O dia 22 de Abril de 1974 foi o domingo que antecedeu o 25 de Abril. Assim e em homenagem aos “ignorados” que contribuíram para a libertação dos 50 anos de DITADURA em Portugal entendi escolher, para este domingo, um compositor “obscurecido” pelos notáveis.
A história da música tem, na sua essência, nomes “notáveis” também chamados “compositores famosos”. Ao lado de tão conhecidas personagens, existem outros grandes compositores ignorados ou mencionados apenas quando se faz um levantamento das celebridades que povoam o universo da música. São os compositores a que se poderia chamar “compositores “obscurecidos” quer dizer, figuras cuja obra se vê diminuída por factores exteriores a eles próprios e à sua música.
Paul Dukas nasceu em Paris, em 1 de Outubro de 1865, no seio de uma família de elevado nível cultural. A sua vocação musical manifestou-se tardiamente, tendo conseguido porém recuperar o tempo perdido graças à sua grande capacidade para assimilar os ensinamentos que recebeu no Conservatório de Paris, onde teve como professores Dubois e Mathias. No entanto o professor que mais contribuiu para o seu desenvolvimento musical foi Ernest Guiraud (Debussy foi seu colega nas aulas deste professor).
Em 17 de Maio de 1897, o concerto na Societé Nationale de Musique, do seu sherzo sinfónico L´apprenti sorcier (O aprendiz de feiticeiro), baseado numa balada de Goethe, constituiu um êxito que se estendeu com grande rapidez para além das fronteiras de França. A partir deste momento nem o público nem ele próprio avaliaram na justa medida as outras composições da sua obra.
O Aprendiz de feiticeiro, grande êxito de uma obra prima, foi reforçada, bastante anos depois, por Walt Disney, que deu ao Rato Mickey, o papel da personagem de Dukas, num dos memoráveis episódios do seu filme “Fantasia”.
Enquanto todos os auditórios do mundo exibiam “O Aprendiz de Feiticeiro” e o resto da sua produção ia caindo num progressivo obscurecimento, Dukas dedicou-se à crítica musical escrevendo em diversas publicações, ao mesmo tempo que se dedicava ao ensino, actividade que exerceu desde 1909, chegando a alcançar grande influência como professor de composição e orquestração no Conservatório de Paris.
Dukas compôs várias obras entre as quais se destacam a Sinfonia em dó maior estreada na Ópera de Paris em 1897, Sonata de piano em mi bemol maior, Variações, interlúdios e final sobre um tema de Rameau, Ariane e Barba-Azul (ópera), Vilanelle (trompa e piano) e La Péri, bailado estreado em 1912. Ao lado figurino desenhado por Bakst, para uma das personagens (Iksander) do bailado.
Após esta obra pode dizer-se que Paul Dukas emudeceu para sempre. Posteriormente só publicou uma peça de canto e piano e uma homenagem póstuma a Debussy, com o significativo título “La plainte, au Loan, du faune” (Pranto do fauno, ao longe)
Até ao final dos seus dias, o músico foi guardando uma imensidade de composições suas, superiores, pelo menos em quantidade, às que publicou. Pouco antes da sua morte, ocorrida em 17 de Maio de 1935 (tinha 70 anos), destruiu-as.
Tratou-se por certo de um ímpeto do compositor “que só se permite a obra prima”, mas também pode interpretar-se como o seu pensamento de que, fizesse o que fizesse, a notícia do seu falecimento iria resumir-se numa frase “Morreu Paul Dukas, companheiro de estudos de Debussy e autor de O Aprendiz de feiticeiro”
Base da informação: colecção “Enciclopédia Salvat dos Grandes Compositores” – José Ramón Rubio