MEMÓRIAS DE UM VOLUNTÁRIO EM ÁFRICA – 1 -por Carlos Castanho

Um Café na Internet

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Bom dia senhor padre, boa tarde senhor padre”, era assim que de manhã enquanto esperava transporte para o local de trabalho, ou ao regressar ao fim da tarde se demorava à entrada do edifício-sede do bispado, Filipe era saudado pelos transeuntes daquela cidade africana, desde que ali chegara vindo de Portugal.

 

Nas mencionadas instalações alojavam-se, além do bispo, três ou quatro sacerdotes todos já no último terço da vida e número pouco mais elevado de freiras e frades de diferentes fachas etárias, bem como um ou outro leigo e algum sacerdote ou irmão religioso em transito para a sua paróquia. Tudo gente que se vestia à semelhança dos habitantes de uma qualquer vila ou cidade europeia, à excepção das freiras que usavam, por regra, um lenço a cobrir a cabeça.

 

Entre os membros da comunidade católica religiosos ao serviço do bispado alguns apresentavam características dignas de registo.

 

O cónego encarregado do economato, septuagenário, com muitos anos de África, macilento das múltiplas febres tropicais, sempre preocupado com a administração do reduzido orçamento à sua disposição, em grande parte absorvido com os gastos da alimentação do pessoal residente, era homem tranquilo e simpático.

 

Logo nos primeiros dias após a chegada de Filipe, alguém furtou do escritório do bispado o fax de serviço. Logo na pequena capela do edifício se passaram a ouvir orações pedindo o retorno rápido do aparelho, tão necessário ás comunicações com o mundo exterior. Porém o ecónomo, homem com longa experiência de África, fez circular a notícia que a dita máquina dispunha de um mecanismo que denunciava o local onde se encontrava.

 

Numa manhã de um dos dias imediatos, ao aguardar no interior das instalações da diocese a hora de se deslocar para o local de trabalho, Filipe ouviu bater à porta de serviço que de, pronto, se prontificou a abrir. Do lado de fora estava alguém que declarou querer falar com o ecónomo, que logo surgiu.

 

O nativo recém-chegado, retirou de imediato o fax de um saco que trazia ao ombro e dirigindo-se ao prelado disse tê-lo encontrado horas antes, no chão do caminho que conduzia à sua aldeia. E como ouvira dizer que um aparelho semelhante desaparecera das instalações do bispado resolvera vir entregá-lo.

 

Receoso que o aparelho furtado o pudesse denunciar, o larápio havia decidido devolvê-lo quanto antes.

 

Assim, sem qualquer dificuldade, o engenho e a imaginação do cónego haviam conseguido o que as orações, de certo, não iriam conseguir.

 

(Continua)

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