QUE PORTUGAL NÃO SEJA O CHILE DA EUROPA

 

 

14h00 – Corte de energia ao emissor de Miramar (Porto) do R.C.P.

 

14h30 – É lido por Clarisse Guerra, aos microfones do Rádio Clube Português, um comunicado do MFA, no qual se dá conta dos objectivos e posições controlados e do ultimato para a rendição de Marcelo Caetano.

 

 

O 25 de Abril foi vivido por quem não era português, por quem sendo-o não estava no País, por quem ainda não tinha nascido… Vamos ter várias perspectivas desse tipo, pois temos colaboradores que não são portugueses. Raúl Iturra, Professor catedrádico de Antropologia, nasceu no Chile, viveu como preso político a realidade da queda de Allende e veio para Portugal. Ao cabo de tantos anos, foi-lhe concedida a dupla nacionalidade – no seu depoimento compara o socialismo chileno assassinado em 11 de Setembro de 1973 com a promessa de socialismo que o 25 de Abril de 1974 trouxe para Portugal. 

 

Um ano de diferença entre estes acontecimentos. Allende redistribuía riqueza entre os desamparados da fortuna, até ao dia de 1973 em que as forças armadas do Chile cercaram o representante da soberania da nação, levando ao seu suicídio para evitar uma guerra civil. Uma cruel ditadura nascia. Os militares portugueses, sete meses depois, cercavam a soberania ilegítima do ditador para a restituir ao povo.

 

No Chile, mortes e perseguições e assassinatos.

 

Em Portugal, liberdade, alegria e cravos vermelhos.

 

Enquanto o galo chileno perecia, o português cantava com um dobrar de sinos de alegria. John Donne escreveu um dia: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

 

 

Foi assim no Portugal da monarquia, de Primeira República, e no da ditadura até começarem a dobrar os sinos da liberdade. Não era assim no Chile independente, libertado duas centenas de anos antes da coroa espanhola. Era assim no Portugal da ditadura que perseguia e matava, passou a ser assim no Chile da ditadura que perseguiu e matou os não apoiantes de Pinochet. Os sinos dobravam com alegria quando Salvador Allende foi eleito Presidente da República, uma decisão do povo soberano para colocar na cadeira presidencial um marxista materialista histórico. Que logo começou a redistribuir a riqueza, confiscando as fortunas dos poucos e entrega-la aos muitos sistematicamente perseguidos pela exploração do capital.

 

 

Em Portugal o Estado Novo fenecia, no Chile um novo tipo de estado, nascia. Os senhores do mundo que moram no norte do continente americano, não aceitaram esse novo estado, como também não aceitaram a queda do Estado Novo de Portugal. Os senhores do mundo, após desfazer o novo estado do Chile, foram transferidos para Portugal por ordem do prémio Nobel da Paz, Kissinger. O povo e os militares portugueses não aceitaram essa intervenção, nada ouviu e soube resolver os seus problemas como eles entendiam, com majestade e soberania militar e popular. Como o Chile, dezanove anos depois das perseguições, quando o socialismo livre tornou a ser votado nas urnas. Mas os sinos tornam a dobrar pela troika portuguesa e pelo governo do ministro das finanças do ditador chileno. Entre altos e baixos económicos de Portugal, com altos do Chile governado pelos financistas, os sinos tornam a dobrar… no Portugal com um 25 de Abril parado e um Chile que persegue os nativos e o proletariado. O ditador português caiu de sua cadeira e a liberdade começou. O do Chile, faleceu réu de crimes que clamam expiação…

 

 

 

 

 

 

 

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