De regresso a Madrid – II por António Gomes Marques

 Um Café na Internet 

 

 

 

 

 

 

 

Saímos do Museu do Prado e, a caminho do hotel, junto à estação da Atocha –no dia anterior tinha decorrido o oitavo aniversário do cobarde atentado terrorista, é bom não esquecer- encontra-se, a meio caminho, o Caixa Forum Madrid, o centro cultural e social da Obra Social «la Caixa», a quem se devem exposições para todos os públicos, situado no edifício da antiga «central eléctrica del Mediodia, que foi recuperado pela equipa dos arquitectos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron, vencedores do Prémio Pritzker de arquitectura, onde, numa outra viagem, tive oportunidade de ver algumas das grandes esculturas de Rodin. Neste centro cultural pode ver-se, com entrada gratuita, a exposição «Los ballets rusos de Diaghilev, 1909-1929. Quando el arte baila com la música», inaugurada em 17 de Fevereiro, ali se mantendo até ao próximo dia 3 de Junho.

 

Vamos servir-nos não só do folheto da exposição, mas também dos muitos dados que a «internet» põe ao nosso alcance para falar do que vimos e de alguns dos muitos factos que a exposição nos sugeriu, embora com a preocupação de não nos alongarmos… muito.

 

Trata-se de uma exposição que recupera a figura do empresário russo Sergei Pavlovitch Diaghilev, nascido a 19 de Março de 1872, em Selistchev, Novgorod (Rússia), falecido a 19 de Agosto de 1929, em Veneza (Itália).

 

Em 1887 fixou-se em São Petersburgo, editando uma revista quinzenal sobre arte e, em simultâneo, foi assistente dos teatros imperiais até 1901.

 

Dando mostras de um grande espírito de iniciativa, organizou uma exposição de 3.000 retratos de personalidades russas, com o que obteve grande sucesso, o que o levou a ousar dar a conhecer a pintura russa a Paris, a que se seguiu a organização, na Ópera de Paris, de cinco concertos com peças de Rachmaninoff, Rimski-Korsakov e outros, contratando para o efeito grandes cantores russos, como o baixo Fedor Chaliapin.

 

Mas o seu maior êxito aconteceu em 1909, com a temporada do bailado russo, êxito esse que o leva a encomendar uma obra ao então desconhecido compositor Stravinsky, que seria «O Pássaro de Fogo», para a temporada do ano seguinte. Como o êxito se repetiu, Diaghilev funda a sua própria companhia, «Ballets Russes», em 1911, para a qual contratou, a partir de uma selecção dos melhores bailarinos do «Ballet Imperial» do Teatro Mariinsky, de São Petersburgo, nomes como Anna Pavlova, Tâmara Karsavina, Vaslav Nijinsky, Balanchine, Serge Lifar, Alicia Markova e outros grandes nomes da dança da época. Como coreógrafo, contou sobretudo com Mikhail Mikhailovich Fokine, considerado o criador dos princípios da dança moderna, nascido em 25 de Abril de 1880, em São Petersburgo, sendo o penúltimo de 18 irmãos. A importância deste bailarino e coreógrafo, para a história da dança em geral e para a companhia «Ballets Russes» em particular, justifica que falemos um pouco dele.

 

Naturalmente influenciado pelo seu irmão mais velho, Nicolau, frequentador de espectáculos de bailado, e pela sua mãe, apaixonada pelo teatro, conseguiu uma audição na Escola Imperial de Ballet de São Petersburgo, escondendo o facto do seu pai, que sempre dizia: «Eu não quero que o meu Mimotchka seja um dançarino», mas que, apesar disso, logo mudou de opinião quando soube que o seu Mimotchka tinha alcançado o primeiro lugar. Entrou para a Escola Imperial em 1889, onde se formou em 1898, entrando logo como solista para o Maryinski Ballet Imperial de São Petersburgo, começando a dançar com Ana Pavlova. Em 1902 é contratado para professor da classe júnior feminina, tornando-se no mais jovem membro do corpo docente da Escola Imperial, ascendendo depois a professor de classes mais velhas, femininas e masculinas.

 

Era sua convicção que a dança daquela época dava uma importância desmesurada às pernas esquecendo o resto do corpo, o que o levou a pensar abandonar o bailado, dedicando-se, nos tempos livres, a ter aulas de pintura e de música. Nas aulas de bailado, que continuava a ministrar, ensinava os seus alunos a chamar a atenção dos espectadores para as emoções, utilizando todo o corpo e não apenas as mãos de modo a melhor transmitir essas emoções, numa completa harmonização do cenário, da música e da dança, revolucionando assim o bailado, graças às oportunidades que o «Ballet Imperial» do Teatro Mariinsky e, mais tarde, os «Ballets Russes» lhe deram.

 

Anna Pavlova, em 1905, pediu a Fokine que lhe sugerisse algumas músicas para ela apresentar no Salão dos Nobres, ao que ele acedeu coreografando um bailado, «A Morte do Cisne», de Saint-Saens (http://youtu.be/cdiMzGOFUrM), bailado este que se manteria no reportório da bailarina por toda a sua vida artística, tendo mesmo, às portas da morte, dito «preparar o meu traje de cisne».

 

 

 

 Bailarinos dos «Ballets Russes», com Lubov Tchernichev, em Scherazade

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