aqui de Beethoven o Concerto nº 4 em Sol Maior  op. 58

com a Orquestra Filarmónica das Beiras em Óbidos (Agosto 2001)

 

 

É este o tema de Smetana sobre o rio Moldava (Moldau) de ressonâncias wagnerianas

 

  

   1.b  Contraste-se, no dia seguinte, Sábado 25 de Fevereiro, com a actuação, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém às 21h, dum dos seus grupos residentes, o DSCH – Schostakovich Ensemble dirigido por Filipe Pinto-Ribeiro ao piano que, com a violinista canadiana Karen Gomyo (estreante em Portugal) e o já conhecido e celebrado violoncelista suiço Christian Poltéra, escolheu um programa com um peso esmagador de compositores alemães. Ei-lo :

 

      Johannes Brahms   Scherzo para violino e piano, em Dó menor

      Johann Sebastian Bach  Sonata para violino n.º 3, em Mi maior, BWV 1016      

         (I. Adagio,  II. Allegro,  III. Adagio ma non tanto,  IV. Allegro)

      Ludwig van Beethoven   Sonata para violoncelo e piano n.º 3, em Lá maior, op. 69 

        (I. Allegro ma non tanto,  II. Scherzo: Allegro molto,  III. Adagio cantabile, IV. Allegro vivace)

      Felix Mendelssohn   Trio com piano n.º1, em Ré menor, op. 49                            

        (I. Molto allegro ed agitato,  II. Andante con moto tranquillo,  III. Scherzo: Leggiero e vivace,

         IV. Finale: Allegro assai appassionato)

 

O Schostakovitch Ensemble de Filipe Pinto Ribeiro aqui com Tatiana Samouil toca de Mendelssohn

o 1º andamento da Sonata para violino e piano em Fá maior

 

 

    2. No campo da música contemporânea de raiz marcadamente nacional, mais etnicamente pura ou de combinação de várias geografias e tradições, há concertos de índole diversa.

 

   2.a  A Fundação Gulbenkian convidou para o seu Grande Auditório no Domingo 26 de Fevereiro, às 19h, uma das primeiras estrelas da world music na década de 90, a cantora belga de origem árabe Natacha Atlas, revelada à altura no grupo Transglobal Underground , “colectivo que partia das músicas tradicionais enchendo-as da electrónica mais em voga”. Hoje, o seu nono álbum (2010) “Mounqaliba – In a state of Reversal” que fundamenta o concerto, parte dos textos do poeta indiano Rabindranath Tagore para os conjugar com temas da própria Natacha Atlas e ainda versões de Nick Drake e Françoise Hardy num acompanhamento orquestral  que dispensou o uso da música electrónica.

   Acompanham a sua voz os músicos Samy Bishai violino (que dirige), Alycona Mick piano, Aly Abdel Alim baixo, Louai Al Henawi ney e Ivan Hussey violoncelo

 

Confirma-se neste último trabalho de Natacha Atlas o regresso (sem electrónica) ao registo mais tradicional

 

 

    2.b  A Culturgest optou no seu Grande Auditório, às 21h30 do Sábado 25 de Fevereiro, por dar voz ao resultado do encontro de duas vozes, a da portuguesa Amélia Muge e a do grego Michales Loukovikas em conluio há mais de dois anos para um espectáculo que designaram Periplus – deambulações luso-gregas. É uma homenagem às primeiras circum-navegações em volta da cultura mediterrânica onde se recua até à música e poesia grega antiga, se revisitam temas tradicionais como o rebético e o fado, se evocam canções de embalar e lamentos dos dois países, se descobrem líricas semelhantes em canções galaico-portuguesas e gregas da Ásia Menor e se traz ainda uma Outra Voz convidada (um côro criado no âmbito de “Guimarães Capital da Cultura”).

   Participam assim Amélia Muge voz, braguesa, Michales Loukovikas voz, acordeão, Filipe Raposo piano, teclados, acordeão, Manos Akhalinotopoulos clarino, voz, José Salgueiro percussão, Harris Lambrakis flauta ney e de bisel, teclados, Kyriakos Gouventas violino, viola, bandolim, buzuqui e Ricardo Parreira guitarra portuguesa.

