Andando por aí (12) – por Margarida Ruivaco

 

Foto de Margarida Ruivaco

 

Já não posso apanhar, aqui, o comboio para a praia de S. Martinho do Porto, e em boa altura o fiz, quando me lembrei de levar as filhas e sobrinhas a meio do Verão passado.

 

Um hábito com dezenas de anos, repetido todos os verões por tantas crianças e suas avós e tias, acabou.

 

A garotada chegava saltitante, com toalhas e baldinhos, e as acompanhantes chegavam cansadas, com os chapéus de sol e cestos do lanche, às nove e pouco da manhã, e haveria de chegar o comboio, e o bilhete seria comprado ao revisor. Tudo isto para, em pouco mais de vinte minutos, se por os pés na areia escura e passar o resto do dia de molho nas águas quase paradas. Com regresso marcado para depois do lanche da tarde.

 

Na estação de Martingança- Gare já só param comboios de mercadorias: contingências da vida, da vida da Linha do Oeste e da deseconomia do país.

 

Não posso afirmar que fosse fã do comboio. A única vez que tentei ir de comboio para a universidade, a viagem em bancos de pau ainda pareceu mais lenta, de tanto desconforto. Durou, ainda assim, cinco longas horas, para cerca de 140 quilómetros e mais 3 transportes públicos,  tempo suficiente para ir e voltar, caso a viagem tivesse sido feita no autocarro do costume. Não voltei a repetir, apesar das carruagens se terem modernizado, e nos últimos anos, terem sido dotadas dos confortos necessários.

 

Desde os anos 30 que esta estação está ligada ao desenvolvimento económico da região: era princípio e fim da linha de Caminho de Ferro Mineiro do Lena, desactivada em 1950.

 

A linha passava por Maceira, com ramal de acesso à Fábrica de Cimentos do Liz, e seguia por A-do-Barbas, Maceirinha, Vale Salgueiro, tendo uma estação em Pinheiros-Calvaria, que se encontra abandonada, mas em razoável estado de conservação. Depois, na Batalha, o comboio parava de novo,  nas estações Velha e Nova, e voltava a seguir viagem direito à serra.

 

Um novo ramal daria acesso às minas de carvão da Barrojeira, e a linha continuaria junto ao rio Lena, até chegar a Porto de Mós. Ziguezagueando pelas Serras da Pevide e de Aire e Candeeiros, por entre túneis e pontes, puxada por vacas, a locomotiva Skoda chegaria então às Minas da Bezerra, onde era extraído carvão que seria distribuído por diversas do pais, assim que o comboio regressasse a Martingança  e se fizesse a ligação à Linha do Oeste.

 

Às vezes surpreendo-me a pensar se, à devida escala, Portugal não teria sido muito mais moderno e desenvolvido , há um século atrás, do que o nos querem fazer acreditar.

 

 

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