DIÁRIO DE BORDO, 19 de Abril de 2012

 

 

 

No próximo domingo, dia 22 de Abril, decorre em França a primeira volta das eleições presidenciais. Os candidatos são muitos, mas os principais, claro, são Sarkozy pela direita, apoiado pela UMP – Union pour un Mouvement Populaire ( Union des moutons de Panurge, isto é, União dos Carneiros de Panurge, segundo os críticos virados para o humor, e amantes de Rabelais) , e François Hollande, apoiado pelo Partido Socialista Francês. Também se tem de ter em conta Marine Le Pen, pela extrema direita, e Jean-Luc Mélenchon, que se posiciona à esquerda de Hollande.


A contenda parece equilibrada, se dermos crédito às sondagens. Sarkozy durante bastante tempo apareceu como favorito, mas nos últimos dias tem perdido terreno. Inclusive alguns seus antigos seguidores parecem querer bandear-se por Hollande.  Algumas mentiras pitorescas do actual Presidente da República Francesa, como a de que assistiu em directo á queda do muro de Berlim, ou a de que esteve em Fukushima logo a seguir ao acidente nuclear (sobre esta parece que reconheceu o “equívoco”), entre outras, terão contribuído para este declínio, mas de qualquer continua a ser um candidato forte, num país conservador, onde a direita tem muito peso. Por outro lado, a extrema direita tem bastante peso, mas parece não conseguir subir acima de um certo patamar. Mélenchon parece que vai conseguir uma votação significativa, mas se houver segunda volta o mais provável é que apoie Hollande.


Entretanto, aquilo que é designado por mercados parecem estar a apertar em França. As taxas de juro estão a subir, e as agências de notação tomam posição. Os investidores parecem apoiar Sarkozy. A mensagem aos eleitores é óbvia: votem Sarkozy, ou vão levar um aperto. Isso pode mudar o rumo que as sondagens têm apontado. Até porque Hollande afirmou que pretende romper o pacto com Merkel e renegociar o Tratado Orçamental recentemente assinado, no sentido de incluir cláusulas sobre o crescimento económico.


Sobre isto, o Público de ontem informa-nos, num artigo de Isabel Arriaga e Cunha, de Bruxelas, que a ratificação do Tratado Orçamental por Portugal, a semana passada, constitui um obstáculo formal significativo a uma renegociação do respectivo texto. Entretanto, outras ratificações estarão para breve. No dia 31 de Maio a Irlanda realiza um referendo para ratificar o tratado. Caso este seja rejeitado, talvez fosse possível reabrir o texto, mas deve-se ter presente que o texto recém-aprovado precisa apenas da ratificação de 12 dos 17 membros. De modo que a única solução possível parece ser um novo tratado. A articulista acrescenta que a situação vai ajudar Hollande, caso seja eleito, a salvar a face quando tiver de recuar na sua promessa eleitoral.


Todo este panorama reforça a conclusão de que as eleições francesas não vão trazer alterações significativas. Hollande, mesmo que ganhe, irá ser obrigado a continuar as políticas recessivas. E a crise vai invadir a França. Parece já se estar nos prenúncios.

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