 

   2.c  Será muito curioso incluir neste confronto a estreia face a um público de concerto da jovem caboverdeana Sara Tavares que no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, às 21h da Quinta-feira 23 de Fevereiro, irá cantar o seu mais recente disco “Xinti” de 2009 (e não só) num recital que intitulou Voz Di Vento (um dos temas do álbum) e que “explorará diversas latitudes musicais, desde a de génese em Cabo Verde até ao gospel e a alguma música dita universal”.

 

 

 

 

   3.  Agora no campo da música de jazz, há eventos diversos, uns da forma jazzística clássica, outros abrindo-a a novos territórios sonoros, curiosamente todos no Centro Cultural de Belém. Veja-se :

 

   3.a  O Portico Quartet, grupo do East London, vem ao Pequeno Auditório do CCB na Segunda-feira 20 de Fevereiro, às 21h, praticar uma música inspirada na música electrónica, ambiente e de dança, mas pretendendo traçar horizontes futuristas, cinemáticos, como dizem, “onde a inspiração de Burial, Mount Kimbie e Flying Lotus convive com as texturas de Arve Henriksen e Bom Iver e ecos de Steve Reich e Max Richter”.

   Constituem o grupo Duncan Bellamy  bateria, Milo Fitzpatrick  contrabaixo, Nick Mulvey  hang, percussão e Jack Wyllie  saxofones, electrónica.

 

Ante-audição do novo CD “Line” dos Portico Quartet

 

 

   3.b  Num jazz mais tradicional, o pianista português Rodrigo Gonçalves e o percussionista brasileiro Alexandre Frazão retomam na Quinta-feira 23 de Fevereiro, no hall do Centro de Reuniões do Centro Cultural de Belém, às 22h, a sua longa colaboração de uma década  (pois tocaram quer com nacionais como Laurent Filipe ou Rodrigo Gonçalves, quer com estrangeiros como Von Freeman ou David O’Higgins).

   É mais uma das sessões Dose Dupla Jazz a dois com entrada livre.

 

   3.c  No dia seguinte, Sexta-feira 24 de Fevereiro, às 21h no Grande Auditório do CCB, a ECM Lisbon Series reune com resultados imprevisíveis o trompetista de jazz da Sardenha Paolo Fresu (e de fliscorne), colaborador de Carla Bley e de Uri Caine, com o bandoneon do italiano  Daniele di Bonaventura, que gravou com Enrico Rava, David Murray e muitos outros até Miroslav Vitous. Associam-lhes as vozes muito particulares dos cantores do grupo A Filetta, originário da Córsega e teremos, muito provavelmente, um “hino ao Mediterrâneo e a tudo o que ele simboliza”.

 

Fresu, Bonaventura e A Filetta apresentaram Mistico Mediterrâneo no Festival Jazz sous les Pommiers em Coutances (Mancha) Maio 2011

 

 

    4. Deixámos propositadamente isolado o Concerto segundo do Tríptico da Terra pelo ensemble associado do CCB Sete Lágrimas que tem lugar às 17h do Domingo 26 de Fevereiro no Pequeno Auditório do CCB, quer pelo sucesso do seu primeiro realizado no passado 3 de Dezembro com Mayra Andrade e António Zambujo como convidados, quer pela expectativa para o terceiro previsto para 13 de Maio com Maria Cristina Kiehr. Salienta-se «a qualidade reconhecida e originalidade dos projetos do grupo, mas também … o esforço que têm demonstrado em associar as riquíssimas tradições musical e cultural portuguesas e europeias a uma estética contemporânea, muito adequada aos tempos e públicos actuais …».

   O programa engloba a Missa de Pentecostes de João Madureira (estreada em 2010) e Cantigas de Martin Codax, jogral galego dos séculos XIII-XIV, que serão interpretadas intercaladamente com as partes da Missa “procurando um efeito encantatório”.

   Intervêm pelo grupo Filipe Faria e Sérgio Peixoto associando a voz da soprano húngara Zsuzsi Tóth.

