MIGUEL PORTAS – última entrevista

Independentemente da posição política que tenhamos, a morte de Miguel Portas não nos pode deixar indiferentes. Infelizmente, pessoas como ele escasseiam na nossa classe política e cada vez menos há quem encare a política como uma maneira de servir a comunidade a que se pertence. Para além dos elogios de circunstância que sempre se fazem quando alguém morre e das manifestações de pesar vindas do interior de Bloco de Esquerda, pudemos ouvir testemunhos como os de Vital Moreira, eurodeputado, eleito pelo PS, de Ilda Figueiredo ex-eurodeputada pelo PCP ou do eurodeputado do CDS, Diogo Feio, ou ainda do ex-presidente da República, Mário Soares – o seu empenhamento, a sua frontalidade, a generosidade com que se entregava à defesa das suas convicções, de todos, correligionários ou adversários, mereceu elogios. Aqui deixamos nossa singela homenagem a Miguel Portas, recordando a sua última entrevista.

 

4 Comments

  1. Era 1973. Miguel Portas entrava en prisão. Eu também. Países diferentes, distâncias longínquas. Animador cultural, a PIDE não perdoava. Em 1970 o meu amigo Salvador Allende corria pela quarta vez para a Presidência do Chile. O meu chefe e amigo da minha britânica universidade, antigo combatente pela República Espanhola com George Orwell e Maurice Dobb, queria saber como era o socialismo votado em liberdade. Como era o marxismo materialista histórico votado e ganho nas urnas. Disse-me para ir a ver. Parti, mais uma vez, ao Chile. Voltei no dia em que o meu Catedrático mandou a Embaixada Britânica tomar conta de mim. Esse ano Miguel Portas entendeu o seu destino, animador político e não cultural. Esse ano entendi, no campo de concetyração, como Presidente do MAPU, que a ciência não era todo. Esse ano Miguel Portas percebeu que animar era juntar cristãos e mouros num partido opositor, que cairia no ano a seguir em que o meu Presidente caiu. Era o 11 de Setembro de 1973. Era o 25 de Abril de 1974. Miguel Portas entendeu como animar aos opositores do falido estado novo. Eu entendi o que era o exílio de 50 anos. Miguel Portas nasceu luso. Eu fui feito luso. Miguel Portas sabia da Economia para gerir uma nação e foi eurodeputado incrementando a sua votação de 1.4 a 10%. As balas que matam atingiram o seu pulmão. As balas que matam no me atingiram, os solados rebeldes dispararam ao ar. Parte da tortura que Miguel Portas viveu aos 15 anos, eu, aos 30. Miguel Portas me ensinou sem saber. Fez do PSR, o Bloco. Francisco Louçã, amigo pessoal, íntimo de Miguel Portas, tem uma tarefa em frente. Como tive eu ao visitar Portugal por um mês, faz 37 anos. Dia de meditação. Miguel Portas, PSR e BLOCO. Eu, MAPU e PSP. A amiga Violeta Parra cantava graças a vida, que me dera tanto. Eu canto graças a Miguel, que nos dera tanto. É a minha meditação do domingo. Se ele diz, calemos e pensemos na liberdade. Na coragem, a calma, a serenidade de Miguel Portas. Como a do meu Presidente Allende. Obrigado aos dois.Raúl Iturra

  2. Era a seguir a este comentário que eu queria falar do Miguel Portas. Paciência, mas a minha intenção era homenagear o Miguel, que passei a seguir com mais atenção depois do colóquio de que falo no comentário.

  3. Escrevi este texto que o meu amigo e editor Carlos Loures, teve a gentileza de escrever como comentário de um texto que não se vê , por ter sido escrito no ultimo minuto antes de uma velório que a minha saúde no me permitira assistir. Estive a pensar desde o 24 de Abril, as nossas semelhanças nas lutas politicas. Miguel Portas era um homem calmo e alegre, levou ao PSR como Bloco de Esquerda ao centro de Europa. As palavra rituais foram já todas ditas. A sua vida pessoal foi respeitada. Pareceu-me existir tantas semelhanças nas nossas vidas, que no derradeiro minuto escrevi um texto comparativo. A Miguel Portas não nos deixa mais pobres, como comentava Durão Barroso, por ter fundado uma escola de como se faz politica e o que a politica é: a arte da paciência e da luta para restaurar as nossas diferenças no campo do debate, sem ofender ninguém, dar ânimo aos que lutam e confrontar a vida com a serenidade e alegria que ele soube ter. De animador cultural a animador de democracia, deixou um legado que a classe política portuguesa deverá aprender sem desentendimentos , mas com debate baseado em factos analisados antes com o seu saber da economia teórica e nacional. Miguel Portas faz falta, o Bloco deve manter a sua herança de solidariedade , a debater sem atacar. ÀS nossas vidas são semelhantes , no podia calar. Carlos Loures assim o entendeu e, num cantinho do nosso blogue dos argonautas, inicio uma viagem com o meu texto, o que agradeço profundamente. Miguel Portas têm-se reecarnado , como dizem os Mapuche do Chile pelos que eu meu bato, na classe política lusa. Saiba o Bloco tomar conta do legado de Miguel Portas. Raúl Iturra

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