ISRAEL – como começou o imbróglio – 2 – por Carlos Loures

(Conclusão)

 

Terminada a I Guerra, com a queda do Império Turco, a Palestina passou para administração britânica. E este pormenor fez toda a diferença. Em 2 de Novembro de 1917, pela Declaração de Balfour, a Grã-Bretanha assumia perante a comunidade hebraica o compromisso solene de edificar na Palestina o ambicionado «lar judaico». O documento, enviado ao Lord Rothschild, presidente na British Zionist Federation, foi assim chamado por ser assinado pelo então secretario britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour. Dizia:

 

 “Caro Lord Rothschild, “Tenho o grande prazer de endereçar a V.Exª., em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sionistas, declaração submetida ao gabinete e por ele aprovada: O Governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento na Palestina de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objectivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das colectividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país. “Desde já, me declaro extremamente grato a V.Exª. pela gentileza de fazer chegar esta declaração ao conhecimento da Federação Sionista. “

 

Arthur James Balfour.”

 

Só pela reacção violenta dos árabes, depois de 1920, a Grã-Bretanha percebeu que para resolver um problema, criara outro. Tentou emendar a mão e voltar atrás com a promessa ou, pelo menos, reduzir-lhe o alcance, pondo alguns entraves à migração de judeus para o território.

 

Depois, a II Guerra e o Holocausto reforçaram a ideia de que uma pátria judaica era essencial. Na Palestina, os árabes reagiam com violência à ideia. Mohammad Amin al-Husayni, Grão-Mufti de Jerusalém aderiu ao nazismo e incentivou a realização de pogromes. Hebron, Jafa e Haifa foram palco de incidentes graves. Em 1921, depois do massacre de numerosos anciãos judeus em Hebron, foi fundada a Haganá, com o objectivo de proteger as comunidades judaicas na Palestina. Da Haganá saiu o Irgun, em 1931. O Irgun especializou-se no ataque a alvos militares britânicos.

 

Os grupos militantes judaicos procuravam infiltrar clandestinamente o maior número possível de refugiados judeus na Palestina, enquanto retomavam os ataques contra alvos britânicos e repeliam acções violentas dos nacionalistas árabes. Sob esta pressão, a Grã-Bretanha decidiu transferir a administração da Palestina para a ONU. O aumento dos conflitos entre judeus, ingleses e árabes forçou a reunião da Assembleia Geral da ONU, em 29 de Novembro de 1947, que decidiu pela divisão da Palestina Britânica em dois estados, um judeu e outro árabe, que deveriam formar uma união económica e aduaneira.

 

David Ben-Gurion discursa na Declaração do Estado de Israel em 14 de Maio de 1948.

 

 

A decisão foi bem recebida pela maioria das lideranças sionistas, embora tenha recebido críticas de outras organizações, por não permitir o estabelecimento do estado judeu em toda a Palestina. Mas a Liga Árabe não aceitou o plano de partilha. Deflagrou, então, uma guerra entre judeus e árabes. Na sexta-feira, 14 de Maio de 1948, algumas horas antes do término do mandato britânico sobre a Palestina (o horário do termo do mandato foi determinado pela ONU para as 12:00 do dia 15 de Maio) – David Ben Gurion assinou a Declaração de Independência do Estado de Israel. Em Janeiro de 1949, Israel realiza suas primeiras eleições parlamentares e aprovou leis para garantir o controlo educacional, além do direito de retorno ao país para todos os judeus.

 

A economia floresceu com o apoio estrangeiro e remessas. No período entre a Declaração de Independência e a Guerra de Independência, Israel recebeu cerca de 850 mil imigrantes, em especial sobreviventes de guerra e judeus oriundos dos países árabes (sefarditas e Mizrahim). Foi executada a Operação Tapete Mágico, para resgatar os judeus do Iémen. A população muçulmana, com a ajuda da polícia deu início às perseguições. Em 1947 82 judeus foram mortos e centenas de residências e casas comerciais destruídas. Em 1948, o boato de que duas meninas haviam sido mortas por judeus numa cerimónia religiosa, provocou nova onda de violência.

 

A situação dos judeus do Iémen deteriorou-se e a American Joint Distribution Committee resolveu transportar toda a comunidade daquele país para Israel. Entre Junho de 1949 e Setembro de 1950 cerca de 50 mil judeus iemenitas foram retirados em voos secretos. Sabotagens e ataques da aviação egípcia tornavam as viagens arriscadas, mas nenhum dos 380 voos da Operação Tapete Mágico foi mal sucedido. Até o fim de 1951 desembarcaram em Israel 37 mil judeus da Bulgária, 30 mil da Líbia e 118 940 da Roménia. 121 512 judeus iraquianos foram também resgatados. No total, o número de judeus que afluíram a Israel nos primeiros anos, foi de 684 201, mais do que toda a população judaica de Israel em 1948. Entre 1952 e 1954, o número total de imigrantes foi de 51 463. Em 1955, iniciou-se nova onda de imigração. Até 1957 chegariam ao país 162 308, em maioria vindos de Marrocos, da Tunísia e da Polónia. Os movimentos nacionalistas dos países do Norte da África empurraram os judeus para a emigração.

 

Entre 1955 e 1957 mais 55 mil judeus marroquinos e 15 mil tunisinos deixaram os países de origem. A revolução na Hungria, em 1956 e a repressão na Polónia geraram mais ondas migratórias: 8 682 judeus húngaros e outros milhares de polacos chegaram a Israel até 1960 Após a Guerra dos Seis Dias (1967), os judeus do Egipto foram expulsos. 14 562 destes imigrariam para Israel. As cidades de Dimona e Ashdod e as regiões de Lachish e Taanach foram por eles povoadas. Este conflito gerou uma onda de antijudaísmo nos países de Leste. Na Polónia, mais cinco mil judeus imigraram. Até 1973, ano da Guerra do Yom Kippur, 260 mil judeus desembarcaram em Israel, na sua maioria vindos de países socialistas.

 

Em suma. Israel, passou das páginas do Antigo Testamento e da Torah para a realidade. Hoje o Estado de Israel é uma realidade, empolgante para uns e dramática para outros. Epopeia ou drama de que conhecemos a abertura e os primeiros actos, mas de que ignoramos o epílogo.

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