 

No disco Terra a canção dos Sete Lágrimas Ko le le mai (Timor) denuncia a opressão

e o sofrimento do povo maubere

 

 

    5.  Para o fim deixámos o elogio (e o estímulo) a duas iniciativas de fomento do “gosto pela Música” que decorrem em regime de entrada livre desde há algum tempo. São elas :

 

 

   5.a  No Teatro Nacional de São Carlos, em regra às Segundas (por vezes às Quartas) há o chamado Foyer Aberto que conta com frequência com a introdução explicativa e erudita do maestro João Paulo Santos sobre múltiplos aspectos da historiografia musical portuguesa (e não exlusivamente). Iniciativa louvável pelo que muitas vezes presenciei !

   Na próxima Segunda-feira 20 de Fevereiro, às 18h, no âmbito das actividades do Estúdio de Jóvens Intérpretes de Ópera, a soprano Ana Franco e a meio-soprano Catarina Rodrigues, acompanhadas ao piano por João Paulo Santos, cantarão obras escritas por Marcos Portugal para as Infantas. O músico, vivendo entre 1762 e 1830, tê-las-á dedicado às Infantas de Portugal  Dª Maria Isabel de Bragança, Dª Maria Francisca de Assis e Dª Isabel Maria (segundo documento existente na Biblioteca Nacional).

 

 

 

   5.b  Na Sala dos Espelhos do Palácio Foz, noutro plano e em colaboração frequente com a Juventude Musical Portuguesa, também ocorrem recitais vários com presença assídua de músicos convidados por embaixadas estrangeiras, sempre de acesso livre.

   Na próxima Quarta-feira 22 de Fevereiro, às 19h, “Dança e Música na Corte Portuguesa no século XVIII” trará um concerto inédito que reunirá danças praticadas nos salões e assembleias frequentados pela nobreza e alta burguesia de Portugal, bem como apresentará um repertório expressivo instrumental de grandes compositores – portugueses e italianos – que trabalharam como músicos para a corte portuguesa, uma das mais ricas da Europa de então.

   No programa estarão :

      Minuetos de Pedro Antonio Avondano, para 2 Violinos e Baixo Contínuo – “Eighteen entire new Lisbon Minuets for Two Violins and Bass” (1770?) e “A Second Sett of Twenty-Two Lisbon Minuets for two Violins and a Bass” (1761);

      Danças da Colectânea de D. Felix Kinski – “Choregraphie o Arte para saber danzar todas suertes de danzas” (1751).

   Os músicos são os do Grupo Ludovice Ensemble (dir. Miguel Jaloto) Joana Amorim flauta de bisel, Bojan Čičić viola d’amore, Nicholas Milne viola da gamba, Miguel Henry tiorba, guitarra barroca, alaúde, cistre, Sofia Diniz viola da gamba, Diana Vinagre violoncelo barroco e Lília Slavny violino barroco e as bailarinas as de Dança Barroca do Grupo Ibero-Americano de Estudos de Danças Antigas (Portugal/Brasil) Catarina Silva, Raquel Aranha e Maria Alexandra Campos .

   Este recital insere-se no âmbito do I Encontro Ibero-Americano de Jovens Musicólogos: por uma musicologia criativa a decorrer em Lisboa.

 

Um dos poucos registos de Pedro Avondano : uma Ladaínha a quatro cantada aqui pelos Les Solistes du Palais Royal em 2008

 

 

 

 

Cordas sobresselentes

 

 

 

   A 20 de Fevereiro (Segunda-feira), na Sala dos Espelhos do Palácio Foz, às 18h30 e com o apoio da Juventude Musical Portuguesa, há um Recital de Guitarra com a presença de Paulo Amorim, guitarrista diplomado pela Academia de Amadores de Música de Lisboa, Royal College of Music e Guildhall School of Music and Drama de Londres, que acaba de editar o seu 3º CD “Incógnito”, inteiramente preenchido com obras suas e gravado num instrumento histórico de 1921, pertença da coleção privada da Fundação Hauser (Munique) que patrocinou a edição.

   O programa é ainda desconhecido, mas a entrada é livre.

