UM PAÍS COM UMA NOVA OROGRAFIA

 

 

 

13h00 – Um comunicado do MFA tranquilizou as famílias dos militares envolvidos no movimento revoltoso. – Face ao cerco do Quartel do Carmo, o brigadeiro Junqueira dos Reis dirigiu-se, com os dois CC/M47 e os lanceiros e atiradores que lhe restavam, para o Largo de Camões, na esperança de, conjuntamente com forças da GNR, tentar libertar o Presidente do Conselho. Tais intenções rapidamente se verificaram inexequíveis. A companhia do RI 1 passou-se para as fileiras do MFA e uma parte da guarnição de um M/47 abandonou-o, confinando o brigadeiro a uma posição de crescente fraqueza face ao aumento do poderio dos revoltosos.

 

13h15 – A coluna do RC 3 de Estremoz atingiu o seu objectivo, a Ponte Salazar.

 

13h30 – Um helicanhão sobrevoou o Largo do Carmo, causando grande ansiedade entre militares e civis.

 

13h40 O comandante e o Estado-Maior da Legião Portuguesa apresentaram a sua rendição.

 

 

 

Ilustração de Adão Cruz

 

 

Moisés Cayetano Rosado, um argonauta de Badajoz, professor e escritor, homenageia os soldados portugueses num inspirado poema do seu livro  Siempre Abril

 

 

 

SOLDADOS DE ABRIL

 

 

A los jóvenes portugueses de los años 60 y 70,

 

sufrientes en las selvas africanas.

 

Para el general Vasco Gonçalves, que tanto ejemplifica.

 

 

 

Yo he visto gritar a los soldados

 

con un clavel sangrando entre los labios.

 

Venían de una muerte segura en los manglares,

 

donde siempre los mismos padecían,

 

de un lado y otro,

 

cualquiera que fuesen las trincheras;

 

donde siempre los mismos festejaban

 

el triunfo de siglos sobre las mismas pieles,

 

sobre los mismos brazos castigados.

 

Recorrieron las calles de Lisboa

 

como formando parte de un cortejo,

 

de una bandada inmensa de palomas

 

sobrevolando plazas, sobrevolando calles

 

en donde el pueblo se agolpaba

 

como si hubiera sido convocado

 

al rito nupcial de primavera.

 

Fue la fiesta de

 Abril y todo el aparato

 

que rasgaba sus venas

 

con las fauces de hiel, con su pillaje,

 

se fue por las cloacas perseguido

 

por gritos de canciones y por flores.

 

Después,

aquella juventud uniformada

 

regresó hasta sus casas,

 

cambió el correaje

 

por el urgente traje de faena,

 

cogió las herramientas añoradas

 

y se puso a diseñar, codo con codo,

 

la nueva orografía de su país.

 

Leave a Reply