DIÁRIO DE BORDO, 25 de Fevereiro de 2012

 

Doze países europeus, encabeçados pela Grã-Bretanha, juntaram-se para colocar na agenda do Conselho Europeu da próxima semana a discussão de um plano de crescimento, pondo assim em causa a prioridade que tem sido dada aos programas de austeridade. Implicitamente põem também assim em causa a supremacia do eixo franco-alemão, que tanto tem sobressaído na abordagem da crise grega, e na aplicação dos programas de austeridade a outros países, entre eles Portugal. E entre as várias propostas que fazem há uma no sentido de pôr em prática  a regra aprovada em Basileia em 2010, sobre o reforço das reservas bancárias, invocando a necessidade de responsabilizar os bancos pelos custos dos riscos que tomaram, e aliviar assim os contribuintes. De notar que a França e a Alemanha têm insistido no adiamento da aplicação desta regra.


Para além da Grã-Bretanha, o grupo inclui a Itália e a Espanha, países que têm sido referidos como precisados de cortes urgentes na despesa pública, e que tiveram mudanças governamentais recentemente, a Irlanda, que está sob intervenção externa, a Finlândia, a Suécia e a Holanda, em situação bastante diferente (a Holanda parece estar a ser ameaçada por uma bolha no imobiliário), a Polónia, a Estónia, a Letónia, a República Checa e a Eslováquia. Não custa perceber que estamos perante uma situação criada por um lado pela ambiguidade da Grã-Bretanha em relação à Europa, e por outro, pela estreiteza de vistas de Angela Merkel, e pela falta de envergadura de Nicolas Sarkozy, que se autopromoveram a chefes da UE. Esta situação pode ser o prenúncio de uma divisão no seio da organização, que eventualmente porá em risco a sua existência.


De notar que Portugal parece manter-se fiel ao Merkozy. Esta opção reflecte claramente a orientação dos actuais dirigentes portugueses, de não hostilizarem os grupos económicos que controlam o nosso país, que têm fortes ligações à banca nacional. E de se desinteressarem do crescimento, o qual, dizem, só poderá ser enfrentado depois de se porem em ordem as contas públicas.  Ainda mais do que isso, reflecte a sua incapacidade (ou o seu desinteresse) em seguirem uma política autónoma em relação às ditadas pela UE, e pelo eixo franco-alemão. As privatizações, perdão, a venda dos nossos melhores activos públicos a empresas públicas estrangeiras em nada desmente estas constatações.


Por seu lado o grupo dos doze poderá sentir-se tentado no futuro a uma maior aproximação aos EUA, que aliás seguem uma política económica semelhante à que estão agora a propor a Bruxelas. Dariam assim continuidade à política da Grã-Bretanha nos últimos decénios, desde Margaret  Thatcher, de equilibrar a pertença à UE com uma ligação aos EUA, incluindo à sua política imperialista. E teríamos uma situação de certo modo análoga à existente anteriormente à criação da CEE. Uma situação que não desagradaria aos EUA, que assim veriam desaparecer um grande concorrente.

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