Cançó cínica de l’ensopiment, por Josep Anton Vidal. The Lady of Shallot, de John William Waterhouse.

 

  

 

Cançó cínica de l’ensopiment

 

 

No cerquis més. Tot és on ha de ser,

i no ha de ser enlloc més. Mira a pleret.

El món és una estampa fora del temps.

Deixa’l estar, que està bé tal com és.

I si no pots,

no t’hi encaparris gaire, perquè l’esforç

et passarà factura. Vigila el cor,

no l’apressis, que diuen savis doctors

que cal aprendre a viure, perquè no és bo

sentir tanta fretura, i és molt millor

guadir les quatre coses que Déu ens do.

Seu i prente una tilla tranquillament

mentre mires com passen, catric-catroc,

uns trens que mai s’aturen ni van enlloc.

I si et pren la malura de la llangor,

acluca els ulls i deixa que la buidor

se’t fiqui per les venes, t’arribi al cor,

t’ensopeixi i t’adormi… Non-non, non-non,

que per calmar les penes, res com el son…

Non-non, non-non…

I si t’adorms per sempre…, non-non, non-non,

ja et cantaran absoltes, non…, non…, non… Non!

 

 

Canção cínica da fraqueza

 

 

Não procures mais. Tudo está como deve ser

e onde deve estar. Olha em teu redor.

O mundo é uma estampa fora do tempo.

Deixa estar, está bem como está.

E se não podes,

não dês cabo da cabeça, pois o esforço

cobrará o seu preço. Cuida do coração,

não o esforces – dizem os sábios doutores

que é preciso saber viver, que não é bom

sentir tanta inquietação, é muito melhor

fruir as coisas que Deus nos dá.

Senta-te, bebe tranquilamente chá de tília,

enquanto vês passar, pouca terra, pouca terra,

comboios que nunca param nem vão a lado algum.

E se te vires vencido pela fraqueza

fecha os olhos, deixa que o vazio

te entre pelas veias e chegue ao coração,

te entorpeça e adormeça… dorme, dorme, sonha, sonha…

que nas dores o sono é o melhor,

dorme, dorme, sonha, sonha,

e se acaso adormeces e não acordas…,

dorme, dorme, sonha, sonha,

três badaladas e um balde de cal,

dorme – sonha…, sonha… Dorme!

 

(Versão portuguesa de Carlos Loures)

Leave a Reply