PEDAGOGOS PORTUGUESES – MARIA LAMAS por clara castilho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Diz-nos o Dicionário que tenho vindo a citar (“O Dicionário de Educadores Portugueses”, ASA, 2003), que Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha (1893- 1983) foi “jornalista e escritora, se dedicou à literatura infantil e às mulheres do seu país e nunca abdicou, durante a sua intensa vida, da condição de cidadão empenhada e combativa”. Tendo casado cedo, foi seu marido que a iniciou na formação política. Dele se veio a divorciar pouco tempo depois, ficando com duas filhas a seu cargo, pelo que começou a trabalhar na imprensa. Casou mais tarde com o jornalista Alfredo da Cunha Lamas, cujo nome passou a usar. Foi professora no Instituto Luso-Belga e escreveu para os mais novos com o nome de Rosa Silvestre. Ficou conhecida pela sua colaboração no suplemento feminino Modas e Bordados de o Século, para onde entrou pela mão de Ferreira de Castro, onde inaugurou a rubrica “O Correio da Joaninha”, onde respondia às leitoras como o pseudónimo de “Tia Filomena”.

Segundo Alice Vieira “as ideias mestras da sua vasta obra infantil, recheada de gente simples, é que nada se consegue sem esforço e sem instrução, sendo a bondade sempre recompensada, verificando-se que o poder do conhecimento e a necessidade de educação para todos estão sempre presentes”.

Pertenceu à Associação Feminina Portuguesa para a Paz (1936) e ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas onde promoveu campanhas de alfabetização e lutou pelos direitos das mulheres mais desfavorecidas. Em 1947, na sequência da exposição Livros escritos por mulheres, foi forçada a deixar a sua colaboração no Século.

 

 

Posteriormente (1948-50) publicou As mulheres do meu País e a Mulher no Mundo (1952), duas obras que retrataram a realidade portuguesa. Por ter pertencido ao MUD, apoiado a candidatura de Norton de Matos, esteve exilada em Paris entre 1962 e 1969. Depois do 25 de Abril filiou-se no Partido Comunista Português. Recebeu várias condecorações. O seu espólio pode ser consultado na Biblioteca Nacional.

No dia 1º de Maio de 1974, com Mário Neves e João dos Santos

Alargando a pesquisa, fiquei a saber que as fotografias de As mulheres do meu País, foram feitas por ela própria o que faz com que muitos lhe reconheçam um papel único no âmbito da produção documental do pós-guerra. “Resolvi arranjar uma máquina e ser eu, também, fotógrafa” ( Ler – Informação Bibliográfica, Publicações Europa-América, Maio-Junho 1994). Nelas se pode ver uma cumplicidade entre modelos e fotógrafa, que é também uma expressão de denúncia social e de esperança ideologicamente associada de um modo muito original ao movimento neo-realista. O livro foi reeditado em facsimili em 2002 pela Editorial Caminho, recorrendo aos originais do espólio conservado pelos herdeiros de Maria Lamas.

Nos anos 70, Maria Lamas vivia muito perto de casa de meus pais. Acompanhei várias vezes minha mãe que a ia visitar e recordo o seu cabelo branco e o ar calmo e sereno. Ainda jovem, era para mim um mistério como aquele rosto poderia ser o da mulher resistente, coerente nas suas crenças e que não se vergava perante ameaças.

 

 

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