 

   Também a 20 de Fevereiro, às 19h30, o ciclo Cinema do Mundo traz ao Auditório do Institut Français de Portugal um filme dos realizadores franceses Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne (autores do recente “O Miúdo da Bicicleta”) “Le Silence de Lorna” (2008), com : Arta Dobroshi, Jérémie Renier, Fabrizio Rongione, Alban Ukaj, Morgan Marinne, Olivier Gourmet, entre outros. (entrada livre)

   “Prémio para Melhor Argumento” no Festival de Cinema de Cannes (2008), a sua sinopse descreve :  “Lorna é uma jovem albanesa que vive na Bélgica, sonha ter o seu namorado Sokol perto dela e ter dinheiro para abrir um café. Lorna tenta encontrar uma saída tornando-se cúmplice de Fábio, um homem dos meios do crime de Liège que trafica casamentos falsos. Mas Fábio está disposto a matar para atingir rapidamente os seus fins e a vida de um homem está em jogo. Será que Lorna vai manter o silêncio?…”. 

 

 

 

   A 21 de Fevereiro (Terça-feira), o CCB traz a Portugal pela 1ª vez o “lendário” e “icónico” (segundo uns) guitarrista, cantor e compositor de blues-rock Joe Bonamassa para um espectáculo que o CCB intitulou “Joe Guitar” mas que se destina a divulgar os temas do seu 12º e próximo álbum Dust Bowl onde, segundo a crítica, “combina os tons determinados, baseados nos blues dos seus primeiros álbuns com os sons fluidos, desafiadores do género, que ele exibe desde então, mais uma dose de Nashville em duetos com John Hiatt e Vince Gill”. 

 

 

 

   Já a 22 de Fevereiro (Quarta-feira), o jazz marca presença no Concerto Antena 2 desta semana que tem lugar no Instituto Superior de Economia e Gestão, às 19h, onde o Trio Gonçalo Marques, composto por Gonçalo Marques  trompete, Demian Cabaud  contrabaixo e Bruno Pedroso  bateria, tocará essencialmente música original, procurando trazer as suas diferentes influências e experiências para o palco, em busca (como é natural) de uma identidade própria e distinta, já tentada no seu primeiro CD “Da vida e da morte dos animais“ (2010, editora TOAP).

 

   Também a 22 de Fevereiro, agora no Museu do Oriente, às 21h, exibe-se no palco do seu Auditório a Royal Thai Dance Troupe, constituída por 32 músicos e bailarinos que vêm a Portugal mostrar a singularidade das artes performativas da Tailândia.

   Para além do famoso épico Khon, de várias músicas e danças de diferentes regiões e períodos da Tailândia, o repertório do grupo inclui, como curiosidade, uma canção composta pelo actual rei da Tailândia Rama IX, de seu nome Bhumibol Adulyadej, bem como um número musical especialmente dedicado aos Portugueses e alusivo às comemorações dos 500 anos de relações diplomáticas entre os dois países.

 

   No Teatro do Bairro, neste 22 de Fevereiro, ocorrem dois espectáculos.

   Estreia, no seu palco, às 21h, Tisanas. Antídoto contra o Cinzento dos Dias”, uma encenação e adaptação de António Pires a partir dum texto de Ana Hatherly “463 Tisanas”, com Alexandra Sargento, Francisco Nascimento e Rafael Fonseca onde “três clowns, deambulando por um mundo imaterial de aparências onde tudo se transforma num ápice, questionam tudo o que vai acontecendo. Questionam até o que nos vão narrando …”

   Às 23h30, Maria Joana Figueiredo e o cineasta João Botelho propõem uma viagem pelos “Fados dos Bairros” lisboetas (uma noite por mês), começando com Gisela João, uma voz considerada “única e extraordinária”, vinda do Minho com convidados e músicos.

 

 

   A 23 de Fevereiro (Quinta-feira), no Jardim de Inverno do São Luiz Teatro Municipal, estreia às 21h (prolongando-se até 26) a dramaturgia de Rita Natálio intitulada em resumo Planetas e Baratas, mas que parte da frase “Não entendo e tenho medo de entender, o mundo assusta-me com os seus planetas e baratas”, projecto que parte da inspiração e transformação de fontes sonoras, visuais e literárias para a construção de uma série de ‘retratos-falados’. “Constrói-se em palco um caderno de notas sobre a identidade, um caderno que espelha a aceleração intelectual e a fragmentação de fontes e saberes”.

