“Os 75 anos do bombardeamento de Guernica“
Neste 26 abril de 2012 ocorrem os 75 anos do bombardeamento de Guernica pela poderosa aviação nazista de Hitler, presente na Guerra Civil que devastava a Espanha ao lado das forças fascistas de Franco. Aquele 26 de abril de 1937 ficou na história pela violência sem fim que a Luftwaffe hitlerista usou contra a indefesa cidadezinha basca, destruindo-a quase completamente e assassinando centenas e centenas de vidas inocentes. A avassaladora blitz da aviação nazista servia aos alemães, sequazes de Hitler, como avant-première de quanto vinha sendo planejado em Berlim para chegar à catastofre mundial que começaria daí a dois anos, com a invasão da Polônia. As forças hitlerianas e as tropas fascistas de Mussolini dão o maior apôio à ação anti-democrática da Falange franquista e se servem de uma tal oportunidade para alardear aos remanescentes democratas italianos e alemães quão poderosas eram as capacidades de seus líderes nacionais. Em meio às tantas ações que fizeram dos anos da Revolução espanhola um claro pré-anúncio do que logo em seguida viveria toda a Europa e, de imediato, todo o mundo, o bombardeamento de Guernica ficou para sempre na nossa sensibilidade como um icone absurdo.
Neste mesmo 1937 o icone se universalizou diante dos olhos do mundo, assim ficando também para as gerações futuras, quando Picasso revestiu o pavilhão espanhol no Salão Internacional de Paris daquele ano com uma das suas obras-primas, Guernica, grito de repulsão contra a violência e os atos de anti-humanidade. O grande painel se desenvolve com vigorosos cromatismos derivados do preto e do branco como uma desesperada denúncia. Fechado no recinto de um só ambiente, o preto-e-branco picassiano mostra o espaço coberto de despojos, verdadeiros fragmentos da consciência, dos quais se eleva o touro, simbolo da violência e da brutalidade absolutas. A obra-prima picassiana – hoje no Museu “Reína Sofia“, de Madrid – além de comover todos os contemporâneos de sua apresentação, condiciona toda a obra do autor até 1945, e somente depois de passada a catástrofe mundial essa pintura retorna aos tons mais diversificados que a caracterizaram sempre.X Para comemorar os 75 anos da tragédia de Guernica, a cidade basca apresentará a partir de 12 de abril um vasto programa artístico relacionado com o evento.
Tal programa parte com a apresentação de uma série de filmes proibidos pela ditadura franquista, com um grande desfile de representantes do “cinema d’essai”: 1) “O dia da Vingança”, protagonizado por Gregory Peck, direção de Fred Zinemmeman; 2) “Roma, cidade aberta”, de Roberto Rosselini; 3) “Chuva preta”, direção de Umamura< 4) “Harpa birmana”, de Ichikawa; 5) “Germania ano zero”, de Rosselini; 6) “A Cruz de ferro”, de Sam Peckinpah; 7) “Veredas de Glória”, direção de Stanley Kubrick. No dia 26 de abril as comemorações de Guernica hospedarão igualmente 3 peças cinematográfica de Alain Resnais: “Resnais/Guernica 37” e um Documento, dividido em em dois momentos de testemunhos de contemporâneos do histórico evento.
Ao lado de tais manifestações, as comemorações de Guernica se alargam a uma grande mostra internacional, apresentada inicialmente em Bilbao, passando em seguida por Guernica, e concluindo-se em San Sebastián. Para esta mostra, organizada pelo artista e crítico italiano Massimiliano Tonelli, participarão igualmente artistas venezianos. Artistas componentes do “Atelier Aperto”, da associação “Venezia Viva”, esses apresentarão obras especialmente preparadas para a oportunidade. Essas obras devem basear-se exclusivamente sobre o bombardeamento de Guernica, sem referências e citações do inimitável painel de Picasso. Na oportunidade estarão presentes os venezianos: Milo Bianca, Giussi Naletto, Gita Kohls, Liliana Conti Cammarata e Willy Pontin.