As comparações homéricas e a dívida pública espanhola, por Edward Hugh – II
“Nihil sapientiae odiosius acumine nimio“ (Nada é mais odioso para a sabedoria do que a esperteza em excesso)
Petrarch, “De Remediis utriusque Fortunae”
Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
(Continuação)
Bem, poder-se-á dizer, isso é bom, mas como é que sabemos que o registo não sobrestima o número de migrantes? Na verdade, de certa maneira já o fez, uma vez que os migrantes só são obrigados a confirmar a sua presença continuada de dois em dois anos. Foi então que a atenção estava centrada na medição da migração que estava a chegar, mas desde o crash económico com o consequente aumento maciço do desemprego, e por diversas razões, a importância foi então deslocada para calcular quem está ainda em Espanha. Então o intervalo para a confirmação de moradas e coisas semelhantes foi alterado, e à maioria daqueles que não têm o direito de residência é-lhes agora exigido que confirmem a sua presença no espaço de poucos meses, o que significa que a Espanha tem alguns dos dados mais precisos sobre os fluxos de migrantes que pode ser encontrado dentro das fronteiras da UE (e possivelmente em qualquer outro lugar).
Agora, poder-se-á questionar, porquê ser-se tão meticuloso na colecta dessas informações, e porque não seguir o exemplo do Reino Unido e exigir que todos aqueles que não têm autorização para permanecer no país o abandonem, então? Bem, isto é Espanha e não é o Reino Unido (ou a Grécia) e esta é a questão desta actual cantilena que eu estou a explicar para dar uma ideia de como as coisas funcionam em Espanha, e não para oferecer uma análise da política de migração. Entendimento este de que se pode medir com precisão algo que oficialmente não existe é a chave para entender como funcionam os sistemas de administração financeira e pública, e a menos que se tente “situar” nesta parte, ser-se-á desviado do conhecimento de todo o resto.
(Continua)