   A intérprete e co-criadora é Elizabete Francisca com participação especial de Tiago Barbosa. As fontes textuais foram Clarice Lispector e Ervin Gauffman e as audiovisuais vão de Caetano Veloso e Jean-Luc Godard a Johann Strauss.

 

   Também a 23 de Fevereiro (com permanência até 26), às 21h30 no Maria Matos TM, exibe-se o espectáculo Sangue de David Pereira Bastos a partir da peça Titus Andronicus de William Shakespeare. Com interpretação (e encenação) de David Pereira Bastos, além de Miguel Raposo, Mónica Calle, Ricardo Vaz Trindade, Rui M. Silva, Telmo Bento e Ricardo Raposo,

Sangue” é um espectáculo sobre a vertigem da violência, sobre a solidão e orfandade dos filhos de pátrias, sobre as caras silenciosas que habitam a máscara do poder. Como dizem : “A Lamentável Tragédia de Titus Andronicus serve o nosso propósito;  revoltado – é o nosso nome. Temos tambores, temos um palco, temos voz e corpo para um grito de luz”.

 

 

 

  Ainda a 23 de Fevereiro, às 19h30, no Institut Français de Portugal é exibido, no ciclo Cinema do Mundo, o filme “Le Chaos” (2007) dos realizadores egípcios Khaled Youssef e Youssef Chahine com Youssef El Sherif, Hala Fakher, Hala Sedky, Khaled Saleh, Mena Shalaby, entre outros.        Youssef Chahine

   O decano Chahine realizara já múltiplos filmes (Gare centrale, Alexandrie pourquoi?), sendo um dos seus melhores “O Destino” (1998), um libelo contra o fundamentalismo religioso. Co-assinou Le Chaos, a sua última obra antes de morrer em 2008, com Khaled Youssef, que se estreou aqui na realização depois de ter sido argumentista de vários dos filmes de Chahine.        

   Tema : Amores, corrupção e política num bairro cosmopolita do Cairo e a denúncia dos eternos abismos da alma humana e das aberrações de um país flamejante e de enormes contrastes sociais, como o Egipto.

 

 

   A Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML) espalha mais uma vez  a sua oferta musical por vários espaços durante o fim de semana, não só em Lisboa como nos arredores. O programa total encontra-se em http://www.metropolitana.pt/Fevereiro-2012-1558.aspx , mas destacaremos  a 23 de Fevereiro :

 

   Na Sede da OML, às 18h, o Quarteto Americano de Dvorak (Solistas da Metropolitana) com  Carlos Damas violino, José Teixeira violino, Valentin Petrov viola e Jian Hong violoncelo toca de  Wolfgang Amadeus Mozart  Quarteto de cordas em Si bemol maior, KV. 159 e de Antonín Dvorak  Quarteto de Cordas n.º 12 em Fá maior, Op. 96, “Americano”.

   O concerto repete-se às 18h30 de 24/2 na Casa Fernando Pessoa.

 

   Na Sala dos Espelhos do Palácio Foz, às 19h30, o Trios Eslavos (Solistas da Metropolitana) com Alexêi Tolpygo violino, Peter Flanagan violoncelo e Savka Konjikusic piano interpreta de  Antonín Dvořák  Trio com Piano n.º 4, Op. 90, B. 166, “Dumky (Um pensamento fugaz)” e de  Sergei Rachmaninov  Trio elegíaco n.º 1.

   O concerto repete-se às 18h de 24/2 na Sede da Metropolitana.

 

   No El Corte Inglés, às 19h, o Quarteto de Cordas Joly Braga Santos (Solistas da Metropolitana) com  Adrian Florescu violino, Ágnes Sárosi violino, Irma Skenderi viola e Nuno Abreu violoncelo toca de Charles Martin Loeffler  Música para Instrumentos de Corda e de Joly Braga Santos  Quarteto de Cordas n.º 2, Op. 27 (concerto comentado por Alexandre Delgado).

