O escritor irlandês Samuel Beckett, Prémio Nobel da Literatura de 1969, nasceu em 13 de Abril de
1906. Mais conhecido mundialmente pela sua obra como dramaturgo, À Espera de Godot, peça publicada em 1952, foi o seu grande êxito em Portugal. Aliás, o título da obra foi por muitos utilizado no sentido da espera e da esperança que havia na queda da ditadura.
Por razões semelhantes, pois em todo o mundo alguém espera sempre alguma coisa, esta peça de Beckett transformou-se numa das obras mais importantes de nosso tempo. Pode dizer-se que revolucionou o teatro do século vinte, influenciando dramaturgos contemporâneos, como é o caso de, entre outros, de Harold Pinter. Mas. principalmente, prepararou o público para uma nova gramática dramatúrgica. Por muitos estudiosos de teatro, esta peça é mesmo considerada a precursora do Teatro do Absurdo que Eugéne Ionesco lançaria pouco depois com obras como A Cantora Careca.
Escrita originalmente em francês, em 1948, com o título de En attendant Godot, foi estreada em Paris em 1953. Pela mão de Francisco Ribeiro (Ribeirinho), chegou a Portugal em 1959, sendo estreada no teatro da Trindade – uma grande interpretação de Costa Ferreira. Pode dizer-se que, depois de À Espera de Godot, o teatro não voltou a ser o mesmo.
Samuel Beckett, um genial dramaturgo. Nasceu faz hoje 106 anos.
Infelizmente, não assisti a este espectáculo; era muito novo e não vivia em Lisboa.Gostaria que, a propósito, lessem (págs. 402-407) o que Costa Ferreira escreveu em «Uma Casa com Janelas para Dentro», ed. INCM, 1985.Mas não resisto a contar um outro facto. Depois do espectáculo do TNP, encenado por Ribeirinho, uma companhia de teatro francesa veio a Portugal com a mesma peça e, naturalmente para diminuir despesas, pediu os cenários a Ribeirinho, o que levou alguns «críticos» a logo escreverem que o encenador português afinal tinha imitado os franceses. Pobres provincianos!
O teu comentário levou-me a folhear o livro de Costa Ferreira. Na linguagem vivaz que o caracterizava descreve as emoções da estreia de À Espera de Godot , particularmente o momento em que estalou uma enorme ovação e, simultaneamente, uma estrondosa pateada. No balcão onde eu estava (com um grupo de amigos), quase toda a gente aplaudia – a plateia estava dividida e esboçaram-se confrontos físicos. Os actores ficaram imóveis como estátuas e Ribeirinho teve uma intervenção curta, mas correcta , serenando os ânimos. Tudo isto Costa Ferreira recorda e me ajudou a recordar. Esses dez minutos de confronto entre conceitos novos e velhos, foram decisivos. Diz Costa Ferreira: «Naquele momento, a vibrar da cabeça aos pés, eu acreditei que o Teatro português tinha acordado definitivamente».