Globalização e Desindustrialização – 4ª Série. Capitulo 2. Comércio e Concorrência Internacional: algumas questões.

2.8  Repensar a Teoria do Comércio Internacional, repensar a Política Comercial, por Thomas I. Palley – V

 

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

 

Conclusão: A importância da contribuição dos trabalhos GBS

 

O trabalho teórico dos autores GBS muda radicalmente o debate da política comercial. Em certo sentido, os seus trabalhos ajudam a teoria pura do comércio internacional  a procurar centrar-se nas novas realidades da globalização. A tecnologia é altamente móvel e sua transferência entre os países podem ser significativamente influenciada pela política comercial. O estabelecimento de uma tal política estratégica pode influenciar a natureza do equilíbrio global e, assim, alterar a distribuição dos ganhos do comércio. Esta política estratégica inclui a política em I&D, as regras que regem o comportamento das empresas, a manipulação da taxa de câmbio, a política de compras governamentais, as necessidades de mecanismos compensatórios, e as políticas que afectam a competitividade internacional das empresas. A linha de referência significa que é um erro para os países ignorarem a política comercial estratégica e isso é especialmente perigoso quando um país se permite deixar ser prejudicado por outros países.


Embora haja sempre ganhos a partir do comércio internacional, os países podem sofrer com ainda mais globalização – os seus ganhos futuros resultantes do comércio internacional podem cair fazendo com que fiquem pior do que na situação anterior. Esta muito séria conclusão deriva da teoria pura do comércio internacional que assume deixar fora do seu campo de análise os problemas macroeconómicos tais como o desemprego, os défices comerciais, a instabilidade financeira. Quando estes problemas são colocados então a necessidade de introduzir uma política comercial estratégica torna-se ainda muito mais forte.


Thomas I. Palley, RETHINKING TRADE AND TRADE POLICY : Gomory, Baumol, and Samuelson on Comparative Advantage

The Levy Economics Institute of Bard College,2006.


Notas[i]

 

 

1. Por exemplo, ver Freeman (2004), em que a suposição tácita colocada é a que a globalização EUA expande o rendimento nacional, embora os trabalhadores perdem por causa de um superdimensionado efeito de Stolper-Samuelson.

2. A aglomeração das economias de escala economia é particularmente complexa. Quando estas estão presentes, um país pode parecer ter a curva de custo mais baixa. No entanto, isto pode ser devido ao facto de que o país foi o primeiro a iniciar a produção e, assim, adquiriu o benefício extra da aglomeração das economias de escala.

3. No modelo de Gomory-Baumol, dadas as suas premissas de tecnologias idênticas e curvas de custo entre os países, o factor de convergência fundamental é a escala de produção da indústria. Isso determina se há ganhos globais derivados de uma maior eficiência para ser sido ele a reorganizar as estruturas globais de produção. Quando todas as indústrias estão a produzir a mesma escala em todos os países, não existem ganhos globais a apropriar. No entanto, os países podem beneficiar individualmente através da captação de indústrias, mas o ganho resultante é obtido às custas dos outros países.

 

4. O modelo de Gomory-Baumol assume países idênticos, de modo que uma zona de conflito surge com a situação de convergência do rendimento dos países. No mundo real, os países diferem, e uma zona de conflito pode-se assim desenvolver da mesma maneira que a distribuição da produção de bens comercializáveis é equalizada. Assim, a China pode ter um rendimento nacional de longe muito menor do que o dos Estados Unidos que, por seu lado, tem um sector grande, imóvel e improdutivo sector de bens e serviços não negociáveis internacionalmente mas os dois países podem ainda estar na zona de conflito porque a distribuição das indústrias de bens comercializáveis está a seguir um processo de convergência.

5. Uma representação mais precisa é que a Europa tem uma vantagem tecnológica, enquanto os trópicos têm uma vantagem climática.

6. Também é verdade que, em alguns casos, a reorganizar em conjunto das estruturas globais de produção pode aumentar o rendimento e pode melhorar o bem-estar para todos os países. Isso pode acontecer quando, inicialmente, o mundo estava situado numa situação de equilíbrio extremamente ineficiente em que um país de alto custo tinha sido o primeiro país a mover-se para baixo na sua linha de custo médio e adquirir a vantagem “decisão” de um novo custo. Neste caso, todos os países podem sair beneficiados podendo transferir a produção para o “verdadeiro” produtor de baixo custo. Mesmo que o primeiro país desista de produzir um produto que é lucrativo, ele ganha, porque os custos são muito menores no país retardatário.

7. Os requisitos de compensação são ilegais no âmbito da OMC, mas em países como a China, onde o Estado exerce uma influência significativa sobre grandes porções da economia, a pressão tácita para que hajam mecanismos de compensação ainda aí existe. Nos Estados Unidos, as companhias aéreas começam a escolher os aviões que eles pretendem para voar e não impõem exigências de produção. As vendas de aviões  para a China, no entanto são feitas sob uma proposta bem diferente.

8. Blecker (2005b) aponta como Joan Robinson antecipou muitos dos problemas de política macroeconómica inerentes à nova teoria do comércio com os IRTS.