   O concerto repete-se às 16h de 25/2 no Museu Nacional de Arte Antiga.

 

 

   Agora a 24 de Fevereiro (Sexta-feira) os principais concertos da OML são :

 

   No Cinema São Jorge, às 13h, há um Recital de Viola e Percussão pelos Solistas da Metropolitana  Gerardo Gramajo na viola e Fernando Llopis na percussão para tocar de Daniel Almada  Linde, para vibrafone e fita magnética, de Jeysi León Molina  In the moments, para viola e percussão (estreia nacional), de Luciano Berio  Naturale  e de Karlheinz Stockhausen  Tierkreis: 12 Melodien der Sternzeichen.

 

   Nos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa, às 13h, há um “Concerto chez Madame de Récamier” pelos Solistas da Metropolitana  Jérôme Arnouf trompa, Stéphanie Manzo harpa e Marcos Magalhães cravo com um programa que inclui :  Jean-Baptiste Krumpholz  1.º Duo (original para duas harpas), para harpa e cravo,  François-Adrien Boïeldieu  Duo n.º 2 em Dó maior, para trompa e harpa,  Jean Baur  Sonata n.º 3 em Si bemol maior, para cravo e harpa,  Jean Baur  Sonata n.º 4 em Si bemol maior, para cravo e harpa, Frédéric Nicolas Duvernoy  Noturno em Mi bemol maior para Trompa e Harpa, Op. 32/2 e Jan Ladislav Dussek  Duo para Harpa e Cravo, Op. 11.

   O concerto repete-se às 17h de 25/2 no Museu do Oriente (concerto comentado por Rui Campos Leitão).

 

  Na Sociedade Portuguesa de Autores, às 18h30, os Solistas da Metropolitana  Diana Tzonkova violino, Ercole de Conca contrabaixo e Alexandra Simpson piano tocam de Nino Rota  Trio (original para clarinete, violoncelo e piano) e de António Fragoso  Trio, Op. 2 (original para violino, violoncelo e piano).

 

  Na  Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves, às 19h, há um Recital de Violino Solo onde a solista da Metropolitana  Liviu Scripcaru ao violino interpretará de Carlos Marecos  Portuguese tunes for an english man, de Daniel Schvetz  Milhoverdeando (estreia absoluta), de Christopher Bochmann  Three Caprices, de Ian Mikirtoumov  Kairos (estreia absoluta) e de César Viana  La Scripcaria (estreia absoluta).

   O concerto repete-se às 18h de 25/2 na Sede da Metropolitana.

 

   No Liceu Camões , às 19h, os Solistas da Metropolitana  Bertrand Raoulx fagote,  Raquel Queirós violino,  Anzhela Akopyan violino, Andrei Ratnikov viola, Ana Cláudia Serrão violoncelo e Vladimir Kouznetsov contrabaixo  homenagearão  Astor Piazzolla de quem tocarão 1. Tango Ballet (arr. de José Bragato para quarteto de cordas); 2.  Escualo, para quinteto de cordas ; 3. Concierto del Angel (arr. de Andrea Merenzon) (estreia nacional) ; 4. Oblívión.

   Será um Concerto Aberto Antena 2, comentado por André Cunha Leal.  

 

   Ainda a 24 de Fevereiro (Sexta-feira) na galeria ZDB, às 23h, há a estreia absoluta de Almost a song, o duo recém formado de Joana Sá, piano acústico (autora do muito apreciado “Through This Looking Glass”  e  Luís José Martins na guitarra acústica.

 

   Também a 24 de Fevereiro (e ainda 25), às 22h30, no Ondajazz, o jovem  Rémi Panossian Trio  com Rémi Panossian piano, Maxime Delporte contrabaixo e Frédéric Petitprez bateria propõe-se desencadear um entusiasmo grande pelo seu universo musical que oscila entre romantismo e energia rock.

 

   Ainda a 24 de Fevereiro, mas no Lux Frágil, às 23h, uma lenda do techno de Detroit¸ Kevin Saunderson vem ao nosso país. Dizem os fiéis que o seu disco “Good Life” de 1988 “mostrou aos cépticos que as máquinas também têm alma e marcou o início de uma nova era que nos conduziu até aqui”.

