Na Terça-feira, 3 de Abril, dediquemo-nos, por ausência de outro móbil, às artes visuais aproveitando a inauguração no Palácio Galveias da exposição de fotografia “Espaço Real – Espaço Conceptual” organizada pelo Instituto para Relações Externas da Alemanha (de entrada livre, das 11h-19h, permanecerá até 31 de Maio).
Com curadoria de Ute Eskildsen, ela apresenta nos trabalhos dos fotógrafos Susanne Brügger, Thomas Demand e Heidi Specker diversas abordagens cujas ligações ao nível do conteúdo consistem precisamente na sua afinidade com o espaço público. Esta relação torna-se evidente, tanto nas dissecações de vistas de cidades de Susanne Brügger como nas imagens espaciais de Thomas Demand ou nas imagens arquitectónicas de carácter abstracto e “redesenhado” de Heidi Specker. O realce do elemento “espaço” no título da exposição, em ligação com os conceitos antagónicos “realidade” e “imagem”, remete para abordagens específicas de um meio de reprodução que, devido ao próprio potencial reprodutivo da fotografia, se relaciona no fundo, desde a sua invenção, com a transformação das coordenadas espaço/tempo.
Nos últimos dez anos, e num contexto de concorrência com a tecnologia digital em constante evolução, o processo de reprodução fotográfica tradicional tem vindo a merecer um reconhecimento cada vez maior no mercado da arte, o que, por sua vez, tem também contribuído para dar novos impulsos à práxis artística com meios fotográficos e, simultaneamente, para alterar a orientação da geração de fotógrafos mais jovem como aqueles aqui expostos.
Heidi Specker Susanne Brugger Thomas Demand
Noutro registo, o da pintura, está aberta desde a passada Quarta-feira 28 de Março no Museu Colecção Berardo (ao Centro Cultural de Belém) a exposição “Nikias Skapinakis. Presente e Passado, 2012 — 1950”que constitui a mais ampla e significativa antologia dedicada à obra de Nikias Skapinakis, reconhecido como um dos nomes mais relevantes da arte portuguesa na segunda metade do século XX (permanecerá até 24 de Junho com entrada livre).
A exposição, comissariada por Raquel Henriques da Silva, organiza-se em sete núcleos reveladores da extraordinária amplitude e diversidade, bem como das inúmeras possibilidades formais e expressivas do trabalho de Nikias Skapinakis, desenvolvido durante mais de sessenta anos. A singular capacidade de síntese na abordagem da imagem e o permanente diálogo com a cultura portuguesa ou ocidental, que as suas pinturas definem, torna claro o sentido e o valor do seu contributo para um entendimento das mesmas.
Do seu trabalho, diz em 2012 o próprio Nikias na introdução do catálogo : “… O sentido metafísico, que, juntamente com o pendor expressionista e lírico, atravessa prolongadamente o meu trabalho, tem, do meu ponto de vista, uma tripla origem:
– Os frescos “clássicos” e “modernos” da Vila dos Mistérios, em Pompeia, e Carpaccio, a quem dedico em 1961 uma homenagem, porque, justamente, venho a encontrar nele o sentido de ausência das figuras que habitavam o meu paisagismo de então;
– A poesia, designadamente de Cesário e dos “presencistas”;
– A pressão claustrofóbica e entediante do ambiente português das décadas de 1950 e 60.
… De qualquer modo, porém, acredito que a minha “linha metafísica” se liga essencialmente a uma concepção individualizada da pintura como um processo de conhecimento, literalmente, para além das aparências físicas, que os sentidos transmitem. Esse processo define a história da pintura desde o seu remoto passado até ao presente. Porque é específico, não pode ser repartido por outros campos estéticos sem que essa qualidade essencial de indagação tenda a alterar-se ou a perder-se em favor de outras (embora igualmente válidas) expressões. Trata-se de procurar a essência das coisas; mas, talvez, as coisas não tenham realmente essência nenhuma e a sua busca seja inútil.
É uma dúvida de natureza metafísica que procuro resolver continuando a pintar.”
Paisagem do Forte da Trafaria, 1955 Disneyland River, 1985 A las cinco en punto de la tarde, 2002