9. Se os salários sobem para compensar a carga dos pagamentos de elevados impostos que são necessários para financiar o sistema, isso poderia reduzir a benéfico impacto da retenção de postos de trabalho

10. A metodologia de Scott não inclui novos empregos que seriam criados indirectamente pelos efeitos multiplicadores da despesa resultantes do aumento do rendimento gerado pelo maior emprego utilizado na indústria transformadora, em particular, e na produção em geral. Por outro lado, a metodologia também não tem em conta o trabalho que pode ser criado pelos inputs de produção importados a preço mais baixo.

11. Estes relatórios podem ser encontrados em: http://www.uscc.gov.

12. Para um tratamento em profundidade do crescimento led-growth das exportações ver: Blecker (2003) and Palley (2003b).


References


Bhagwati, J. 1958. “Immiserizing Growth: A Geometrical Note,” Review of Economic Studies, 58.

Bivens, J. 2004. “Shifting the Blame for Manufacturing Job Loss: Effect of Rising Trade Deficit Shouldn’t Be Ignored,” Economic Policy Institute, Washington, D.C.

Blecker, R. A. 2006. “The Economic Consequences of Dollar Appreciation for U.S. Manufacturing Investment: A Time-Series Analysis.” Unpublished paper. Department of Economics, American University, Washington, D.C., May.

———. 2005a. “Financial Globalization, Exchange Rates, and International Trade” in Gerald A. Epstein, ed., Financialization and the World

Economy, Cheltenham, U.K., and Northampton,Massachusetts: Edward Elgar Publishing Limited.

———. 2005b. “International Economics after Joan Robinson” in Joan Robinson’s Economics: A Centennial Celebration, Bill Gibson, ed., Cheltenham, U.K., and Northampton,Massachusetts: Edward Elgar Publishing Limited.

———. 2003. “The Diminishing Returns to Export-Led Growth” in The Bridge to a Global Middle Class: Development, Trade, and International Finance in the 21st Century,W. R.Mead and S. R. Schwenninger, eds., Norwell, Massachusetts: Kluwer Academic Publishers. The Levy Economics Institute of Bard College 25

Brander, J. A., and B. J. Spencer. 1985. “Export Subsidies and International Market Share Rivalry,” Journal of International Economics, 18.

Dixit, A., and G. Grossman. 2005. “Samuelson Says Nothing about Trade Policy.” Published as “The Limits of Trade Policy,” Journal of Economic Perspectives, 19, Summer.

Freeman, R. B. 2004. “Labor Goes Global: The Effects of Globalization on Workers around the World,” Rocco C. and Marion S. Siciliano lecture, University of Utah, November 18.

Gomory, R. E., and W. J. Baumol. 2000. Global Trade and Conflicting National Interest, Cambridge,Massachusetts: MIT Press. Johnson, H. 1955. “Economic Expansion and International Trade,” Manchester School of Economic and Social Studies. 23.

———. 1954. “Increasing Productivity, Income-price Trends, and Trade

Balance, Economic Journal. 64.

Kletzer, L. G., and H. Rosen. 2005. “Easing the Adjustment Burden on Workers” in C. F. Bergsten, ed., The United States and the World Economy: Foreign Economic Policy for the Next Decade,Washington,D.C.: Institute for International Economics.

Krugman, P. 1984. “Import Protection as Export Promotion: International Competition in the Presence of Oligopoly and Economies of Scale”in H. Kierzkowski, ed., Monopolistic Competition in International Trade. Oxford: Oxford University Press.

Palley, T. I. 2006. “The Economics of Outsourcing: How Should Policy Respond,” Foreign Policy in Focus.March. http://www.fpif.org.

———. 2004. “The Economic Case for International Labor Standards,” Cambridge Journal of Economics. 28, January.

———.2003a. “International Trade,Macroeconomics, and Exchange Rates: Re-examining the Foundations of Trade Policy.” Paper presented at a conference on Globalization and the Myths of Free Trade held at the New School for Social Research, New York, N.Y., April 18.

———. 2003b. “Export-led Growth: Is There Any Evidence of Crowding-Out?” in Arestis et al., eds., Globalization, Regionalism, and Economic Activity. Cheltenham, U.K.: Edward Elgar Publishing Limited.

Prebisch, R. 1968. “Towards a Dynamic Development Policy for Latin America,” E/CN 12/680/Rev 1. New York: United Nations. Reprinted as “Development Problems of the Peripheral Countries and the Terms of Trade” in J. D. Theberge, ed., Economics of Trade and Development. London and New York: John Wiley & Sons.

Robinson, J. 1947. Essays in the Theory of Employment. 2nd edition. Oxford, U.K.: Basil Blackwell. First published in 1937.

Samuelson, P. 2004. “Where Ricardo and Mill Rebut and Confirm Arguments of Mainstream Economists Supporting Globalization,” Journal of Economic Perspectives. 18, Summer.

———. 1949. “International Factor-Price Equalization Once Again,”Economic Journal. 59.

———. 1948. “International Trade and Equalization of Factor Prices,” Economic Journal. 58.

Singer, H. 1950. “The Distribution of Gains between Investing and Borrowing Countries,” American Economic Review. Papers and Proceedings.

Stolper,W. F., and P. Samuelson. 1941. “Protection and Real Wages,” Review of Economic Studies. IX.


 

 

Leave a Reply