 

   No Teatro da Trindade inaugura-se às 22h de 24 de Fevereiro no espaço de exposições  Round the Corner (coordenado por Ana Pinheiro Torres) a instalação vídeo “O efeito de um livro, expandindo para além da forma” de João Machado que permanecerá até 3 de Março.

 

   Às 16h do mesmo 24 de Fevereiro no Instituto para a Investigação Interdisciplinar (da Universidade de Lisboa) o Prof. João Lobo Antunes (Instituto de Medicina Molecular) profere uma palestra intitulada “ A Neurobiologia das Emoções – uma Introdução”.

 

 

            

 

   A 24 de Fevereiro ainda, no Instituto de Historia Contemporánea da Universidad Nova de Lisboa (à Av.de Berna) às 10h30 tem lugar no Colóquio “História, memória e violência no século XX”, co-patrocinado pelo Instituto Cervantes, uma conferência de Javier Rodrigo Sánchez, professor da Universidade de Saragoça e da Universidade Autónoma de Barcelona e autor das publicações  “Cautivos, Campos deconcentración en la España franquista, 1936-1947” e Hasta la raíz. Violencia durante la Guerra Civil y la dictadura franquista”, intitulada “ A este lado del bisturí. Violencia y fascistización en la España sublevada”.

   O programa integral do Colóquio de 24-25/2 encontra-se em : http://pt-br.facebook.com/ihc.fcsh.unl?sk=app_2309869772

 

 

   A 25 de Fevereiro haverá mais uma das transmissões em directo da Metropolitan Opera in HD visível no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian a partir das 18h. Tratar-se-á de Ernani de Giuseppe Verdi que adoptou o livro Hernani do romancista francês Victor Hugo.

   A orquestra e o coro da Metropolitan Opera serão dirigidos por Marco Armiliato e nos principais papéis estarão a estreante Angela Meade como Elvira, Roberto De Biasio como Ernani, Dmitri Hvorostovsky como Dom Carlo e Ferruccio Furlanetto como Dom Ruy Gomez da Silva.

 

 

 

 

   Também a 25 de Fevereiro, às 16h, no Palácio Nacional da Ajuda, os Solistas da Metropolitana  Diana Tzonkova violino, Ercole de Conca contrabaixo e Alexandra Simpson piano tocarão de  Joly Braga Santos  Concerto para Cordas em Ré menor, Op. 17 (transcrição para violino e contrabaixo) e de António Fragoso  Trio, Op. 2 (original para violino, violoncelo e piano).

 

   E também às 16h de 25 de Fevereiro no Teatro do Bairro Alto poderá ouvir-se a leitura por Luis Miguel Cintra do Sermão do Bom Ladrão do Padre António Vieira que o proferiu em 1655 na Igreja da Misericórdia de Lisboa, perante D. João IV e a sua corte, como um ataque explícito à prática na altura da administração pública. O texto ganha hoje uma tremenda actualidade e ainda surpreende a coragem de Vieira ao intervir do púlpito, com violenta condenação e fundamentando-se em argumentos religiosos, contra o abuso dos impostos, tema considerado profano.  A entrada é livre.

 

   No Teatro Turim em 25 de Fevereiro às 22h os Headcleaners , projeto formado por Joana Machado (voz), Diogo Santos (teclas), João Rato (guitarra), Alexandre Simões (flauta transversal), Bernardo Fesch (baixo), Marcos Alves (bateria) e Rui Alves (percussão) apresentam o espectáculo “Do What You Will” de um estilo identificável com os anos 90 sem incidir no revivalismo das formas, “próximo do deep Jazz, outras vezes trip-hop, que se funde com um post-rock electrónico com alguns elementos exóticos latinos”.

 

 

   A 26 de Fevereiro (Domingo) não há evento musical (logo transitório) de grande vulto a não ser para os amantes do heavy metal que poderão ir às 21h ao Coliseu dos Recreios matar saudades do quinteto norte-americano Dream Theatre no seu show “A Dramatic Turn of Events”.

