Suicídio e crise: – por PascaleKrémer (enviado por Júlio Marques Mota)

Suicídio e crise: “É como se a água subisse e ninguém a visse subir”.

 

Se as estatísticas estão ausentes, alguns estudos e o sentir de certos observadores sociais estão sucessivamente a avisar dos sinais crescentes de suicídios ligados à crise.

 

A revista médica britânica “The Lancet” publicou, em 9 de Julho de 2011, um estudo sublinhando o aumento acentuado da taxa de suicídio na Europa desde o início da crise. Dez dos 27 países da União Europeia têm valores para o período 2007-2009 (que exclui a França), durante o qual o desemprego aumentou 35% na Europa: em 9 desses 10 países (com excepção da Áustria), a taxa de suicídio aumentou em pelo menos 5%, enquanto tinha diminuído por todo o lado antes da crise. O aumento é de 8% na Grã-Bretanha, 13% na Irlanda… Na Grécia, um estudo sobre o período 2008-2011 regista um aumento de 40% dos suicídios.

 

O Instituto de Vigilância Sanitária (INVS) comparava em Dezembro de 2011, as tentativas de suicídio entre 2005 e 2010 e observava uma “tendência à alta das tentativas de suicídios nos últimos doze meses”: 0,5% dos entrevistados disseram terem feito uma, contra 0,3% anteriormente. Entre os primeiros factores de risco destacados: odesemprego. SOS Amizade recebe anualmente 11.000 chamadas ligadas ao suicídio. Desde há dois a três meses, a evocação dos problemas relacionados com o trabalho é cada vez mais frequente. “Temos a impressão de entrar no coração da crise”. A situação tem estado a endurecer-se para os que a nós apelam, estes estão em sofrimento psíquico.”

 

Technologia, um organismo de prevenção de riscos psicossociais, tratou de 73 crises suicidas em empresas nestes últimos cinco anos. “Desde 2007, nós verificamos um aumento nas crises suicidas”, alerta o director, Jean-Claude Delgènes, que sublinha uma “aceleração desde Setembro”. “É como se a água subisse e que ninguém a visse subir “. (…) As cerca de 40 pessoas que trabalham no meu gabinete estão sobrecarregadas de exemplos. Os advogados contam-nos tragédias relacionadas com situações de sobreendividamento. Os sindicatos falam-nossobre o que ninguém fala, sobre esses suicídios que aparecem alguns meses depois dos planos sociais, como nos casos de Cellatex ou Moulinex… “

 

Se o trabalho permanece globalmente como um meio de protecção global face à tentativasuicida (os desempregado vulneráveis cometem suicídio duas vezes mais do que os trabalhadores activos), “algumas organizações laborais geram situações de stress crónicas que podem levar a graves depressões, mas também a possibilidades de passagens ao acto”. Na sua opinião, é o caso no sector sanitário e social na linha da frente da crise, onde se pede sempre mais aos assalariados que dispõem de menos meios.

 

Pascale Krémer, Le Monde, Fevereiro de 2012

1 Comment

  1. Viva.O artigo acerca do suicídio é informativo. Mais coisa menos coisa, sabe-se, que, entre nós, a solidão no Alentejo, mata. O suicído é quase uma situação normal, seja, uma stuação que penso esteja já estudada e sabem-se as razões.O drama está aqui.: sabem-se as razões do suicídio mas medidas preventivas nada.Porquê ?João Brito Sousa

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