 

   Resta assim, caro leitor, procurar gozar o repouso do dia numa ala de exposições ou numa sala de cinema.

 

                   

 

   No campo expositivo está na Sociedade Nacional de Belas Artes uma homenagem a Fernando de Azevedo, pintor surrealista, crítico e curador que permanecerá até 30 de Abril. Com curadoria de José-Augusto França, Rui Mário Gonçalves e Cristina Azevedo Tavares, há ali duas mostras. Uma “Um Texto Uma Obra” reúne trabalhos de 91 artistas portugueses que tivessem sido apresentados por ele em alguma exposição individual, estando cada obra acompanhada por um texto de Fernando de Azevedo como prefácio ao catálogo dessa exposição. Existem assim representações que vão de Almada Negreiros, Amadeo de Sousa Cardoso e Vieira da Silva a Júlio Pomar, Nikias Skapinakis, Graça Morais ou Ana Vidigal.

   A exposição “Fernando de Azevedo e os outros” apresenta um núcleo simbólico de obras do pintor, os seus manuscritos e documentos inéditos que evocam as relações de proximidade de Fernando de Azevedo com os artistas e personalidades da área da cultura. Como crítico, “(ele) …  pertencia a uma geração que apostou vigorosamente no vanguardismo. Como artista, poucos escreveram tantos textos de apresentação dos outros como ele. A sua acção distinguia-se pela atenta percepção das coisas e pelo rigor”. 

 

           

      Guache de Fernando de Azevedo (1952-3)          Composição surrealista em que intervieram Fernando de Azevedo

 para ilustração de Tabacaria de Fernando Pessoa     António Pedro, Vespeira, Moniz Pereira e António Domingues (1)

 

(1) cada artista preencheu a sua parte da tela antecipadamente dividida, sem saber o que os outros tinham pintado e ocultado, limitando-se a encadear nas extremidades das formas por eles deixadas visíveis

 

 

 

   No campo cinematográfico, dois filmes, talvez, dominam o panorama do fim-de-semana. Dum não falaremos hoje, o “Le Havre” de Aki Kaurismäki, o finlandês que vive entre nós (Viana do Castelo) há mais de vinte anos e que abordaremos, após a sua visão, em próximo Pentacórdio.

   O outro é o elogiado “A Invenção de Hugo”, a adaptação fiel que Martin Scorsese fez do livro infanto-juvenil de Brian Selznick aproveitando-o para uma homenagem a George Méliès, o pioneiro cineasta de “Le Voyage Dans la Lune”. O virtuosismo com que Scorsese articula os processos originais com o 3D não deixa, contudo, de suscitar reparos de alguns críticos que consideram que “a mediação de um sistema informático (ao invés do procedimento de Méliès que intervem directamente sobre a película) suscita a uniformização estética da imagem cinematográfica… “ (V.Baptista Marques, in Actual). De qualquer forma, certamente um filme a ver !

 

 

 

 

   Ainda na 7ª arte, não podemos fechar sem felicitar a jovem cinematografia portuguesa pelos galardões trazidos do Festival de Berlim 2012, quer o prestigiado Prémio Alfred Bauer (nome do fundador do certame) atribuível a “um filme técnica ou artisticamente inovador” e aqui dado a Miguel Gomes (autor do excelente “Aquele Querido Mês de Agosto”) pelo seu “Tabu”, de quem a crítica disse “é um filme tão incrível de ver como é difícil de explicar o prazer que causa (Diego Lerer, Clarín)”, “um arrebatamento colectivo (Dennis Lim, New York Times), “uma carta fora do baralho (David Hudson, site MUBI), quer também pelo Urso de Ouro das curtas metragens outorgado a “Rafa” de João Salaviza, a sua 3ª curta e que já vencera a Palma de Ouro de Cannes em 2010 com o filme “Arena”.

   Aguardemos ansiosos uma próxima projecção em sala para comprovar se (como anuncia o júri) “abrem novas perspectivas à arte do cinema” e confirmar serem (como diz um dos cineastas) “mais um contributo para um património que está sempre a ser construído”.

 

 

Até para a semana, caros leitores ! 

 

 

 

 

 

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